Espiritismo — doutrina renovadora. Codificada por Allan Kardec, sob a égide do Senhor, teve os seus princípios e medianeiros experimentados no laboratório, examinados no gabinete e discutidos na praça pública.
É impossível efetuar-lhe o inventário de preciosas realizações em vinte lustros de atividade.
Revelou pela demonstração positiva a sobrevivência do ser além da morte.
Fez-se o pálio de imarcescíveis consolações para a humanidade.
Descerrou as realidades da reencarnação, trazendo sentido novo às questões do destino.
Abriu novos horizontes à glória do Espírito.
Baseou a fraternidade nos alicerces da razão pura.
E reconstruiu o santuário da fé viva que o dogmatismo religioso havia transformado em deserto.
Entretanto não será lícito arrear-lhe o lábaro augusto com atitudes exteriores.
É imperioso que, à feição de seus vexilários humildes, nos arregimentemos para a obra da luz e do amor, abraçando não apenas os nossos compromissos no culto tradicional.
É indispensável a movimentação de nossos valores para que a sua influência divina se estenda a todos os que nos cercam.
A lavoura do coração e do cérebro reclama esforço ingente. Caridade por disciplina. Educação por dever. Virtude e conhecimento. Benemerência e instrução.
Sem dúvida, achamo-nos muito longe do amor que brilha na auréola dos santos e do fulgor intelectual que ornamenta a fronte dos sábios.
Contudo é preciso começar a sublimação como quem começa a existência.
Diz-nos o Senhor na bênção da Escritura: — “Misericórdia quero e não sacrifício” (Os
E o Espírito da Verdade, na Codificação de Kardec, afirma convincente: — “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensino. Instrui-vos, eis o segundo” ().
Urge, assim, que a nossa beneficência não se expresse tão-só na doação daquele supérfluo de que nos desvencilhamos com enfado, e que a nossa cultura doutrinária não se limite a mera repetição de fórmulas verbalistas.
Erguer orfanatos, sim, com vistas à infância que o abandono injuria, mas chamar ao calor da própria alma a criança infeliz do lar subnutrido que viceja, mirrado, ao pé de nosso jardim doméstico.
Edificar, indiscutivelmente, sanatórios e retiros para a saúde e refazimento do enfermo que padece na via pública, no entanto não desprezar o doente que, em sua pobreza oculta, sofre em silêncio a prova que regenera.
Materializar, decididamente, institutos e escolas que formem, com valor, na extinção da treva, todavia ofertar a lâmpada do alfabeto ou o socorro de um livro nobre ao companheiro que viaja na sombra da ignorância ou do desespero.
Todos somos calcetas à frente da justiça divina. Todos, porém, detemos valiosos recursos para ajudar no apostolado da libertação uns dos outros.
O auxílio que ninguém pede é a chave milagrosa do auxílio de que todos necessitamos.
Multipliquemos os nossos potenciais de trabalho renovador, retirando-nos de nós mesmos ao encontro do irmão que passa.
Embora sejamos almas detidas nas grades da Lei, para justas reparações, ainda assim é possível fazer muito.
Jesus, o Senhor, veio da magnificência divina, buscando, com discrição e bondade, as chagas de nossa imensa miséria para leni-las com bálsamo salutar.
Reconfortou-nos e instruiu-nos, tolerou-nos e curou-nos, sem condenar a incompreensão com que lhe preparamos a cruz.
De posse, hoje, dos tesouros eternos do Espiritismo, saibamos, desse modo, esposar como nosso dever puro e simples o culto da assistência fraterna e o serviço da educação.
Reformador — Janeiro de 1958.
Nota de Reformador: “Essa frase, em Mateus
Segundo consta do original, a mensagem foi recebida em 17/11/1957. Não há referência de local.