Cartas do Coração

Capítulo XLVI

Ouve, irmão!



Para aclarar-te a senda

Morre o óleo sem mágoa,

Na lâmpada que empunhas

Para servir-te a mesa

Sofre o vaso

As injúrias do forno;

Para fazer-te o pão

A semente, em renúncia,

Desce à cova sombria.

Para acalmar-te a sede

Corre a fonte

Sobre o leito empedrado…


E houve Alguém que, por ti

E em favor de nós todos,

Sendo Anjo Divino,

Imolou-se na cruz

Para doar-nos paz

Sobre a vida abundante!


Que sofremos, irmão?

Que bênçãos derramamos,

Nós que tanto devemos

Ao Céu e à Humanidade?

Que trabalho abraçamos

Por acender mais luz

E espalhar mais consolo?


Pára, medita e segue!…


A sábia natureza

Reclama, em toda parte,

O doce entendimento.

Repara a flor aberta,

A estrela branda e calma

E escuta a árvore humilde

A desfazer-se em dons

De socorro e carinho…

E deixa que por ti

Fale a bênção de Deus

Que nos fez para a glória

De subir e brilhar

Na alegria sem fim

De servir e de amar…