Cartas do Coração

Capítulo LVIII

A pétala



Se a maldade te fere, cruel, não guardes a pretensão de removê-la imediatamente do caminho. A pregação inoportuna de virtudes, ainda potenciais, em tua alma poderia provocar nova desesperação contra ti.

Não te precipites. Lança no espírito do teu irmão a pétala sutil da renúncia que sabe calar e espera…

Se a dureza do próximo te magoa, contundente, não admitas a possibilidade de desintegrar a tonelada de pedra, simplesmente ao preço de tuas palavras apressadas em louvor às bênçãos divinas que ainda não aclimataste de todo no próprio espírito, porque a tua indignação mal conduzida talvez te multiplique os problemas inquietantes da estrada.

Não te revoltes. Lança no entendimento do companheiro a pétala delicada do perdão e espera…

Se a maledicência te busca, perturbadora, não creias seja possível transformá-la em verbo santo, simplesmente porque te faças inopinado veículo de protestos quase sempre inúteis de teu incipiente amor às coisas sagradas, porquanto, a tua manifestação intempestiva provavelmente envenenará o pensamento do amigo em teu desfavor.

Não reproves. Lança, na alma do teu interlocutor, a pétala da bondade oculta, numa frase pequenina de solidariedade verdadeiramente humana, e espera…

Não desejes construir, de uma vez, a fortaleza de tua santificação ou o castelo de tua felicidade.

Eleva-se a casa, tijolo a tijolo.

O século conhece a importância de cada dia.

Semeia as pétalas da fraternidade e da paz em teus minutos mais insignificantes e a vida te responderá, com a graça do tempo, coroando-te nos cimos do mundo, com a glória da sabedoria e do amor no teu próprio engrandecimento.