Num belo apólogo, conta Rabindranath Tagore que um lavrador, a caminho de casa, com a colheita do dia, notou que, em sentido contrário, vinha suntuosa carruagem, revestida de estrelas. Contemplando-a, fascinado, viu-a estacar, junto dele, e, semiestarrecido, reconheceu a presença do Senhor do Mundo, que saiu dela e estendeu-lhe a mão a pedir-lhe esmolas…
— O quê? — refletiu, espantado — o Senhor da Vida a rogar-me auxílio, a mim, que nunca passei de mísero escravo, na aspereza do solo?
Conquanto excitado e mudo, mergulhou a mão no alforje de trigo que trazia e entregou ao Divino Pedinte apenas um grão da preciosa carga.
O Senhor agradeceu e partiu.
Quando, porém, o pobre homem do campo tornou a si do próprio assombro, observou que doce claridade, vinha do alforje poeirento… O grânulo de trigo, do qual fizera sua dádiva, tornara à sacola, transformado em pepita de ouro luminescente…
Deslumbrado, gritou:
— Louco que fui!… Porque não dei tudo o que tenho ao Soberano da Vida?
Na atualidade da Terra, quando o materialismo compromete edificações veneráveis da fé, no caminho dos homens, sabemos que o Cristo pede cooperação para a sementeira do Evangelho Redivivo que a Doutrina Espírita veicula. E, entregando este livro humilde à circulação das ideias renovadoras — trabalho despretensioso que não chega a valer um grão de trigo da verdade —, imagino nestas cartas e crônicas, que passo às mãos do leitor amigo, um punhado de acendalhas para o lume da Nova Revelação, e repito, reverente, ante a bondade do Eterno Amigo:
— Ah! Senhor!… Compreendo a significação de teus apelos e a grandeza de tua munificência, mas perdoa ao pequenino servo que sou, se nada mais tenho de mim para te dar!…
Uberaba, 18 de Abril de 1966.