(JOÃO
Conforme vemos pelo trecho acima, Jesus apresenta-se nesta alegoria em suas relações íntimas com os discípulos e com aquele que o enviou a este mundo. Compara-se à vide, sendo o Pai o viticultor, e os apóstolos, os sarmentos.
A videira com as respectivas varas encarnam, pois, a Igreja viva do Cristo em sua unidade perfeita. Sua missão, como a da vide, é produzir frutos. Abstraindo-nos da frutificação, tanto a vide como a igreja nada representam. A finalidade de uma e de outra está nos frutos. Estes, na vide, pendem dos sarmentos, porém, os sarmentos, de si mesmos, nada produzem, de vez que sua fertilidade decorre de certo elemento vital fornecido pela cepa que, a seu turno, absorve-o do seio da terra através das suas raízes ali mergulhadas.
A seiva, portanto, que é a vida da videira como o sangue é a vida do corpo animal, prefigura o poder vivificante que o Cristo de Deus transmite aos que, em verdade, se dispõem a seguir-lhe as luminosas pegadas.
A prova, por conseguinte, de que estamos com Ele, de que realmente somos varas integradas na vide, verificar-se-á nos frutos que produzamos. Frutos de espiritualidade, de abnegação e renúncia, de bondade e de justiça.
O sarmento destacado da cepa destaca-se também dos demais, porque é na videira que eles encontram o ponto de mútuo contato.
O homem nada é, considerado isoladamente. Ele é parte do todo. Quanto mais identificado com a unidade, tanto mais produzirá. O isolacionismo é uma das formas mais funestas do egoísmo. A ideologia das ditaduras, expressa na fórmula — cada nação deve bastar-se a si própria —, é uma quimera perigosa e estúpida, pois, isolando os povos, acoroçoa entre eles o sentimento de supremacia, fermento gerador de rivalidades que culminam nas guerras sanguinolentas e cruéis como essa que ora acaba de lançar a Humanidade na ruína e no caos.
Deus é fonte eterna da vida em todas as suas modalidades de energia e de produção. Jesus é o seu Ungido para estabelecer o liame entre o céu e a terra, o Espírito e a matéria, o humano e o divino. Tal é o sentido destes dizeres: Eu sou a videira, vós sois as varas, e meu Pai é o viticultor. Nesse entrosamento está o Alfa e o Ômega.
O homem isolado da comunidade é vara destacada da vide: esteriliza-se e seca. Esta assertiva é uma realidade tanto no que respeita ao indivíduo como no que concerne às nações. Se a política isolacionista, outrora vigente na América do Norte, não mantivesse por tanto tempo os Estados Unidos separados das demais nações, ter-se-ia evitado a conflagração atual que acabou por submergir o planeta num mar de sangue, de lágrimas e de angústia.
Oxalá os responsáveis pelos destinos desta Humanidade aproveitem a lição, ganhando a paz, depois de terem ganho a guerra.
As varas estéreis, diz a parábola, serão cortadas e lançadas ao fogo, o que vale dizer que os elementos insanos, obstinados no mal, ficarão entregues a si próprios, ardendo no fogo do remorso originado dos delitos cometidos.
As varas produtivas serão limpas, isto é, se desvencilharão, através de experiências e provas, de todos os laivos de impureza, a fim de que produzam mais abundantemente.
Conforme vemos, existe, de fato, perfeita analogia entre a videira e a Igreja viva do Cordeiro de Deus. Apenas uma diferença formal as distingue: diferença essa que convém acentuar, de vez que encerra grande ensinamento: a vida tem suas raízes entranhadas no seio da terra de onde aure a seiva que transmite aos sarmentos. A Igreja do Cristo tem suas raízes voltadas para cima, mergulhadas nas esferas celestiais, fonte inexaurível de vida espiritual que vai absorvendo e transfundindo naqueles que a ela se acham incorporados.