Na Seara do Mestre

CAPÍTULO 17

A vide e os sarmentos



Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o viticultor. Toda vara em mim que não dá fruto, Ele a corta; e a vara que dá fruto, Ele a limpa para que dê mais abundante. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como a vara não pode dar fruto de si mesma, se não permanecer na videira, assim nem vós o podeis dar se não permanecerdes em mim. Aquele que permanece em mim e no qual eu permaneço, dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, é lançado fora como a vara, e seca-se; semelhantes varas são ajuntadas, lançadas no fogo, e elas ardem.

(JOÃO 15:1-6.)

Conforme vemos pelo trecho acima, Jesus apresenta-se nesta alegoria em suas relações íntimas com os discípulos e com aquele que o enviou a este mundo. Compara-se à vide, sendo o Pai o viticultor, e os apóstolos, os sarmentos.

A videira com as respectivas varas encarnam, pois, a Igreja viva do Cristo em sua unidade perfeita. Sua missão, como a da vide, é produzir frutos. Abstraindo-nos da frutificação, tanto a vide como a igreja nada representam. A finalidade de uma e de outra está nos frutos. Estes, na vide, pendem dos sarmentos, porém, os sarmentos, de si mesmos, nada produzem, de vez que sua fertilidade decorre de certo elemento vital fornecido pela cepa que, a seu turno, absorve-o do seio da terra através das suas raízes ali mergulhadas.

A seiva, portanto, que é a vida da videira como o sangue é a vida do corpo animal, prefigura o poder vivificante que o Cristo de Deus transmite aos que, em verdade, se dispõem a seguir-lhe as luminosas pegadas.

A prova, por conseguinte, de que estamos com Ele, de que realmente somos varas integradas na vide, verificar-se-á nos frutos que produzamos. Frutos de espiritualidade, de abnegação e renúncia, de bondade e de justiça.

O sarmento destacado da cepa destaca-se também dos demais, porque é na videira que eles encontram o ponto de mútuo contato.


Outro tanto sucede com aqueles que se divorciam do Cristo: quebram a unidade da Igreja, separando-se dos seus irmãos. É em Cristo Jesus, em sua escola e em seus preceitos éticos que se há de consumar, um dia, a união entre os homens. Ele é o centro de convergência, é a força aglutinadora que congraçará a Humanidade, destruindo as causas de separação que, até aqui, a têm mantido desunida e desagregada. "Quando eu for levantado, atrairei todos a mim. "

O homem nada é, considerado isoladamente. Ele é parte do todo. Quanto mais identificado com a unidade, tanto mais produzirá. O isolacionismo é uma das formas mais funestas do egoísmo. A ideologia das ditaduras, expressa na fórmula — cada nação deve bastar-se a si própria —, é uma quimera perigosa e estúpida, pois, isolando os povos, acoroçoa entre eles o sentimento de supremacia, fermento gerador de rivalidades que culminam nas guerras sanguinolentas e cruéis como essa que ora acaba de lançar a Humanidade na ruína e no caos.

Deus é fonte eterna da vida em todas as suas modalidades de energia e de produção. Jesus é o seu Ungido para estabelecer o liame entre o céu e a terra, o Espírito e a matéria, o humano e o divino. Tal é o sentido destes dizeres: Eu sou a videira, vós sois as varas, e meu Pai é o viticultor. Nesse entrosamento está o Alfa e o Ômega.

O homem isolado da comunidade é vara destacada da vide: esteriliza-se e seca. Esta assertiva é uma realidade tanto no que respeita ao indivíduo como no que concerne às nações. Se a política isolacionista, outrora vigente na América do Norte, não mantivesse por tanto tempo os Estados Unidos separados das demais nações, ter-se-ia evitado a conflagração atual que acabou por submergir o planeta num mar de sangue, de lágrimas e de angústia.

Oxalá os responsáveis pelos destinos desta Humanidade aproveitem a lição, ganhando a paz, depois de terem ganho a guerra.

As varas estéreis, diz a parábola, serão cortadas e lançadas ao fogo, o que vale dizer que os elementos insanos, obstinados no mal, ficarão entregues a si próprios, ardendo no fogo do remorso originado dos delitos cometidos.

As varas produtivas serão limpas, isto é, se desvencilharão, através de experiências e provas, de todos os laivos de impureza, a fim de que produzam mais abundantemente.

Conforme vemos, existe, de fato, perfeita analogia entre a videira e a Igreja viva do Cordeiro de Deus. Apenas uma diferença formal as distingue: diferença essa que convém acentuar, de vez que encerra grande ensinamento: a vida tem suas raízes entranhadas no seio da terra de onde aure a seiva que transmite aos sarmentos. A Igreja do Cristo tem suas raízes voltadas para cima, mergulhadas nas esferas celestiais, fonte inexaurível de vida espiritual que vai absorvendo e transfundindo naqueles que a ela se acham incorporados.