Na Seara do Mestre

CAPÍTULO 23

Corpo terrestre e corpo celeste



Nem toda carne é uma mesma carne, mas uma, certamente, é a dos homens e outra a dos animais, uma a das aves e outra a dos peixes. E corpos há celestes e corpos há terrestres, mas uma é, por certo, a glória dos celestes e outra a dos terrestres.

PAULO (I CORÍNTIOS 15:39-40.)

O erudito Apóstolo das gentes, instruindo os membros da igreja de Corinto acerca da imortalidade, reporta-se, pelos dizeres acima, aos variadíssimos aspectos em que a matéria se desdobra, assumindo, como indumento do Espírito, estruturas apropriadas ao meio que lhe serve de campo de ação.

Assim, pois, como o Espírito age mediante o corpo físico quando encarnado, continuará agindo após a desencarnação através do corpo astral, fluídico, ou celeste, como o denomina Paulo. Trata-se do elemento intermediário entre o corpo físico e o Espírito, tal como foi revelado a Kardec, sob a denominação de perispírito. Esta vestidura permanece acompanhando os seres em sua trajetória evolutiva, passando, a seu turno, por transformações de conformidade com aquelas que se vão operando nos mesmos seres que a revestem. Por isso, essa veste estabelece e fixa automaticamente a ambiência própria às várias categorias de Espíritos, consoante 9 o estado em que se encontram. Não há, pois, necessidade de barreiras que delimitem a zona em que devem permanecer.

A separação entre bons e maus decorre naturalmente da natureza dos seus respectivos perispíritos. Cada um leva consigo o seu céu ou seu inferno, "o umbral" ou o lar celeste, onde permanecerá agindo e lutando, aprendendo e progredindo.

Além dessa função, o corpo celeste presta-se a outra de subida importância, que é registrar em sua maravilhosa tessitura todas as impressões, experiências, emoções e conhecimentos adquiridos pelo Espírito, tornando-se, assim, o repositório vivo que o acompanha sempre, tanto nos períodos de encarnação como nos de erraticidade.

Destarte, aclara-se a velha e debatida questão do subconsciente, a propósito da qual tantas teorias esdrúxulas têm sido expendidas, tornando o assunto cada vez menos inteligível e mais confuso.

Levamos conosco o nosso bem e o nosso mal, os nossos erros e os nossos acertos, os elementos de paz ou de atribulação, de alegria ou de sofrimento, de acordo com os atos que praticamos, cujas consequências se refletirão sobre nós, não importa onde nem quando, sendo, porém, fatal, como expressão que é da soberana e indefectível justiça imanente.

E assim verificamos como é bela e fascinante a verdade em sua simpleza, desacompanhada dos artifícios e das lantejoulas que a desnaturam, empalidecendo seu esplendor e refulgência.

Bendita, pois, seja a Revelação, fonte inexaurível de luz que espanca as trevas da ignorância dos simples e humildes, deixando que se debatam na escuridão os que trazem enfunadas as velas da vaidade e da presunção.