Assim como era a Terra no princípio, assim é hoje, espiritualmente, a sua sociedade, em que pese à presunção dos super-homens que a dirigem e orientam. As trevas envolvem a mente e os corações. No seio da Humanidade verifica-se a predominância daqueles dois traços que assinalaram os tempos primitivos; tudo é vão e vazio.
Os magnos problemas sociais são ventilados através dos séculos e dos milênios. Sobre cada um deles avoluma-se uma avalancha de teorias e opiniões eivadas do personalismo dos seus respectivos autores. Muito se discute e muito se controverte. Nada obstante, os referidos problemas continuam insolúveis. A enfermidade e a dor, sob seus multiformes aspectos, continuam a todos flagelando. A miséria, o vício e o crime se alastram e se multiplicam como vivo protesto à decantada civilização hodierna. A guerra cruenta, impiedosa e bárbara prossegue seu curso, como outrora, na sua faina devastadora, espalhando a morte e a desolação por quase toda a face do planeta. O direito brutal da força predomina sobre a força serena do direito. A materialidade reinante abafa o surto de espiritualismo onde quer que ele ouse levantar o seu brado de protesto ou de alarme. As trevas cobrem a face do abismo!
Urge que, de novo, o Divino Verbo profira a excelsa sentença através dos arautos celestes. Fiat lux! Sim, faça-se a luz, no íntimo das almas que habitam o orbe terráqueo.
Somente mediante tal acontecimento se logrará reformar o mundo, substituindo-se os usos e costumes selvagens pelos hábitos e maneiras consentâneas com os precípuos postulados da verdadeira civilização. As providências tomadas fora deste programa não passam de paliativos e remendos, com resultados muito relativos. Não será, jamais, com "Fly-tox" que se extinguirão os mosquitos, mas sim com medidas higiênicas de saneamento do solo onde aqueles insetos encontram meio propício à sua proliferação. Enquanto as trevas cobrirem a face do abismo, a Terra continuará sendo o teatro de lutas fratricidas, ambiência propícia à eclosão do crime e do vício, da miséria e da enfermidade. Os homens têm curado de tudo que concerne à matéria, relegando o Espírito para plano secundário. Vestiram o corpo de púrpura e de linho finíssimo, deixando a alma esfarrapada, seminua, coberta de andrajos e molambos. Escolas que moralizem e instruam, educando o coração e o cérebro da nossa infância e da nossa juventude — eis a grande, a maior de todas as necessidades reclamadas pelo momento que atravessamos.
Fiat luxl Dissipem-se as trevas que cobrem a face do abismo em que a materialidade do século precipitou o nosso orbe. Tudo o mais nos será dado de graça e por acréscimo.