Quem busca na paz do campo Os bens da contemplação, Costuma encontrar; por vezes, As surpresas da erosão. Dos acumes da paisagem, Eis que a visão descortina Horizontes luminosos Na vastidão peregrina! Em torno rebentam flores Nas folhagens perfumosas, Entre as árvores e os ninhos Sopram brisas buliçosas. Misturando-se, à verdura, Há caminhos de enxurrada, Formando abismos escuros Na terra dilacerada. Em derredor, tudo é glória Do campo verde e florido; Céu de anil, promessa e luz, Mas o solo está ferido. Somente à custa de esforço, De luta excessiva e estranha, É possível reparar As úlceras da montanha. É um quadro que faz lembrar As almas de grande altura, Que, embora a ciência e o brilho, Têm abismos de amargura. São montes iluminados De sonho e conhecimento, Mas, degradados, por vezes, Nos planos do pensamento. Recebem, da luz de Deus, Dons sublimes e infinitos, Mas se deixam avassalar De enxurradas e detritos. Quem guarde na intimidade Tais feridas de erosão, É que vive sem defesa Nos campos do coração. |