Sobre a árvore frondosa Que mostra calma infinita, Abraçada ao tronco forte Lá se vai o parasita. Não atinge o cerne, a seiva, Mas, buscando a copa, as flores, Enrodilha-se, teimoso, Nas cascas exteriores. Agarrado tenazmente, Vai subindo vagaroso, Alcançando o cume verde Do arbusto generoso. Aboletado nos cimos Do castelo de verdura, O cipó audacioso Aparenta grande altura. Deita flores opulentas De expressão parasitária, Avassalando a nobreza Da árvore centenária. Recebe os beijos do Sol, Embala-se na ternura Da carícia perfumosa, Da brisa mais alta e pura. Mas, vem o dia em que o Pai Na lei de renovação, Chama o tronco nobre e velho. As bênçãos da mutação. É aí que o cipó vaidoso Demonstra o que não parece, Voltando ao pó do chão duro, Para as zonas que merece. Quanta gente brilha ao alto, E, no fundo, inspira dó? Há milhões de criaturas Vivendo como o cipó. Jamais olvides a lei De trabalho e obrigação, Não queiras mostrar-te ao alto À custa do teu irmão. |