Cartilha da Natureza

Capítulo LXXIV

A poda



Quando é necessária ao campo

Produção forte e fiel,

Não se pode prescindir

Da poda quase cruel.


É dolorosa a tarefa

Que se comete ao podão,

Não só nos tempos de inverno,

Como em tempo de verão.


No pomar esperançoso,

Na vinha feita em verdura,

Há, dores indefiníveis

Que nascem da podadura.


Velhos ramos opulentos,

Dilacerados ao corte,

Despenham-se amargurados,

Vencidos de angústia e morte.


Esforça-se a podadeira

No galho que cede a custo,

E as frondes carinhosas

Parecem tremer de susto.


Muita vez, toda a folhagem

Sucumbe, desaparece,

Nobres hastes mutiladas

Dão mostras de mãos em prece.


Mas, depois, findo o tormento,

Passada a grande agonia,

Vem a luz da primavera

Nas colheitas de alegria.


Tudo é festa de beleza,

Abundância, fruto e flor,

Devendo-se tudo à bênção

Da poda que trouxe a dor.


Necessita-se igualmente,

No campo das criaturas,

Das podas em tempo calmo,

Em tempos de desventuras.


Nas fainas da luta humana,

O sofrimento é o podão:

Não te furtes à grandeza

Das leis de renovação.