Geralmente, em toda parte, No ângulo mais sombrio Dos recantos desprezados, Vem a aranha e tece o fio. Escura, silenciosa, Atendendo ao próprio instinto, Seja dia, seja noite, Vai fazendo o labirinto. Por manter o enorme enredo, Insiste e nunca esmorece, Condenar-se por si mesma É seu único interesse. Desdobrando movimentos Nos impulsos insensatos, Pratica perseguições, Multiplica assassinatos. Insetos despreocupados, Na ilusão cariciosa, Transformam-se em prisioneiros Da pequena criminosa. Satisfeita, a aranha escura Prossegue na horrenda lida, Nos venenos que segrega Traz a morte e suga a vida. Mas um dia, o espanador, Na luta material, Vem e arranca essa infeliz Das teias de horror do mal. A aranha, porém, não cede, Com teimosia e com arte, Foge ao bem que se lhe fez, E vai tecer noutra parte. Quem medita na conduta Dessa aranha renitente, Encontra a cópia fiel Da vida de muita gente. A muitos presos do engano, Deus envia a dor e as provas; Mas, depois de libertados, Vão prender-se em redes novas. |