Cartilha da Natureza

Capítulo LXXXII

A caçarola



Dos serviços da cozinha,

Onde há sempre grande escola,

Lembremos o ensinamento

Da obscura caçarola.


Ao receber substância

Indispensável à mesa,

Requisita vigilância

No que concerne à limpeza.


Utilizada em serviço,

Embora pobre e singela,

Pede todos os desvelos

Das mãos que se servem dela.


Por limpá-la, muitas vezes

É justa a grande atenção;

Largos banhos d’água pura,

Doses fortes de sabão.


Se não bastam tais processos,

Um esforço mais ativo:

Recursos d’água fervente

Misturada a corrosivo.


De outra forma é descuidar

Da pureza do alimento,

Entregar o pão do corpo

Ao lixo e ao relaxamento.


A erva mais saborosa,

O leite nevado e puro,

Na panela descuidada

São coisas para o monturo.


Caçarola maltratada,

Sem o concurso do asseio,

Faz o pão envenenado,

Escuro, amargoso e feio.


Vendo o quadro, não te esqueças

Que os nobres ensinamentos

São substâncias que nutrem

A fonte dos pensamentos.


Receber lições divinas

Sem limpar o coração,

É transformar dons de vida

Em sombras de confusão.