Cartilha da Natureza

Capítulo XCII

A lâmpada



Em casa, a lâmpada acesa,

Singela e despercebida,

Constitui lição patente

Das mais nobres que há na vida.


Contra a noite escura e espessa,

Que se espalha e reproduz,

Envolve-se de energia,

Resplandece e traz a luz.


Seu trabalho é grande e simples,

Difundindo o sol do bem.

Não discute, não pergunta,

Dá sempre, não olha a quem.


Ilumina o gabinete

De pesquisa ou de leitura,

Como aclara a agulha humilde

Da máquina, de costura.


Envolve com a mesma luz

A velhice, a enfermidade,

A infância, a alegria, a dor,

E os sonhos da mocidade.


Há tumultos, há prazeres?

Amarguras, agonia?

Se não sofre violência,

Eis que a lâmpada irradia.


Serena, silenciosa,

Não se aflige, não consulta,

Nada pede, além da força

Que lhe vem da usina oculta.


Revela todo detalhe,

Sem contendas, sem perigo.

A sua demonstração

É o foco que traz consigo.


Não exige condições

Por servir e iluminar,

E define seu ruído

Cada coisa em seu lugar.


Pensemos em nossa glória

Quando formos, irmãos meus,

Como lâmpadas do Cristo

Na usina do amor de Deus.