Cartilha da Natureza

Capítulo XCIII

O luar



Nas bênçãos de paz da noite,

Talvez a maior beleza

Seja o luar que se espalha

Na vida da Natureza.


O campo dorme em silêncio,

E o luar na estrada em flor

Distribui com toda a planta

O orvalho confortador.


Do céu alto manda as brisas

Alegres e perfumadas

Beijar as folhas mais pobres,

Tristonhas e abandonadas.


Por todo o lugar desdobra

Sua luz aberta em palmas,

Afagando as esperanças

Do divino amor das almas.


Em toda parte onde exista

O anseio de um coração,

Ensina o carinho amigo

Do alfabeto da afeição.


Desde os tempos mais remotos,

O luar, pelas estradas,

Foi tido como o padrinho

Das almas enamoradas.


Ao nosso ver, todavia,

Nas grandes lições do mundo,

Sua imagem representa

Simbolismo mais profundo.


Sua luz mantém na noite

A mais nobre das disputas,

Não cedendo à treva espessa

As posses absolutas.


Entre os homens deste mundo,

O mal, o crime e o ateísmo

Tudo ensombram provocando

A noite de um grande abismo.


Mas a esperança resiste

E acende na noite imensa

A luz clara e generosa

Do eterno luar da crença.