Cartilha da Natureza

Capítulo XXIV

O barro e o oleiro



É um exemplo de bondade

O esforço nobre do oleiro,

Cuja grande atividade

Tem a base no lameiro.


Muitos sentem aversão

Por sua tarefa hostil,

Dedicada, dia e noite,

Ao barro nojento e vil.


Seu trabalho é quadro rude

Que a lama invade e não poupa,

É barro, por toda a parte

No rosto, nas mãos, na roupa.


Seu serviço é tão ingrato

Junto à massa indefinível,

Que a tarefa mais parece

Um sofrimento invencível.


Mas todo barro mais pobre,

Ao toque do seu amor,

Fornece os vasos divinos

De formosura e valor.


Quanto mais tempo e trabalho,

Mais triunfa, mais se ufana…

E vemos a lama escura

Transformada em porcelana.


Além dessas joias raras

De sublimes expressões,

É o oleiro quem dá corpo

As vossas habitações.


O tijolo faz a casa,

A telha cobre a mansão,

O homem ganha o seu lar

Que é templo do coração.


Nas estradas de miséria,

Não mais éramos que lama,

E eis que o Mestre no Evangelho

Nos esclarece e nos chama.


O Cristo é o Divino Oleiro

Que opera com perfeição;

Somos nós o barro vil,

Guardado na sua mão.