Cartilha da Natureza

Capítulo LXIII

O vento



Quando passes no caminho,

Dando luz ao pensamento,

Não deixes de meditar

Na doce missão do vento.


Quem lhe imprimiu tanta força?

Donde vem? de que maneira?

Parece o sopro do céu

Alentando a sementeira.


Une as frondes amorosas,

Acaricia a ramagem,

É um fluido caricioso

Amenizando a paisagem.


É o mensageiro bondoso

Da alegria e da abundância,

Trocando os germens da vida,

Vencendo a noite e a distância.


De outras vezes é um amigo

Com fraternas exigências,

Que pratica nos caminhos

Profundas experiências.


Se a flor é infiel à seiva

Que lhe deu força e guarida,

O vento condu-la ao chão,

Só deixando a flor da vida.


Seu papel na Natureza

Vai da vida, à seleção,

Permutando os germens puros

Das sementes de eleição.


Também, na vida da Terra,

A função do sofrimento

Parece identificar-se

Com os fins da missão do vento.


Troca ele as nossas almas,

Mata as flores da ilusão,

Refunde os nossos valores

Em nova fecundação.


O turbilhão de amargores

É mais vida envolta em véus,

Povoando a nossa estrada

Com os germens da luz dos Céus.