Por benfeitor venerável, No seio da Natureza, Rola o rio caudaloso Escondendo a profundeza. Enquanto busca reserva, Guardando seu próprio leito, Ninguém se arrisca à passagem Sem cuidado e sem respeito. O rio jamais se nega A ceder na travessia, Mas todos se acercam dele Com a máxima cortesia. Socorrem-se os viajantes Do auxílio de embarcação, E espera-se a ponte amiga Como justa construção. Mas, se um dia, por descuido, O rio apresenta o vau, Ai dele! o destino agora É triste, amargoso e mau. Ninguém lhe receia as águas Noutro tempo respeitadas; Invadem-nas cavaleiros, Carros, toras e boiadas. As correntes que eram puras, E amadas por justa fama, Rolam sujas e insultadas De lodo, de lixo e lama. A ponte dorme em projeto E o rio, embora a beleza, Depois que exibiu o vau, Nunca mais teve defesa. As nossas almas também São como o rio profundo… A zona de intimidade Precisa ocultar-se ao mundo. O mal quer turvar-nos sempre. Vigia, resiste e vence-o. Se queres respeito e paz; Não te esqueças do silêncio. |