Experimento, agora, o mesmo júbilo — necessário que se acrescente — e idêntica emoção quando redigi o modesto “Bilhete Saudação ao mais que Pai, Herói e Exemplo”, destinado ao Joaquim Veloso de Matos: Uma vida, um exemplo, de Airton Veloso de Matos, datado de 21 de outubro de 1990, exatamente por não poder me subtrair a alguns lances autobiográficos, os quais, de resto, servem, no meu caso pessoal, apenas para ocupar espaço que poderia ser preenchido por algo de substancial importância do ponto de vista espiritual.
E vejo-me obrigado a lançar mão de semelhante método, porque todas as mensagens que Marival Veloso de Matos, amigo e irmão de outros evos, enfeixou neste livro foram datilografadas por mim, na velha Olivetti do inesquecível Sr. Joaquim Veloso de Matos, minutos depois de psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Monte Carmelo, Minas Gerais, onde tive a felicidade de nascer e trabalhar, de domingo a domingo, inclusive na condição de lenhador, até os meus dezenove anos de idade, ocasião em que me transferi para Uberaba, por benemerência do educador Mário Palmério (1916-1997), ilustre conterrâneo, futuro autor de Vila dos Confins, e ocupante da cadeira de João Guimarães Rosa (1908-1977), na Academia Brasileira de Letras, praticamente um lustro antes da mudança definitiva de Chico Xavier para a terra de Major Eustáquio. Datilografava as referidas páginas mediúnicas, e me encantava com todas elas, principalmente com as de Emmanuel, que se constituem em verdadeiras teses doutrinárias — “Culto da Assistência”, subdividida em quatro itens, a saber: 1 — Jesus e Assistência; 2 — Assistência como Dever; 3 — Espiritismo e Assistência; 4 — Apelo Fraterno e “Culto do Estudo”, com os seguintes itens: 1 — Jesus e Estudo; 2 — Estudo como Dever; 3 — Espiritismo e Estudo; 4 — Apelo Fraterno.
Marival e eu nos lembramos da alegria que experimentou o médium tão querido de todos nós ao concluir a leitura, em voz alta, perante a multidão que se comprimia nas dependências do Centro Espírita Humildade, Amor e Luz, multidão esta provinda de diversas cidades da vasta região do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba chegando ele, o médium do Parnaso de Além-Túmulo, a afirmar, de modo enfático:
— Meu Deus, que beleza! É a primeira vez que o nosso Emmanuel transmite uma mensagem como esta, em tópicos! Ela, com efeito, dá o que pensar!
Com outras palavras, mas denotando o esfuziante entusiasmo que externalizou após a leitura de “Culto da Assistência”, o médium amigo se referiu à segunda, também psicografada no mesmo Centro Espírita, que tantos benefícios tem prestado aos carmelitanos, desde a década de trinta do século XX. Na ocasião, Marival, também exteriorizando a sua alegria e o bom senso de que é detentor, ponderou:
— Estas mensagens precisam, com urgência, ser enfeixadas num só livro, a fim de que, no futuro, nenhum irmão venha a desmembrar os itens de cada uma, o que as desfiguraria de modo que nem é bom imaginar.
Por ter sido procrastinada a organização da presente obra, por quase meio século, isto acabou acontecendo, naturalmente, tudo leva a crer, com a melhor das intenções de quem tomou essa iniciativa. Em boa hora, porém, aqui aparecem ambas as mensagens reunidas, na íntegra, para gáudio de toda a família espírita de fala portuguesa, com a devida licença de todas as Editoras que tenham, anteriormente, dado à luz da publicidade algumas delas.
Casimiro Cunha (1880-1914), brilhante poeta fluminense, que já nos brindara com as suas admiráveis quadras em redondilha maior, desde o Parnaso de Além-Túmulo, passando por Cartilha da Natureza e Gotas de Luz, mimoseou-nos, na noite de 25 de julho de 1956, no Centro Espírita Luz e Caridade, que teve início na residência do Sr. Aparício Vilela, fundado a 14 de fevereiro de 1943, passando, em 1950, a funcionar num cômodo alugado pelo Sr. Orcalino de Oliveira e o Sr. Manoel Ferreira de Almeida, somente construindo a sua sede própria, poucos anos depois, ainda na mesma década, praticamente defronte do rústico e centenário casarão onde nasceu o autor destes apontamentos. A 26 de julho de 1956, com o belo poema “Humildade, Amor e Luz”, presta Casimiro Cunha homenagem ao primeiro Centro Espírita fundado, em Monte Carmelo, a 15 de dezembro de 1937, tendo, respectivamente, como Presidente e Vice-Presidente os Srs. Elias Augusto de Moraes, desencarnado a 5 de dezembro de 1945, e Jorge Fernandes, que retornou à Espiritualidade, no dia 15 de setembro de 1959, conforme rigorosa pesquisa feita por Airton Veloso de Matos e publicada em sua História do Espiritismo em Monte Carmelo, e na presente obra, esclarecendo que, a rigor, o Espiritismo teve início em Monte Carmelo, em 1934, e só oficialmente se tornando entidade jurídica, no Cartório de Registro de Pessoas Físicas e Jurídicas, exatamente três anos depois. Nesta mesma Casa Espírita, o Centro Espírita Humildade, Amor e Luz, volta o ilustre poeta, espírita confesso, que teve a prova da cegueira quando de sua última romagem pela Terra, com os poemas, sempre em versos setissílabos, “Quadras de Ano Novo”, psicografado na noite de 26 de dezembro de 1956, e “Sublime Trilogia”, transmitido a 22 de dezembro de 1958, conclamando-nos a viver num clima de luz, humildade e amor puro.
Ao final da reunião de 22 de dezembro de 1956, Chico Xavier recebeu “Mensagem”, belíssima página do patrono espiritual do Centro Espírita Humildade, Amor e Luz, Padre Victor, assinando Francisco de Paula Victor. Segundo o Dr. Hércio Marcos Cintra Arantes (Francisco Cândido Xavier, Espíritos Diversos, Hércio Marcos C. Arantes, Estamos no Além, Araras, SP, IDE, 1983, págs. 177-179), o Cônego Francisco de Paula Victor (1827-1
905) “é considerado o santo de Três Pontas”, com expressiva foto de uma herma na praça daquela progressista cidade do Sul de Minas, que traz o seu nome, figura veneranda reverenciada por todos e co-autor espiritual do livro Praça da Amizade, psicografado por Chico Xavier, e lançado em São Paulo, em 1982.
Na noite de Natal do mesmo ano — 1956 —, e na mesma Casa Espírita, comparece à instrumentalidade mediúnica de nosso Chico, o Espírito de Amaral Ornellas (1885-1923), com o admirável soneto “Jesus”, vazado em lapidares versos alexandrinos, como antes o fizera no Parnaso de Além-Túmulo, e veio a fazê-lo em outras obras, posteriormente, dentre outras, a Antologia dos 1mortais, esta psicografada em parceria com o médium Waldo Vieira, nosso grande amigo e conterrâneo que, de 1956 a 1959, acompanhou o médium de Emmanuel em suas viagens a Monte Carmelo, secundado pelo Sr. Lázaro Nunes Gonçalves e tantos outros amigos uberabenses.
Em 26 de dezembro de 1957, comparece novamente Emmanuel, pelo médium que tanto amamos e admiramos, no Centro Espírita Humildade, Amor e Luz, com a mensagem intitulada “Entre Dois Séculos”, na qual o nosso Benfeitor Espiritual cita respeitáveis nomes, dentre outros, William Crookes, Camille Flammarion, Charles Richet e Ernesto Bozzano, numa demonstração insofismável da importância de “a Humanidade ter codificado a nossa Doutrina de Redenção com Allan Kardec”.
O mesmo Autor Espiritual de Paulo e Estêvão, ao final da reunião pública do primeiro Centro Espírita fundado em Monte Carmelo, transmitiu a mensagem “Doença e Remédio”, chamando-nos a atenção para “a conduta da Misericórdia Divina no quadro das doenças terrestres” e o quanto precisamos usar, a cada hora, a compaixão sem termo e o perdão sem limites, a exemplo de Jesus, nosso Divino Mestre.
Na memorável noite de 25 de dezembro de 1959, retorna Emmanuel com “Oração”, verdadeiro poema em prosa, página esta psicografada no Centro Espírita. Joana d’Arc, ao ensejo da inauguração de sua sede própria, cuja primeira Diretoria teve por Presidente, o Sr. Valdivino Martins de Lima e Vice-Presidente, o Sr. José Alves da Silva, depois que os “Pensamentos do Natal”, psicografados logo em seguida, fizessem com que aquela data natalina ficasse indelevelmente gravada em nossos corações, “Pensamentos” estes assinados pelos seguintes Espíritos de prosadores e poetas: João Carvalho; Casimiro Cunha; João de Deus; Bezerra de Menezes; Arlindo Costa; Eurípedes; Amaral Ornellas; Irene S. Pinto; Jésus Gonçalves e Emmanuel.
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Indispensável se faz esclarecer que além das observações feitas pelo Organizador deste livro — Marival Veloso de Matos, ilustre advogado residente em Belo Horizonte, e membro da Diretoria da União Espírita Mineira, em várias gestões —, traz sucintas notas de Earle de Oliveira, também pertencente à Casa que por tantos anos esteve sob a profícua Presidência de D. Maria Philomena Aluotto Berutto, tendo como Vice-Presidente o grande escritor espírita, José Martins Peralva Sobrinho, sendo o seu atual Presidente o abnegado Dr. Pedro Valente da Cunha; Joaquim Veloso Filho, respeitado consultor em Ciências Contábeis, residente em Monte Carmelo, bem como Eurídice Veloso de Matos, Professora licenciada; Eurípedes Veloso de Matos, operoso atual Presidente da Fundação Espírita Francisco de Assis, e Airton Veloso de Matos, o lúcido historiador, ambos residentes em Goiânia, GO, onde este último, com brilhantismo, exerce o magistério.
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O eminente Organizador desta obra faz referência aos pães de queijo servidos a todos que acompanhavam o médium Chico Xavier à casa de quem subscreve estas linhas, mas não podemos nos esquecer de que era ali, no rústico e centenário sobrado, que o referido medianeiro, horas e horas, recebia as orientações espirituais solicitadas durante as sessões públicas de Espiritismo Cristão, enquanto Waldo Vieira, o Dr. José Barroso, então Promotor Público da Comarca de Monte Carmelo, já desencarnado, e quem grafa estes apontamentos à guisa de exórdio, liam as obras de Allan Kardec, recebendo orientações de Emmanuel, quando um dos componentes da reduzida equipe de sustentação alimentasse qualquer dúvida. Memoráveis aqueles instantes, inclusive os que desfrutávamos na residência de D. Aristina Rocha, e de sua irmã Opala Pinto, ambas desencarnadas, respectivamente, a 21 de fevereiro de 1967 e 3 de dezembro de 1988, trabalhando esta, em diversas ocasiões, como excelente médium psicógrafa, ao lado da jovem Vandir Justino da Costa, também psicógrafa de largos recursos, que mais tarde viria a se consorciar com o grande amigo e tarefeiro de lides espíritas, em Campinas, SP, Dr. Carlos Adalberto de Carvalho Dias, e veio a desencarnar a 17 de outubro de 1987, depois de desempenhar a sua admirável missão que ensejou ao povo campineiro conferir-lhe o justo e indefectível título de .
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Para concluir, paciente leitor; estas simples observações de quem teve a felicidade de privar com Chico Xavier e com todos os seus amigos de Uberaba e de Monte Carmelo, no período que vai de 1956 a 1959, tomo a liberdade de transcrever famoso poema de S. João da Cruz (1542-1591), Doutor da Igreja, no início de “Subida de Monte Carmelo”, com explicação da gravura, o primeiro esboço do “Monte Carmelo”, feito pelo próprio Doutor Místico, que se encontra arquivado na Biblioteca Nacional de Madrid (manuscrito 6296), de suas Obras Completas (Carmelo de S. José — Fátima, Edições “Carmelo” — Aveiro, Trad. do P. Silvério de Santa Teresa, Coimbra, 4ª Edição, s.d.), a fim de que possamos valorizar a diferença com que os Espíritos escrevem através do médium amigo, Francisco Cândido Xavier, e a clareza da qual todos os amigos espirituais se servem para consolar-nos na grande jornada de lutas redentoras, em nossa abençoada trajetória evolutiva, rumo à Perfeição.
Eis o referido poema, que contém a essência do que se encontra na resposta à e nos e de O Evangelho Segundo o Espiritismo, duas obras-primas do Pentateuco Kardequiano:
Para vir a gostar tudo, Não queiras ter gosto em nada. Para vir a saber tudo, Não queiras saber algo em nada. Para vir a possuir tudo, Não queiras possuir algo em nada. Para vir ao que não gostas, Hás-de ir por onde não gostas. Para vir ao que não sabes, Hás-de ir por onde não sabes. Para vir a possuir o que não possuis, Hás-de ir por onde não possuis. Para vir ao que não és, Hás-de ir por onde não és. Quando reparas em algo, Deixas de arrojar-te ao todo. Para vir de todo ao todo, Hás-de deixar-te de todo em tudo. E quando venhas de todo a ter, Hás-de tê-lo sem nada querer. |
Nesta desnudez acha o espírito o seu descanso porque não cobiçando nada, Nada o afadiga para cima e nada o oprime para baixo porque está no centro da sua humildade. |
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Isto posto, peço permissão para homenagear os seguintes pioneiros do Espiritismo em Monte Carmelo, dentre tantos mais, além dos citados acima: Srs. Coriolano Naves Cardoso, Pedro Januário de Oliveira, Prof. Manoel da Motta Bastos, Jorge Fernandes Filho, Alípio Delfino dos Santos 5ital Rosa Pinto, Josino Nery, Leonardo di Nápoli Filho, Dr. João Modesto França, D. Olímpia da Mata Veloso, D. Alzária Pinto de Oliveira França e D. Cândida Maria de Jesus. E resta-nos apenas agradecer a Deus, nosso Pai, a Jesus, nosso Mestre, e aos Benfeitores da Vida Maior por nos terem permitido que o tão estimado médium Chico Xavier, com galhardia, empreendesse a subida no Monte Carmelo, já que ele, com efeito, vive no centro da sua humildade, encorajando-nos a também galgarmos aos páramos de Luz, enfrentando todos os percalços do caminho, com fé, determinação e coragem, todos estribados nos ensinos de Allan Kardec, para que mais e mais nos esforcemos por seguir os passos de nosso único Modelo e Guia, o Cristo de Deus.
Uberaba, 18 de abril de 2002.
“Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; preso e fostes ver-me.” (Mt
Nos idos de 1960, quando ensaiávamos alguns passos (que, diga-se de passagem, ainda continuam a desejar) rumo à solidariedade humana, de certa feita, dentro de uma casa de crédito, hoje extinta, ao repassarmos uma lista em favor de determinada pessoa necessitada, depois de sermos devidamente autorizados, fomos obstados por um amigo — nas cidades pequenas todo mundo conhece todo mundo que nos critica aberta e energicamente, argumentando que nós, os espíritas, temos a mania de querer ganhar o céu através de esmolas. Surpresos, passamos a analisar o imenso equívoco do amigo.
Primeiro: O grande apóstolo Paulo nos fala de uma caridade tão sublime que ainda estamos longe de vivenciá-la (1co
Deste modo, um pão, uma moeda, um cobertor, não são nossos. Por isto, não poderão ser contabilizados na Chancela Divina, em nosso favor como benevolência, no máximo como beneficência.
E esta extraordinária mensagem emanuelina, roteiro seguro para a assistência fraterna, vem demonstrar o que aqui registramos e chamar a nossa atenção para a verdadeira e legítima doação: A do coração, junto à dádiva que reconforta.
“Meus bens amados, são chegados os tempos em que, explicados, os erros se tornarão verdades. Ensinar-vos-emos o sentido exato das parábolas e vos mostraremos a forte correlação que existe entre o que foi e o que é. Digo-vos, em verdade: a manifestação espírita avulta no horizonte, e aqui está o seu enviado, que vai resplandecer como o Sol no cume dos Montes. (João Evangelista. Paris - 1863. — Ed. FEB)
Nas mensagens anteriores, deparamo-nos com a sensível preocupação do mentor espiritual do médium, que com estas duas mensagens — Culto da Assistência e Culto do Estudo — para nós duas verdadeiras “Leis Orgânicas, porque tratam-se de ensinamentos em itens entrelaçados, referindo-se a dois assuntos basilares.
A primeira propõe normas a respeito da Assistência Fraterna. A segunda versa sobre o Estudo.
Emmanuel demonstra, uma vez mais, a sublime sintonia com o Espírito de Verdade: No Capítulo VI de o “Evangelho Segundo o Espiritismo” — —, em mensagem intitulada Advento do espírito de Verdade, tem como término a recomendação: “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento; Instruí-vos, eis o segundo.
Assim, CULTO DA ASSISTÊNCIA e CULTO DO ESTUDO obedecem a esta ordem.