Chico Xavier Inédito

Do pó dos arquivos



Este título define exatamente o conteúdo deste livro de Chico Xavier. Fomos remexer no pó de vários arquivos para localizar mensagens psicografadas por ele e que jaziam quase sepultas em jornais e revistas das décadas de 1930 a 1950; em opúsculos vetustos, muito utilizados no passado para divulgação doutrinária; e em comunicações particulares ou dirigidas especificamente a trabalhadores de Casas Espíritas, já antigas nas décadas citadas.

Trata-se de um trabalho de garimpagem permanente que vimos realizando, em que utilizamos muito o acervo que reunimos ao longo dos anos, por isso não deve ser considerado um simples trabalho de compilação de mensagens, mas uma pesquisa que foi sendo realizada persistentemente, durante muito tempo, recolhendo nas gavetas de despejo de Centros Espíritas cinquentenários, ou até centenários, papéis, documentos, opúsculos “inservíveis” para as novas gerações, despreocupadas com a memória do Espiritismo.

Também serviu como fonte de pesquisa a Hemeroteca espírita, que vimos formando durante a tarefa que realizamos para a preservação de uma história do Espiritismo e que inclui preciosidades como a coleção quase completa da Revista Reformador e cerca de 60% dos jornais espíritas que circularam no século XIX, entre outras publicações.

Sendo assíduos frequentadores da casa e dos Centros em que trabalhou Chico Xavier, em Uberaba, desde a década de 1970, quando ainda prestava atendimento na Comunhão Espírita Cristã, é natural que, além da amizade formada com o médium mineiro, afeiçoássemo-nos à sua obra e, com o espírito de pesquisadores nos correndo pelas veias, tornássemo-nos estudiosos e pesquisadores dessa obra. Isso nos levou a ir colecionando ao longo dos anos centenas de reportagens, de escritos, de opúsculos, de fotografias, etc., sobre nosso ícone do Espiritismo mundial, que agora estamos trazendo à divulgação em livros da série “Chico Xavier”.

Especificamente neste Chico Xavier Inédito, estamos publicando em livro inúmeras mensagens que nunca constaram da obra bibliográfica de Chico e que foram psicografadas entre 1933 e 1954. Longe de estarem desatualizadas, elas são atemporais, porque os ensinamentos trazidos pelos Espíritos mentores são perenes e alguns portam conceitos de rara beleza e sabedoria e que não poderiam permanecer desconhecidos das gerações atuais e futuras e, como já nos referimos, sepultos no pó dos arquivos.

À excepcional obra bibliográfica de Chico Xavier, formada por quase 500 livros psicografados, cerca de trinta milhões de exemplares vendidos em vários idiomas, mais de uma centena de obras biográficas de vários autores falando de sua vida missionária e milhares de páginas escritas sobre si na imprensa, estamos acrescentando mais este volume, sem qualquer tipo de pretensão senão o de contribuir para que um pouquinho mais do rastro de Luz que ele deixou com sua passagem pela Terra também possa ser colocada acima do alqueire.

Por ser um trabalho de resgate de antigas comunicações psicográficas inéditas de Francisco Cândido Xavier, é natural que cada uma delas tenha sua história, refira-se a um determinado episódio, viagem do Chico ou acontecimento espírita de alguma importância, por isso acrescentamos comentários e desenvolvemos o assunto de muitas delas, tendo a preocupação de ilustrar os capítulos também com fotos antigas do movimento espírita, igualmente históricas e a maioria nunca publicadas e, portanto, desconhecidas da geração atual.

Por fim, gostaríamos de chamar a atenção dos pesquisadores para que atentassem aos grandes tesouros que permanecem escondidos nas páginas do Reformador, de A Centelha e outros órgãos da imprensa espírita, mas que pedem aos mais pacientes que os descubram. Tome-se, por exemplo, o capítulo “Romaria das Graças”, que descreve a primeira viagem de Chico para o Rio de Janeiro/RJ. Apesar da linguagem castiça de seu autor (não citado), imprópria para o jornalismo atual e, cremos, da época também, é de um valor histórico incalculável e nunca citado nas biografias do médium que já tivemos contato. É o caso das comunicações inéditas de Eurípedes Barsanulfo, de Bezerra de Menezes, e de outros Espíritos luminares que precisavam ser imortalizadas por meio do livro, enriquecendo a bibliografia mediúnica de Chico Xavier. []





Chico Xavier e Maria Máximo



A experiência humana é o caminho da ação pela qual somos compelidos a passar se pretendemos acesso à Vida Superior.

Ismênia de Jesus/Chico Xavier

()


Chico Xavier iniciou sua carreira mediúnica para o grande público em 1932 com o lançamento da obra Parnaso de Além-Túmulo, trazendo a psicografia de grandes poetas brasileiros e portugueses como Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, João de Deus, Antero de Quental, Castro Alves, Rodrigues de Abreu e outros. “explodiu” com sua mediunidade por volta de 1937. Logo que começou a tomar consciência de sua missão mediúnica e iniciou suas tarefas espirituais, Maria Máximo começou, no fim da década de 1930, a cartear com o médium mineiro e logo se formou sólida amizade.

Em setembro de 1940, Maria Máximo fez uma visita a Chico Xavier na cidade de Pedro Leopoldo (MG), onde o médium residia, para conhecê-lo.

Naquela aprazível cidade, Maria Máximo participou de vários trabalhos no Centro Espírita Luiz Gonzaga e recebeu inúmeras mensagens dos Espíritos através de Chico. Conseguimos resgatar algumas, duas delas de Emmanuel, de incentivo aos trabalhadores do , fundado pela médium. Todas são inéditas em livro e estavam amarelecidas e adormecidas em alguma gaveta da Instituição. Vale a pena tomarmos contato com as comunicações.


Um estímulo de Emmanuel

Meus amigos.

Deus vos conceda sua bênção e sua paz.

Vossa união para o bom trabalho com Jesus não se verificou com um acontecimento eventual. O compromisso do esforço em comum, nas luzes do Evangelho, vem de muito longe. No pretérito espiritual, onde as almas edificam as bases das mais elevadas realizações.

A vida terrestre passa com o império das más ilusões. A experiência varre os enganos da juventude, e quando as flores da fé se abrem ao sol das meditações, o Espírito recorda os seus altos e abençoados deveres.

A claridade da crença vos reuniu os corações para a construção ditosa do Reino de Deus, com os labores de Jesus Cristo.

Uni-vos cada vez mais.

Protegei, no mundo íntimo, as flores da fraternidade contra o assédio das víboras da discórdia. O mundo está cheio de ervas daninhas que alimentam a sombra, e só o clima da humildade evangélica e solidariedade sadia pode oferecer ambiente à obra de Deus.

Enlaçai-vos na mesma vibração de fé e nunca esqueçais a doce recomendação da tolerância.

Ainda e sempre, em toda a comunidade cristã, o maior para Jesus será sempre aquele coração devotado e sincero que se fizer o menor de todos. (Mc 9:35)

Nas hesitações, buscai a força do Evangelho, nas dores, procurai a fraternidade legítima, no assédio das tentações, perdoai-vos uns aos outros. Não vos faltará o amparo espiritual dos mais desvelados amigos das Esferas da luz.

E, assim, amparando-vos reciprocamente, haveis de atravessar o oceano das provas executando as sábias determinações do Plano superior a vosso respeito, resgatando o pretérito obscuro e fundindo todos os sentimentos humanos que vos animam o coração em sentimentos divinos, os quais são transformados por Deus na auréola da vitória que fulge na fronte dos escolhidos.



(Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier em Pedro Leopoldo/MG, em 5 de setembro de 1940)


Hino da Casa dos Pobres

Neste templo da bondade,

Onde a luz da caridade,

Adoça todo amargor,

Jesus nos estende os braços,

Da terna luz dos espaços

Nas suas bênçãos de amor.


Nesta casa da bonança,

Onde palpita a esperança,

Das claridades do Além,

Toda ideia é da verdade

Todo esforço é da humildade,

Toda palavra é do bem.


Neste sacrário da vida

Toda dor, toda ferida

Encontra consolação!

A força que nos redime

É a do Evangelho sublime.

De verdade e redenção.


Nas lutas de cada dia,

Procuramos a alegria

De caminhar para a luz!

Cantemos na paz ditosa

A ventura luminosa

De trabalhar com Jesus.


João de Deus

(Psicografado por Francisco Cândido Xavier em Pedro Leopoldo/MG, em 5 de setembro de 1940)


Pão da Vida


Em 1943, Maria Máximo lança, em edição própria, a obra Pão da Vida com mensagens pelo Espírito do Dr. Aurélio Augusto de Azevedo (Pai Aurélio) que foi seu pai na presente encarnação.

O livro, cuja venda reverteu em beneficio da Maternal Ismênia de Jesus, traz comentários evangélicos e doutrinários espíritas.

Chico Xavier se fez presente no apoio à obra, participando com o Prefácio de Emmanuel e a poesia Ao leitor, psicografada por Casimiro Cunha, reverenciando Pai Aurélio. Na sequência, uma bela prece de autoria da própria Maria Máximo, em que faz referência à sua mediunidade e bendizendo as tarefas para as quais fora convocada.


Prefácio de Emmanuel

Minha Irmã,

Que as bênçãos de Jesus te felicitem o coração consagrado à Verdade e ao Bem.

Refaze tuas forças, multiplica energias, mantém aceso o fogo sagrado de tua confiança e continua servindo Àquele Mestre amoroso e sábio que nos dirige os destinos.

Não te doa o espinho da incompreensão ou a pedra da malícia no campo imenso da semeadura evangélica. Não poderíamos só seguir entre flores. Àquele que demandou a ressurreição, coroado de sofrimentos, nem poderíamos percorrer, por encontrá-Lo, outra senda que não seja a via-sagrada de supremas renunciações. A cruz do Senhor Jesus é símbolo morto. O discípulo fiel não se esquivará ao seu peso, porque o madeiro do testemunho individual é passaporte para a Redenção.

Na mediunidade, encontraste a cruz repleta de espinhos e de rosas, de sombras e de luzes, de alegrias e de padecimentos, que é indispensável não menosprezar. Quantas vezes há ouvido a observação injusta, a ironia dos que te não podem compreender? Não importa. Auxilia a todos, entende-lhes as necessidades, espera-os no caminho com a lâmpada fraternal e, seguindo o Senhor, com a tua cruz, faze com que os espinhos floresçam, que as sombras se dissipem na claridade divina, que os sofrimentos se transformem cada dia em hinos de esperança.

Acusam em torno de teus passos, caluniam em derredor de ti? Continua a marcha para frente. Cada homem colherá o que houver plantado, cada trabalhador viverá na edificação que construir. Quem ajunta sombras conhecerá o nevoeiro, quem carrega pedras lhe sentirá o peso na estrada, pois, se vivem esquecidos do próprio Pai, se lhe não entendem a obra divina, que possuirão por nos oferecer senão as sombras que lhes amortalham o coração? É preciso cuidar do trabalho de Jesus, renovando a nós mesmos, no vasto programa da redenção espiritual.

Não te perturbem os ecos do passado em outras expressões da existência, pois, não somente tu, minha irmã, e sim todos nós, somos endividados a quem o Senhor concedeu grande material de misericórdia e possibilidades, a fim de que não faltemos aos resgates justos. A prova e o trabalho constituem a nossa grande oportunidade. Louva sempre o Divino Amigo, que te conferiu a tarefa da distribuição de seus recursos amorosos junto aos que têm fome de pão do corpo e sede de Luz espiritual. Prossegue em teu serviço de irmã dos infortunados. Lembra que os escarnecedores são grandes desventurados nos caminhos terrestres. Planta as sementes da caridade para colheres os frutos de iluminação eterna e espalha a Luz de Cristo para que todos aprendam a semear.

Continua, pois, vigilante na fé e devotada ao bem, amando a todos e confiando, acima de tudo, no Senhor.



Nas verdades do Evangelho

Nestas páginas, amigo,

Tecidas no afeto irmão,

Há luzes silenciosas

Que falam ao coração.


Em todas, ouve-se a voz

Que exorta, consola e atrai,

São cartas do Mensageiro

Que convida ao Nosso Pai.


Estás cansado, oprimido,

Ao peso de tua cruz?

Vem buscar a força nova

Que alivia e reconduz.


Padeces? Perdeste o rumo

Em campos de sombras e espinho?

Encontrarás claridade

Para as lutas do caminho.


Enganaram-te? Medita,

Não olvides a bondade,

Terás, de novo, o roteiro

Dos tesouros da Verdade.


A calúnia visitou-te

E choras na incompreensão?

Vem buscar o lenitivo

Em bálsamos de perdão.


Suportas perseguições

Do mal criminoso e vário?

Descobrirás a esperança

Que brilhou sobre o Calvário.


Tens vivido ao desamparo,

Sem consolo, sem ninguém?

Receberás a harmonia,

A paz, o conforto, o bem.


Se o desejo da verdade

É a força que te governa,

Encontrarás nesta fonte

As águas da Vida Eterna.


Não mais sandálias de sombra,

Nem roupagens de ilusão,

Caminheiro deste mundo,

Atende ao teu coração.


Vem ouvir a voz amiga

Do grande trabalhador,

Que oferece o Pão da Vida

Em nome do Pai de Amor.


Na sede de nossas almas

Ouçamos o nobre Aurélio

O nosso irmão missionário

Das verdades do Evangelho.


Casimiro Cunha

(Versos recebidos pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo, em 14/3/1943).


Súplica


Senhor!

Eis-me aos vossos pés. Por vós eu fui criada, meu Pai, simples e ignorante. Deste-me, Senhor, para meu progresso, a lei do livre-arbítrio, mas, quando cheguei ao grau de raciocinar, não tive a felicidade de me sentir capaz de me encaminhar como devia e como me podia tornar feliz!

Quando meu espírito ainda se tornava despido, completamente nu, vesti-lhe as roupagens da vaidade, da ambição, da maledicência, do egoísmo, da inveja, calcando com os tacões do orgulho tudo que sob meus pés podia pôr. Cobri-me, Senhor, com a capa da ignorância e coloquei no peito o emblema do ciúme! Não habitou em mim a inveja, talvez por não encontrar lugar para alojar-se, e assim vivi anos e anos, até que, num dia de muito calor e frio ao mesmo tempo, despertei pela alternativa que me sacudiu, e senti-me agasalhada e refrescada pelo véu que vossa infinita misericórdia me deixou cair nos ombros, envolvendo-me toda para, por ela, essa capa bendita, despertar!

Era a mediunidade que me ofertava o vosso grande amor por mim, para que me salvasse e dela tivesse o proveito que me oferecia, libertando-me dos grilhões que me prendiam e cobriam ao mesmo tempo!

Despertei, Senhor!

Mas que luta em que tive de lançar-me comigo mesma para poder confeccionar as roupagens que tinha de substituir, todas as que já estavam podres de tanto serem usadas e cobrir minha carcaça ambulante e quase errante. Porém, um dia, Senhor, de olhos fitos em Vós, implorando-Vos a força bastante para arrancar de mim tudo quanto me dificultava os movimentos e as ações, vi raiar sobre mim o sol de vosso amor que, pelo calor, fez derreter e cair esses envoltórios nojentos e prejudiciais!

E, ao ver o meu espírito despido, curvei a cabeça, agradecendo-Vos, por me haverdes mandado que as arrancasse com vontade de me ver liberta; mas, embora o esforço fosse grande, Senhor, ainda me incomodam os movimentos e dificultam os passos os fragmentos que se enraizaram primeiro, dando-me a agitação dos que ainda não compreendem que a natureza não dá saltos! Mas eu Vos suplico, Pai, a força do Vosso amor, para que me torne calma, refletida, tolerante e humilde! Dai-me, Senhor, a paciência, a coragem e a resignação, para que não esmoreça, nunca, quando sou forçada a ver por mim própria, o que aos outros fiz passar. Que o ódio que me votam seja o meu amor; a ofensa que me dirijam, receba o meu perdão e que eu veja sempre, em tudo o que me faça sofrer, a Vossa infinita misericórdia, como prova da Vossa sabedoria infinita na justiça de Vossas sábias e imutáveis Leis tendo como redenção para os que erram a sublime lei de causa e efeito. Louvado sejais, Senhor, Pai e Juiz de todos nós, que a todos dais a possibilidade de até Vós podermos ir.

— Vossa filha,


Dedicado aos companheiros da Obra Cristã

Premida pelas dificuldades encontradas na sua obra de benemerência e de consolo espiritual, Maria Máximo escreve para Chico Xavier, e o Espírito Protetor de Maria Martins de Andrade envia-lhe a seguinte mensagem em 12 de novembro de 1944, que é impressa e entregue a todos os colaboradores do “” com o seguinte recado do Chico: Cara Irmã, ela escreveu as páginas me recomendando que lhe mandasse e dedica a todos os companheiros da Obra Cristã.


Irmãos muito amados:

Que as Bênçãos de Jesus nos felicitem, no trabalho do seu Evangelho de Redenção.

Edificado o templo das graças divinas, cumpre-nos distribuir a Divina Luz.

Quantos obstáculos vencidos nos caminhos ásperos, quantas nuvens de dor transformadas em chuvas torrenciais de misericórdia e alegria?

Convidou-nos, o Mestre, a exemplificar-lhe as lições sublimes.

Entre as pedras ingratas do mundo e, embora os espinhos da ignorância humana, Jesus ainda vem ao encontro de todos os sofredores e necessitados, iluminando trevas, consolando amarguras, enxugando lágrimas, vestindo a nudez, espalhando esperanças e renovando consciências.

É o Senhor, meus amigos, quem nos convoca ao serviço de Sua infinita bondade. Suas mãos generosas auxiliaram-nos na edificação deste novo templo de concórdia e luz espiritual. Seu braço forte dissipou a incerteza dos primeiros dias, guiou-nos o esforço sincero, trouxe-nos cooperação e alento, deu-nos segurança de fé e orientou-nos o ideal. E a sua casa de amor está erguida, com o celeiro farto de bênçãos.

Somos seus mordomos e servos, cooperadores e devedores. Que não fazer, portanto, pelo Amigo Eterno e Fiel?

Enquanto na esfera das lutas terrestres sobram discussões e dissensões, levantam-se as bandeiras do ódio, erguem-se muralhas do sectarismo e desabam tempestades do desespero, unir-nos-emos na mesma realização sagrada, exemplificando a fraternidade santa, arvorando o estandarte luminoso de paz, criando o novo entendimento entre os homens e restaurando as fontes do Infinito. Nosso templo de caridade cristã será a luz viva para os caminhos da eternidade, consolação aos aflitos, socorro aos desesperados da sorte, pão dos famintos, água viva aos sedentos da alma, lar dos órfãos, teto amigo dos enjeitados, asilo dos pobres sem rumo, estrela da esperança aos que vagueiam na noite da descrença, fortaleza aos fracos, abrigo aos desamparados, hospital aos doentes, ânimo aos tristes, roteiro aos transviados, salvação dos náufragos, bálsamo aos infelizes, amparo aos sofredores e oficina ativa para todos os servidores féis.

Grandes são as dádivas recebidas! Muito grandes, porém, são as nossas responsabilidades perante o Doador Universal. Façamos, pois, meus amigos, o nosso novo compromisso, diante do Senhor. Aliemo-nos no ministério do amor cristão, entregando ao Mestre os nossos votos de renúncia, de trabalho e de sacrifício.

Em Cristo, a renúncia ilumina, o trabalho redime e o sacrifício eleva.

A semeadura generosa permanece em nossas mãos. Plantemos a humildade e o bem, para que as luzes celestiais resplandeçam na Terra, através das lâmpadas de nossos corações.

Vigiemos contra as vermes da sombra e contra as serpentes da discórdia! Nossas almas iniciam agora um novo ciclo na suprema edificação para Deus.

Amemo-nos, profundamente, distribuindo a felicidade com os nossos semelhantes! Aprendamos com Jesus, estendendo-lhe as lições divinas no campo da humanidade.

Chama-nos o Mestre ao serviço santificante do amor e da iluminação. Bem-aventurados os corações que souberem responder ao chamamento sublime!

Transformemos nossos desejos numa só aspiração, consagremo-nos ao Senhor, executando-lhe a vontade justa e misericordiosa.

Estamos convosco, de alma genuflexa, com as lágrimas de nosso júbilo e reconhecimento endereçadas ao Pai Supremo.

Agradeçamos a Deus, trabalhando e amando, perdoando o mal e estimulando o bem, servindo a todos e elevando-nos constantemente.

Enquanto as nossas portas se abrem ao próximo, cheias de luz cristã, abraçamos nossos corações para Jesus.

Hospedemos o Mestre, dentro de nossas almas, convertamo-nos ao Seu Evangelho de renovação e, unidos com Ele, sejamos instrumentos fiéis de Sua divina vontade para sempre.






Mensagem de Eugênia Braga



“A ciência raciona; mas o amor edifica. O cérebro procede à verificação; mas somente o coração pode e sabe criar.” — Bezerra de Menezes ()


Juiz de Fora foi uma cidade que Chico Xavier visitou muitas vezes quando jovem. Seu movimento espírita sempre foi dinâmico e suas Semanas Espíritas muito concorridas. No ano de 1942, nas noites de 18 a 21 de maio, a Casa de Kardec, situada na Rua do Sampaio 425, teve o privilégio de recepcionar em sua sede o médium de Pedro Leopoldo que psicografou instrutivas mensagens dos Benfeitores Espirituais, algumas publicadas apenas em opúsculo distribuído em edição limitada. Foram os Espíritos comunicantes: Eugênia Braga, inédito em livro; Belmiro Braga (“”, publicado em edição revista do “Parnaso d’Além-Túmulo”); João de Deus (“”, publicado em “Coletânea do Além”; “”, publicado no “Parnaso” e em “Taça de Luz”); Venâncio Café, inédito em livro; Bezerra de Menezes, psicografado no C. E. “Dias da Cruz”, inédito em livro; e Pedro de Alcântara (“”, publicado no “Parnaso”).

É importante registrar-se aqui algumas palavras sobre Venâncio Café, conhecido como Padre Café em vida, figura de destaque na história de Juiz de Fora. Café nasceu em Guanhões/MG, em 1846, e ficou órfão nos primeiros anos de vida. Foi Deputado, Professor, Jornalista e só se tornou Padre em 1891, aos 45 anos de idade. Desencarnou jovem, aos 51 anos, mas todos se referem a ele como uma pessoa muito carismática e bondosa. Os católicos da cidade costumam dizer que seu carisma era tão grande “que ele até se tornou nome de Centro Espírita na cidade” ().

Para a mulher

Mensagem de Eugênia Braga

Minhas queridas amigas: Deus vos abençoe o esforço fraternal.

Na sagrada comunhão, aqui me encontro convosco nas tarefas diárias dentro dos círculos do bem.

O amor é o edifício que construímos na eternidade; e, através de seus laços divinos, nossos corações se reúnem mutuamente entrelaçados para a vida imortal.

Nunca poderia esquecer os elos sublimes que enlaçam as almas no trabalho sagrado e incessante.

A Casa Espírita, confiada ao coração da mulher espírita de Juiz de Fora, é a nossa tenda de realizações. Aqui, minhas irmãs muito amadas, temos o nosso grande lar: O misericordioso velhinho é o nosso anjo-guardião. E em cada detalhe podemos observar a atividade inesgotável de nossa colmeia.

Não sei como agradecer a Jesus pelas searas de luz e de paz que nos tem concedido, sob este teto de amor; e é em Seu nome que unimos nossos pensamentos aos vossos pensamentos na mesma ação de louvor; suplicando à Sua Bondade Infinita que nunca cesse o curso das bênçãos.

Nossa alma está igualmente genuflexa. O trabalhador fiel não olvida o reconhecimento do Senhor.

A vossa luta tem sido, às vezes, difícil e angustiosa. Em muitas ocasiões conhecestes de perto a incompreensão e a dor, a dificuldade e o sofrimento; porém, minhas amigas, sempre que nos recordarmos das rosas tomadas pelos espinhos, lembremos, antes, que os espinhos se conservam coroados de rosas. Se o serviço apresenta pormenores de execução laboriosa, nunca esqueçamos a grandeza e a ventura da realização espiritual.

Na dolorosa situação dos vossos tempos, observamos a mulher de modo geral, indiferente aos seus grandiosos deveres. As ilusões políticas, a concorrência profissional, os venenos filosóficos invadiram os lares. São poucas as companheiras fiéis que se mantêm nos seus postos de serviço, com Jesus, convictas da transitoriedade das posições mundanas. Quase sempre o que se verifica é justamente o naufrágio de luminosas esperanças que, a princípio, pareciam incorruptíveis e poderosas. Semelhantes fracassos são oriundos do esquecimento de que a nossa linha de frente, na batalha humana, é o lar, com todas as suas obrigações sacrificiais, compelindo as mães e as esposas, as filhas e as irmãs aos atos supremos da renunciação. Nosso Mestre é Jesus; nosso trabalho é a edificação para a vida eterna. É imprescindível não olvidar que os homens obedecerão, em todas as suas tarefas, ao imperativo do sentimento. Sem esse requisito, são muito raros os que triunfam. É necessário converter nosso potencial em fonte de auxílio. Nada se conseguirá no terreno das competições mesquinhas, mas, sim, na esfera da bondade e da cooperação espiritual. Busquemos na compreensão, cada vez mais, o caráter transcendente de nossas obrigações. Quando nos referimos ao dever doméstico, claro está que não aludimos à subserviência ou à escravização. Referimo-nos à dignidade feminina com o Cristo para que cada irmã se transforme em cooperadora devotada de nossos irmãos. O mau feminismo é aquele que promete conquistas mentirosas, perdido em pregações brilhantes, para esbarrar com as realidades dolorosas; entretanto, o feminismo legítimo, esse que integra a mulher no conhecimento próprio, é o movimento de Jesus, em favor do lar, para o lar e dentro do lar. Felizes sois, portanto, pela santidade de vossas obrigações. Unamos as nossas mãos no trabalho redentor. Nossa Casa é o grande abrigo dos corações onde todos temos uma tarefa a cumprir. Deus no-la concedeu atendendo às nossas aspirações mais sagradas e súplicas mais sinceras. Seja cada obstáculo um motivo novo de vitória; cada dor seja para nós uma joia de escrínio da eternidade. Deixai que a tormenta do mundo, com as suas velhas incompreensões, seja atenuada pelo poder divino; não vos magoe os ouvidos o rumor das quedas exteriores. Continuem na casa do coração, certas de que Jesus estará conosco, sempre que lhe soubermos preferir a companhia sacrossanta. E, antes de me retirar, transmito-vos os votos de amor e paz do nosso venerando João de Freitas.

Beijando-vos a todas, no beijo afetuoso de agradecimento que deponho no coração de nossa querida Zuzu, despeço-me, deixando a alma feliz e reconhecida. Vossa irmã,



Mensagem de Venâncio Café

Recebida por Francisco Cândido Xavier, no Centro Espírita “União, Humildade e Caridade”, na noite de 20 de maio de 1942.


Meus irmãos, que as bênçãos de Jesus permaneçam convosco e que saibais entesourá-las no íntimo é o nosso voto sincero sempre.

A caravana dos trabalhadores que segue sempre nossas oficinas de serviço cristão, continuam ativas. E unimos os nossos pensamentos com os vossos para render graças ao Mestre Amorável. Enquanto o mundo antigo se despedaça nos atritos da ambição, prosseguimos no propósito santificado de construir. Se conhecemos uma guerra legítima, essa é aquela que sustentamos em nós mesmos com as velhas imperfeições. Nossos inimigos não se encontram no plano externo, à moda dos movimentos estratégicos do mundo. Entrincheirados em nosso próprio íntimo, aí lhes sentimos a presença, obscurecendo-nos a visão espiritual. É a horda de nossas fraquezas seculares, de nossos direitos que ameaçam cristalização. Armemo-nos com a fé perseverante, meus filhos. Empreguemos o alvião da vontade sincera a fim de que nosso Espírito compreenda o serviço construtivo.

Não obstante os nossos títulos de desencarnados, prosseguimos a marcha convosco. A morte do organismo material constitui, apenas, modificação de Esfera; nunca, porém, ausência absoluta. Nesta cidade tradicional para nós outros também, em virtude de representar o teatro bendito de tantas lutas, juntos continuamos no meritório serviço do bem. Nossas alegrias são as vossas, como nos pertencem igualmente as vossas lágrimas. Cada parede erguida em memória de Jesus aos seus tutelados, irmãos nossos, constitui um altar de júbilos infindos aos nossos corações. Cada prece de vossas reuniões ecoa em nossa alma com a música da fraternidade. Podereis compreender a grandeza de nossas afinidades sacrossantas. Nossas aspirações são gêmeas das vossas; e o cuidado de cada um representa o desvelo da comunidade inteira, que se afina convosco, desde as Esferas mais altas no invisível. De quando a quando, as sombras ameaçam as nossas tarefas de comunhão incessante. A luta desenha-se, lançada por elementos sutis da discórdia. Mas o Pai Altíssimo permite que reforcemos a cada hora os elos de vossa corrente fraternal; e as casas de amor de Juiz de Fora prosseguem no seu glorioso trabalho de caridade e abnegação evangélica.

Sim, meus amigos, muitas vezes haveis de sentir a luta e o sofrimento; nem sempre a nossa batalha será menos áspera. Entretanto, recordemos que o artista não fere o mármore por motivos de ódio, mas por razões celestes de amor à obra divina, que lhe deve nascer das mãos perfeitas. Nosso coração é o mármore nas mãos de Jesus Cristo. Busquemos interpretar fielmente a grandeza do seu divino ideal de perfeição e luz. E, sobretudo, não vos torneis em pedra quebradiça. Tende a segurança e a firmeza da fé, revestida, embora, da maleabilidade necessária. Semelhante atitude não é paradoxal, nem difícil.

Basta que façamos dos desígnios de Senhor nossa própria vontade. Sintamos cada dia como sagrado período de realizações. Nem sempre recolherá flores; e nem sempre se verá o firmamento azul. Entretanto, compreendamos a grandeza do trabalho do bem, qualquer que seja, em suas sublimes características. Poderemos atender a Jesus em todos os lugares. Não seria possível guardar o tesouro da fé, se apenas o defendêssemos nos instantes da eucaristia da prece. Não podemos proceder à feição dos crentes antigos, que talhavam um Jesus para o templo e outro para o mecanismo das relações comuns. O mundo espera pelos discípulos fiéis. Seria inútil assumirmos a atitude de quem lhe espera o aplauso inconsciente, quando não ignora que é justamente a Terra que aguarda a nosso esforço. O homem, de modo geral, sempre meditou as vantagens, olvidando os tesouros de cooperação. Por toda parte, respiram os que permanecem insaciáveis na crítica, os que apenas analisam, os que requerem o concurso da comunidade com fortes exigências. Mas o cristão fiel sabe que Jesus não aguardou a apologia de seu tempo, que não pediu as palmas da sociedade humana, nem temeu suas perseguições inerentes.

Jesus deu e imolou-se. Sua grandeza sublime é tão resplandecente na luz do Tabor como nas lágrimas do Calvário. É preciso, meus filhos, que façamos a negação do capricho pessoal e que lhe sigamos os passos divinos. A lição do Mestre ainda e sempre é a eterna mensagem para o Espírito humano.

Em nossas oficinas de esforço, amemos o mais possível. Que ninguém tenha queixa quando o Senhor tem sido tão magnânimo. Atravessemos os nossos caminhos com a luz dos sentimentos fraternos. Quando surgir a nuvem da mágoa, procurai o perdão e o esquecimento. Para nós, cada luta deve ser um motivo de glorificação espiritual. Dai-vos as mãos uns aos outros e segui. Jesus nos pede tão pouco! Recordemos ao máximo para que a Sua bondade opere, todos os dias, em nosso favor; e, então, compreendereis os pequeninos nadas da passagem pela Terra, a fim de considerar tão somente a vida em seus valores eternos. Em síntese, meus irmãos e meus amigos, lembremos o antigo programa — União, Humildade e Caridade. Que o Pai Celeste nos abençoe!



Mensagem de Bezerra de Menezes

Psicografada por Francisco Cândido Xavier, no Centro Espírita. “Dias da Cruz”, na noite de 19 de maio de 1942.


Irmãos muito amados, que a glória das alturas se derrame sobre todos os Homens de Boa Vontade, onde quer que se encontrem, nas atividades do labor divino. Fala-vos o amigo de todos os instantes, o apagado servo de nosso Senhor Jesus Cristo, que vem rejubilar-se convosco pelas alegrias da solidariedade fraternal.

Sigamos para frente, apesar das sombras que invadem os caminhos.

O Espiritismo é a vigorosa esperança dos tempos novos. Entretanto, não poderá atingir finalidades gloriosas do seu trabalho sem o esforço dos seus obreiros fiéis.

Vejamos, meus amigos, o precioso quadro de realizações desde o Codificador até hoje. As aspirações da imortalidade, os anseios santos da fé, encontraram na doutrina consoladora dos Espíritos o seu divino sustentáculo.

Enquanto os filósofos negativistas preparavam um século XX cheio de máquinas e de teorias esterilizadoras, Jesus movimentava os seus operários abnegados e puros para que as florações sublimes da crença não se perdessem ao longo das teses de negação. A Doutrina surge como poderoso foco de revelações para a humanidade moderna. Em toda parte, observavam-se corações em êxtase maravilhados com a nova luz. As fantasias dogmáticas foram relegadas ao lugar que lhes competia, ao passo que nova esperança se instalava nos corações. Temos quase um século de esforço incessante de projetos expressivos de votos renovados. O velho mundo preferiu a estação do exame meticuloso, rigorista, pautando as suas normas pelo critério científico, como se a crise do mundo obedecesse a um problema de pesos e medidas materiais. Numerosas coletividades repousaram nas exigências descabidas desprezando a fé e o sentimento como postulados desnecessários à irradiação das verdades novas. Sabeis que a espiritualidade se movimentou célere, trazendo aos povos da América o sagrado depósito religioso. Entre nós, o Espiritismo, antes de tudo, representa luz no coração, bússola do sentimento, elevação moral do Homem. Graças à Providência Divina, os nossos núcleos não se resumem a círculos de pura observação pretensiosa, mas, às casas de Cristo, onde o seu amor deve correr como água viva. Não podeis, por enquanto, imaginar a grandeza da nossa luta, de nossos ideais.

A Terra tem os seus véus, que obscurecem a visão sagrada do espírito. Entretanto, apesar de semelhantes condições, permanecei convictos de que a nossa tarefa é a maior de todas; é o esforço de restaurar o Cristianismo, oferecendo-lhe os nossos corações. Amigos, é nesse círculo espiritual que as nossas responsabilidades são profundas. Se não temos disciplinas ferrenhas e dogmáticas, se não possuímos sacerdócio organizado ao feitio de outras confissões religiosas, temos a identidade da tarefa, o serviço em comum.

Quantas vezes encontramos a afirmativa de que o Espiritismo, pela liberdade conferida aos seus operários, é um rebanho sem pastor? Diante dessa declaração de irmãos nossos, é preciso recordar que o nosso pastor é Jesus, que o nosso Mestre é sempre Ele mesmo. Pela sua condição de intangibilidade para as nossas mãos materiais, não poderíamos significar sua ausência. Cristo está ao lado de seus discípulos fiéis, onde quer que permaneçam. Por isso mesmo, ao momento que passa, os irmãos, pela tarefa, não podem olvidar o dever de solidariedade, trabalho e tolerância, aliás, anunciado por Allan Kardec, desde os dias primeiros da Codificação. Não confundamos liberdade com desobediência. A liberdade digna com Deus é aquela que lhe respeita os desígnios sem esquecer as obrigações de cada dia. Sejamos livres, sendo, ao mesmo tempo, escravos uns dos outros em Jesus Cristo. Não haverá obra útil em que faleçam os princípios sagrados da cooperação. É preciso auxiliar a fim de se colher resultados úteis. Não esqueçamos que nosso coração é como um templo luminoso em que o Mestre virá ao nosso encontro. De modo geral, temos observado fenômenos há quase um século; nossas atividades muito hão perdido na esfera das puras discussões sem finalidades essenciais. Recolhamo-nos, agora, a nós mesmos. Examinemos as possibilidades infinitas, latentes em nossa organização espiritual.

Somos também como a terra; necessitamos de tratamento, de irrigação e de adubo, antes da semeadura. Cada coração é qual continente ignorado, portador de reservas de grandeza infinita. Não procedamos como os trabalhadores ociosos, que discutem ao lado das ferramentas nas oficinas. Movimentemos as mãos na estrutura de nossa personalidade espiritual. Quando digo “nós”, procedo obedecendo os princípios de justiça; porque desencarnação não significa redenção. Nosso esforço na Esfera invisível aos vossos olhos é profundo, de maneira a atingirmos a “nova terra” das luzes imortais. Unamo-nos, pois, no serviço bendito da iluminação própria. Lembremos que a luta é o meio, ao passo que a perfeição é o fim. Não temamos as quedas. Cairemos ainda muitas vezes; entretanto, devemos colocar, acima de tudo, o nosso propósito decidido de alcançar a dolorosa exemplificação do que ocorre no mundo europeu. Mais de cinquenta anos de Espiritismo científico não conseguiram dissimular a crueldade dos preconceitos na coletividade. A destruição, a morte, o arrasamento, a miséria são hoje dilacerados espinhos na coroa de sofrimentos de um continente inteiro. Guardemos o Espiritismo-sentimento como tesouro que nos foi confiado pela Magnanimidade Divina. A ciência raciocina; mas o amor edifica. (1co 8:1) O cérebro procede à verificação; mas somente o coração pode e sabe criar.

Comprometamo-nos, pois, meus amigos, a retificar a aliança divina da fraternidade em Jesus. Sejamos irmãos uns dos outros, certos de que já encontramos numerosos críticos na estrada vasta do mundo.

Amemo-nos muito, não só de palavras, mas empenhando o coração inteiro nesse sublime compromisso. Não vos poderia, a meu ver, trazer outra mensagem.

Que Jesus nos auxilie a guardar e a defender as suas verdades santas, dentro da iluminação de nós mesmos e da iluminação do mundo, são os votos do amigo e irmão de sempre.





Essa mensagem de Eugênia Braga foi publicada no livro , cap. 58.




Mensagem de Venâncio Café



“A ciência raciona; mas o amor edifica. O cérebro procede à verificação; mas somente o coração pode e sabe criar.” — Bezerra de Menezes ()


Juiz de Fora foi uma cidade que Chico Xavier visitou muitas vezes quando jovem. Seu movimento espírita sempre foi dinâmico e suas Semanas Espíritas muito concorridas. No ano de 1942, nas noites de 18 a 21 de maio, a Casa de Kardec, situada na Rua do Sampaio 425, teve o privilégio de recepcionar em sua sede o médium de Pedro Leopoldo que psicografou instrutivas mensagens dos Benfeitores Espirituais, algumas publicadas apenas em opúsculo distribuído em edição limitada. Foram os Espíritos comunicantes: Eugênia Braga, inédito em livro; Belmiro Braga (“”, publicado em edição revista do “Parnaso d’Além-Túmulo”); João de Deus (“”, publicado em “Coletânea do Além”; “”, publicado no “Parnaso” e em “Taça de Luz”); Venâncio Café, inédito em livro; Bezerra de Menezes, psicografado no C. E. “Dias da Cruz”, inédito em livro; e Pedro de Alcântara (“”, publicado no “Parnaso”).

É importante registrar-se aqui algumas palavras sobre Venâncio Café, conhecido como Padre Café em vida, figura de destaque na história de Juiz de Fora. Café nasceu em Guanhões/MG, em 1846, e ficou órfão nos primeiros anos de vida. Foi Deputado, Professor, Jornalista e só se tornou Padre em 1891, aos 45 anos de idade. Desencarnou jovem, aos 51 anos, mas todos se referem a ele como uma pessoa muito carismática e bondosa. Os católicos da cidade costumam dizer que seu carisma era tão grande “que ele até se tornou nome de Centro Espírita na cidade” ().

Para a mulher

Mensagem de Eugênia Braga

Minhas queridas amigas: Deus vos abençoe o esforço fraternal.

Na sagrada comunhão, aqui me encontro convosco nas tarefas diárias dentro dos círculos do bem.

O amor é o edifício que construímos na eternidade; e, através de seus laços divinos, nossos corações se reúnem mutuamente entrelaçados para a vida imortal.

Nunca poderia esquecer os elos sublimes que enlaçam as almas no trabalho sagrado e incessante.

A Casa Espírita, confiada ao coração da mulher espírita de Juiz de Fora, é a nossa tenda de realizações. Aqui, minhas irmãs muito amadas, temos o nosso grande lar: O misericordioso velhinho é o nosso anjo-guardião. E em cada detalhe podemos observar a atividade inesgotável de nossa colmeia.

Não sei como agradecer a Jesus pelas searas de luz e de paz que nos tem concedido, sob este teto de amor; e é em Seu nome que unimos nossos pensamentos aos vossos pensamentos na mesma ação de louvor; suplicando à Sua Bondade Infinita que nunca cesse o curso das bênçãos.

Nossa alma está igualmente genuflexa. O trabalhador fiel não olvida o reconhecimento do Senhor.

A vossa luta tem sido, às vezes, difícil e angustiosa. Em muitas ocasiões conhecestes de perto a incompreensão e a dor, a dificuldade e o sofrimento; porém, minhas amigas, sempre que nos recordarmos das rosas tomadas pelos espinhos, lembremos, antes, que os espinhos se conservam coroados de rosas. Se o serviço apresenta pormenores de execução laboriosa, nunca esqueçamos a grandeza e a ventura da realização espiritual.

Na dolorosa situação dos vossos tempos, observamos a mulher de modo geral, indiferente aos seus grandiosos deveres. As ilusões políticas, a concorrência profissional, os venenos filosóficos invadiram os lares. São poucas as companheiras fiéis que se mantêm nos seus postos de serviço, com Jesus, convictas da transitoriedade das posições mundanas. Quase sempre o que se verifica é justamente o naufrágio de luminosas esperanças que, a princípio, pareciam incorruptíveis e poderosas. Semelhantes fracassos são oriundos do esquecimento de que a nossa linha de frente, na batalha humana, é o lar, com todas as suas obrigações sacrificiais, compelindo as mães e as esposas, as filhas e as irmãs aos atos supremos da renunciação. Nosso Mestre é Jesus; nosso trabalho é a edificação para a vida eterna. É imprescindível não olvidar que os homens obedecerão, em todas as suas tarefas, ao imperativo do sentimento. Sem esse requisito, são muito raros os que triunfam. É necessário converter nosso potencial em fonte de auxílio. Nada se conseguirá no terreno das competições mesquinhas, mas, sim, na esfera da bondade e da cooperação espiritual. Busquemos na compreensão, cada vez mais, o caráter transcendente de nossas obrigações. Quando nos referimos ao dever doméstico, claro está que não aludimos à subserviência ou à escravização. Referimo-nos à dignidade feminina com o Cristo para que cada irmã se transforme em cooperadora devotada de nossos irmãos. O mau feminismo é aquele que promete conquistas mentirosas, perdido em pregações brilhantes, para esbarrar com as realidades dolorosas; entretanto, o feminismo legítimo, esse que integra a mulher no conhecimento próprio, é o movimento de Jesus, em favor do lar, para o lar e dentro do lar. Felizes sois, portanto, pela santidade de vossas obrigações. Unamos as nossas mãos no trabalho redentor. Nossa Casa é o grande abrigo dos corações onde todos temos uma tarefa a cumprir. Deus no-la concedeu atendendo às nossas aspirações mais sagradas e súplicas mais sinceras. Seja cada obstáculo um motivo novo de vitória; cada dor seja para nós uma joia de escrínio da eternidade. Deixai que a tormenta do mundo, com as suas velhas incompreensões, seja atenuada pelo poder divino; não vos magoe os ouvidos o rumor das quedas exteriores. Continuem na casa do coração, certas de que Jesus estará conosco, sempre que lhe soubermos preferir a companhia sacrossanta. E, antes de me retirar, transmito-vos os votos de amor e paz do nosso venerando João de Freitas.

Beijando-vos a todas, no beijo afetuoso de agradecimento que deponho no coração de nossa querida Zuzu, despeço-me, deixando a alma feliz e reconhecida. Vossa irmã,



Mensagem de Venâncio Café

Recebida por Francisco Cândido Xavier, no Centro Espírita “União, Humildade e Caridade”, na noite de 20 de maio de 1942.


Meus irmãos, que as bênçãos de Jesus permaneçam convosco e que saibais entesourá-las no íntimo é o nosso voto sincero sempre.

A caravana dos trabalhadores que segue sempre nossas oficinas de serviço cristão, continuam ativas. E unimos os nossos pensamentos com os vossos para render graças ao Mestre Amorável. Enquanto o mundo antigo se despedaça nos atritos da ambição, prosseguimos no propósito santificado de construir. Se conhecemos uma guerra legítima, essa é aquela que sustentamos em nós mesmos com as velhas imperfeições. Nossos inimigos não se encontram no plano externo, à moda dos movimentos estratégicos do mundo. Entrincheirados em nosso próprio íntimo, aí lhes sentimos a presença, obscurecendo-nos a visão espiritual. É a horda de nossas fraquezas seculares, de nossos direitos que ameaçam cristalização. Armemo-nos com a fé perseverante, meus filhos. Empreguemos o alvião da vontade sincera a fim de que nosso Espírito compreenda o serviço construtivo.

Não obstante os nossos títulos de desencarnados, prosseguimos a marcha convosco. A morte do organismo material constitui, apenas, modificação de Esfera; nunca, porém, ausência absoluta. Nesta cidade tradicional para nós outros também, em virtude de representar o teatro bendito de tantas lutas, juntos continuamos no meritório serviço do bem. Nossas alegrias são as vossas, como nos pertencem igualmente as vossas lágrimas. Cada parede erguida em memória de Jesus aos seus tutelados, irmãos nossos, constitui um altar de júbilos infindos aos nossos corações. Cada prece de vossas reuniões ecoa em nossa alma com a música da fraternidade. Podereis compreender a grandeza de nossas afinidades sacrossantas. Nossas aspirações são gêmeas das vossas; e o cuidado de cada um representa o desvelo da comunidade inteira, que se afina convosco, desde as Esferas mais altas no invisível. De quando a quando, as sombras ameaçam as nossas tarefas de comunhão incessante. A luta desenha-se, lançada por elementos sutis da discórdia. Mas o Pai Altíssimo permite que reforcemos a cada hora os elos de vossa corrente fraternal; e as casas de amor de Juiz de Fora prosseguem no seu glorioso trabalho de caridade e abnegação evangélica.

Sim, meus amigos, muitas vezes haveis de sentir a luta e o sofrimento; nem sempre a nossa batalha será menos áspera. Entretanto, recordemos que o artista não fere o mármore por motivos de ódio, mas por razões celestes de amor à obra divina, que lhe deve nascer das mãos perfeitas. Nosso coração é o mármore nas mãos de Jesus Cristo. Busquemos interpretar fielmente a grandeza do seu divino ideal de perfeição e luz. E, sobretudo, não vos torneis em pedra quebradiça. Tende a segurança e a firmeza da fé, revestida, embora, da maleabilidade necessária. Semelhante atitude não é paradoxal, nem difícil.

Basta que façamos dos desígnios de Senhor nossa própria vontade. Sintamos cada dia como sagrado período de realizações. Nem sempre recolherá flores; e nem sempre se verá o firmamento azul. Entretanto, compreendamos a grandeza do trabalho do bem, qualquer que seja, em suas sublimes características. Poderemos atender a Jesus em todos os lugares. Não seria possível guardar o tesouro da fé, se apenas o defendêssemos nos instantes da eucaristia da prece. Não podemos proceder à feição dos crentes antigos, que talhavam um Jesus para o templo e outro para o mecanismo das relações comuns. O mundo espera pelos discípulos fiéis. Seria inútil assumirmos a atitude de quem lhe espera o aplauso inconsciente, quando não ignora que é justamente a Terra que aguarda a nosso esforço. O homem, de modo geral, sempre meditou as vantagens, olvidando os tesouros de cooperação. Por toda parte, respiram os que permanecem insaciáveis na crítica, os que apenas analisam, os que requerem o concurso da comunidade com fortes exigências. Mas o cristão fiel sabe que Jesus não aguardou a apologia de seu tempo, que não pediu as palmas da sociedade humana, nem temeu suas perseguições inerentes.

Jesus deu e imolou-se. Sua grandeza sublime é tão resplandecente na luz do Tabor como nas lágrimas do Calvário. É preciso, meus filhos, que façamos a negação do capricho pessoal e que lhe sigamos os passos divinos. A lição do Mestre ainda e sempre é a eterna mensagem para o Espírito humano.

Em nossas oficinas de esforço, amemos o mais possível. Que ninguém tenha queixa quando o Senhor tem sido tão magnânimo. Atravessemos os nossos caminhos com a luz dos sentimentos fraternos. Quando surgir a nuvem da mágoa, procurai o perdão e o esquecimento. Para nós, cada luta deve ser um motivo de glorificação espiritual. Dai-vos as mãos uns aos outros e segui. Jesus nos pede tão pouco! Recordemos ao máximo para que a Sua bondade opere, todos os dias, em nosso favor; e, então, compreendereis os pequeninos nadas da passagem pela Terra, a fim de considerar tão somente a vida em seus valores eternos. Em síntese, meus irmãos e meus amigos, lembremos o antigo programa — União, Humildade e Caridade. Que o Pai Celeste nos abençoe!



Mensagem de Bezerra de Menezes

Psicografada por Francisco Cândido Xavier, no Centro Espírita. “Dias da Cruz”, na noite de 19 de maio de 1942.


Irmãos muito amados, que a glória das alturas se derrame sobre todos os Homens de Boa Vontade, onde quer que se encontrem, nas atividades do labor divino. Fala-vos o amigo de todos os instantes, o apagado servo de nosso Senhor Jesus Cristo, que vem rejubilar-se convosco pelas alegrias da solidariedade fraternal.

Sigamos para frente, apesar das sombras que invadem os caminhos.

O Espiritismo é a vigorosa esperança dos tempos novos. Entretanto, não poderá atingir finalidades gloriosas do seu trabalho sem o esforço dos seus obreiros fiéis.

Vejamos, meus amigos, o precioso quadro de realizações desde o Codificador até hoje. As aspirações da imortalidade, os anseios santos da fé, encontraram na doutrina consoladora dos Espíritos o seu divino sustentáculo.

Enquanto os filósofos negativistas preparavam um século XX cheio de máquinas e de teorias esterilizadoras, Jesus movimentava os seus operários abnegados e puros para que as florações sublimes da crença não se perdessem ao longo das teses de negação. A Doutrina surge como poderoso foco de revelações para a humanidade moderna. Em toda parte, observavam-se corações em êxtase maravilhados com a nova luz. As fantasias dogmáticas foram relegadas ao lugar que lhes competia, ao passo que nova esperança se instalava nos corações. Temos quase um século de esforço incessante de projetos expressivos de votos renovados. O velho mundo preferiu a estação do exame meticuloso, rigorista, pautando as suas normas pelo critério científico, como se a crise do mundo obedecesse a um problema de pesos e medidas materiais. Numerosas coletividades repousaram nas exigências descabidas desprezando a fé e o sentimento como postulados desnecessários à irradiação das verdades novas. Sabeis que a espiritualidade se movimentou célere, trazendo aos povos da América o sagrado depósito religioso. Entre nós, o Espiritismo, antes de tudo, representa luz no coração, bússola do sentimento, elevação moral do Homem. Graças à Providência Divina, os nossos núcleos não se resumem a círculos de pura observação pretensiosa, mas, às casas de Cristo, onde o seu amor deve correr como água viva. Não podeis, por enquanto, imaginar a grandeza da nossa luta, de nossos ideais.

A Terra tem os seus véus, que obscurecem a visão sagrada do espírito. Entretanto, apesar de semelhantes condições, permanecei convictos de que a nossa tarefa é a maior de todas; é o esforço de restaurar o Cristianismo, oferecendo-lhe os nossos corações. Amigos, é nesse círculo espiritual que as nossas responsabilidades são profundas. Se não temos disciplinas ferrenhas e dogmáticas, se não possuímos sacerdócio organizado ao feitio de outras confissões religiosas, temos a identidade da tarefa, o serviço em comum.

Quantas vezes encontramos a afirmativa de que o Espiritismo, pela liberdade conferida aos seus operários, é um rebanho sem pastor? Diante dessa declaração de irmãos nossos, é preciso recordar que o nosso pastor é Jesus, que o nosso Mestre é sempre Ele mesmo. Pela sua condição de intangibilidade para as nossas mãos materiais, não poderíamos significar sua ausência. Cristo está ao lado de seus discípulos fiéis, onde quer que permaneçam. Por isso mesmo, ao momento que passa, os irmãos, pela tarefa, não podem olvidar o dever de solidariedade, trabalho e tolerância, aliás, anunciado por Allan Kardec, desde os dias primeiros da Codificação. Não confundamos liberdade com desobediência. A liberdade digna com Deus é aquela que lhe respeita os desígnios sem esquecer as obrigações de cada dia. Sejamos livres, sendo, ao mesmo tempo, escravos uns dos outros em Jesus Cristo. Não haverá obra útil em que faleçam os princípios sagrados da cooperação. É preciso auxiliar a fim de se colher resultados úteis. Não esqueçamos que nosso coração é como um templo luminoso em que o Mestre virá ao nosso encontro. De modo geral, temos observado fenômenos há quase um século; nossas atividades muito hão perdido na esfera das puras discussões sem finalidades essenciais. Recolhamo-nos, agora, a nós mesmos. Examinemos as possibilidades infinitas, latentes em nossa organização espiritual.

Somos também como a terra; necessitamos de tratamento, de irrigação e de adubo, antes da semeadura. Cada coração é qual continente ignorado, portador de reservas de grandeza infinita. Não procedamos como os trabalhadores ociosos, que discutem ao lado das ferramentas nas oficinas. Movimentemos as mãos na estrutura de nossa personalidade espiritual. Quando digo “nós”, procedo obedecendo os princípios de justiça; porque desencarnação não significa redenção. Nosso esforço na Esfera invisível aos vossos olhos é profundo, de maneira a atingirmos a “nova terra” das luzes imortais. Unamo-nos, pois, no serviço bendito da iluminação própria. Lembremos que a luta é o meio, ao passo que a perfeição é o fim. Não temamos as quedas. Cairemos ainda muitas vezes; entretanto, devemos colocar, acima de tudo, o nosso propósito decidido de alcançar a dolorosa exemplificação do que ocorre no mundo europeu. Mais de cinquenta anos de Espiritismo científico não conseguiram dissimular a crueldade dos preconceitos na coletividade. A destruição, a morte, o arrasamento, a miséria são hoje dilacerados espinhos na coroa de sofrimentos de um continente inteiro. Guardemos o Espiritismo-sentimento como tesouro que nos foi confiado pela Magnanimidade Divina. A ciência raciocina; mas o amor edifica. (1co 8:1) O cérebro procede à verificação; mas somente o coração pode e sabe criar.

Comprometamo-nos, pois, meus amigos, a retificar a aliança divina da fraternidade em Jesus. Sejamos irmãos uns dos outros, certos de que já encontramos numerosos críticos na estrada vasta do mundo.

Amemo-nos muito, não só de palavras, mas empenhando o coração inteiro nesse sublime compromisso. Não vos poderia, a meu ver, trazer outra mensagem.

Que Jesus nos auxilie a guardar e a defender as suas verdades santas, dentro da iluminação de nós mesmos e da iluminação do mundo, são os votos do amigo e irmão de sempre.





Essa mensagem de Eugênia Braga foi publicada no livro , cap. 58.




Mensagem de Bezerra de Menezes



“A ciência raciona; mas o amor edifica. O cérebro procede à verificação; mas somente o coração pode e sabe criar.” — Bezerra de Menezes ()


Juiz de Fora foi uma cidade que Chico Xavier visitou muitas vezes quando jovem. Seu movimento espírita sempre foi dinâmico e suas Semanas Espíritas muito concorridas. No ano de 1942, nas noites de 18 a 21 de maio, a Casa de Kardec, situada na Rua do Sampaio 425, teve o privilégio de recepcionar em sua sede o médium de Pedro Leopoldo que psicografou instrutivas mensagens dos Benfeitores Espirituais, algumas publicadas apenas em opúsculo distribuído em edição limitada. Foram os Espíritos comunicantes: Eugênia Braga, inédito em livro; Belmiro Braga (“”, publicado em edição revista do “Parnaso d’Além-Túmulo”); João de Deus (“”, publicado em “Coletânea do Além”; “”, publicado no “Parnaso” e em “Taça de Luz”); Venâncio Café, inédito em livro; Bezerra de Menezes, psicografado no C. E. “Dias da Cruz”, inédito em livro; e Pedro de Alcântara (“”, publicado no “Parnaso”).

É importante registrar-se aqui algumas palavras sobre Venâncio Café, conhecido como Padre Café em vida, figura de destaque na história de Juiz de Fora. Café nasceu em Guanhões/MG, em 1846, e ficou órfão nos primeiros anos de vida. Foi Deputado, Professor, Jornalista e só se tornou Padre em 1891, aos 45 anos de idade. Desencarnou jovem, aos 51 anos, mas todos se referem a ele como uma pessoa muito carismática e bondosa. Os católicos da cidade costumam dizer que seu carisma era tão grande “que ele até se tornou nome de Centro Espírita na cidade” ().

Para a mulher

Mensagem de Eugênia Braga

Minhas queridas amigas: Deus vos abençoe o esforço fraternal.

Na sagrada comunhão, aqui me encontro convosco nas tarefas diárias dentro dos círculos do bem.

O amor é o edifício que construímos na eternidade; e, através de seus laços divinos, nossos corações se reúnem mutuamente entrelaçados para a vida imortal.

Nunca poderia esquecer os elos sublimes que enlaçam as almas no trabalho sagrado e incessante.

A Casa Espírita, confiada ao coração da mulher espírita de Juiz de Fora, é a nossa tenda de realizações. Aqui, minhas irmãs muito amadas, temos o nosso grande lar: O misericordioso velhinho é o nosso anjo-guardião. E em cada detalhe podemos observar a atividade inesgotável de nossa colmeia.

Não sei como agradecer a Jesus pelas searas de luz e de paz que nos tem concedido, sob este teto de amor; e é em Seu nome que unimos nossos pensamentos aos vossos pensamentos na mesma ação de louvor; suplicando à Sua Bondade Infinita que nunca cesse o curso das bênçãos.

Nossa alma está igualmente genuflexa. O trabalhador fiel não olvida o reconhecimento do Senhor.

A vossa luta tem sido, às vezes, difícil e angustiosa. Em muitas ocasiões conhecestes de perto a incompreensão e a dor, a dificuldade e o sofrimento; porém, minhas amigas, sempre que nos recordarmos das rosas tomadas pelos espinhos, lembremos, antes, que os espinhos se conservam coroados de rosas. Se o serviço apresenta pormenores de execução laboriosa, nunca esqueçamos a grandeza e a ventura da realização espiritual.

Na dolorosa situação dos vossos tempos, observamos a mulher de modo geral, indiferente aos seus grandiosos deveres. As ilusões políticas, a concorrência profissional, os venenos filosóficos invadiram os lares. São poucas as companheiras fiéis que se mantêm nos seus postos de serviço, com Jesus, convictas da transitoriedade das posições mundanas. Quase sempre o que se verifica é justamente o naufrágio de luminosas esperanças que, a princípio, pareciam incorruptíveis e poderosas. Semelhantes fracassos são oriundos do esquecimento de que a nossa linha de frente, na batalha humana, é o lar, com todas as suas obrigações sacrificiais, compelindo as mães e as esposas, as filhas e as irmãs aos atos supremos da renunciação. Nosso Mestre é Jesus; nosso trabalho é a edificação para a vida eterna. É imprescindível não olvidar que os homens obedecerão, em todas as suas tarefas, ao imperativo do sentimento. Sem esse requisito, são muito raros os que triunfam. É necessário converter nosso potencial em fonte de auxílio. Nada se conseguirá no terreno das competições mesquinhas, mas, sim, na esfera da bondade e da cooperação espiritual. Busquemos na compreensão, cada vez mais, o caráter transcendente de nossas obrigações. Quando nos referimos ao dever doméstico, claro está que não aludimos à subserviência ou à escravização. Referimo-nos à dignidade feminina com o Cristo para que cada irmã se transforme em cooperadora devotada de nossos irmãos. O mau feminismo é aquele que promete conquistas mentirosas, perdido em pregações brilhantes, para esbarrar com as realidades dolorosas; entretanto, o feminismo legítimo, esse que integra a mulher no conhecimento próprio, é o movimento de Jesus, em favor do lar, para o lar e dentro do lar. Felizes sois, portanto, pela santidade de vossas obrigações. Unamos as nossas mãos no trabalho redentor. Nossa Casa é o grande abrigo dos corações onde todos temos uma tarefa a cumprir. Deus no-la concedeu atendendo às nossas aspirações mais sagradas e súplicas mais sinceras. Seja cada obstáculo um motivo novo de vitória; cada dor seja para nós uma joia de escrínio da eternidade. Deixai que a tormenta do mundo, com as suas velhas incompreensões, seja atenuada pelo poder divino; não vos magoe os ouvidos o rumor das quedas exteriores. Continuem na casa do coração, certas de que Jesus estará conosco, sempre que lhe soubermos preferir a companhia sacrossanta. E, antes de me retirar, transmito-vos os votos de amor e paz do nosso venerando João de Freitas.

Beijando-vos a todas, no beijo afetuoso de agradecimento que deponho no coração de nossa querida Zuzu, despeço-me, deixando a alma feliz e reconhecida. Vossa irmã,



Mensagem de Venâncio Café

Recebida por Francisco Cândido Xavier, no Centro Espírita “União, Humildade e Caridade”, na noite de 20 de maio de 1942.


Meus irmãos, que as bênçãos de Jesus permaneçam convosco e que saibais entesourá-las no íntimo é o nosso voto sincero sempre.

A caravana dos trabalhadores que segue sempre nossas oficinas de serviço cristão, continuam ativas. E unimos os nossos pensamentos com os vossos para render graças ao Mestre Amorável. Enquanto o mundo antigo se despedaça nos atritos da ambição, prosseguimos no propósito santificado de construir. Se conhecemos uma guerra legítima, essa é aquela que sustentamos em nós mesmos com as velhas imperfeições. Nossos inimigos não se encontram no plano externo, à moda dos movimentos estratégicos do mundo. Entrincheirados em nosso próprio íntimo, aí lhes sentimos a presença, obscurecendo-nos a visão espiritual. É a horda de nossas fraquezas seculares, de nossos direitos que ameaçam cristalização. Armemo-nos com a fé perseverante, meus filhos. Empreguemos o alvião da vontade sincera a fim de que nosso Espírito compreenda o serviço construtivo.

Não obstante os nossos títulos de desencarnados, prosseguimos a marcha convosco. A morte do organismo material constitui, apenas, modificação de Esfera; nunca, porém, ausência absoluta. Nesta cidade tradicional para nós outros também, em virtude de representar o teatro bendito de tantas lutas, juntos continuamos no meritório serviço do bem. Nossas alegrias são as vossas, como nos pertencem igualmente as vossas lágrimas. Cada parede erguida em memória de Jesus aos seus tutelados, irmãos nossos, constitui um altar de júbilos infindos aos nossos corações. Cada prece de vossas reuniões ecoa em nossa alma com a música da fraternidade. Podereis compreender a grandeza de nossas afinidades sacrossantas. Nossas aspirações são gêmeas das vossas; e o cuidado de cada um representa o desvelo da comunidade inteira, que se afina convosco, desde as Esferas mais altas no invisível. De quando a quando, as sombras ameaçam as nossas tarefas de comunhão incessante. A luta desenha-se, lançada por elementos sutis da discórdia. Mas o Pai Altíssimo permite que reforcemos a cada hora os elos de vossa corrente fraternal; e as casas de amor de Juiz de Fora prosseguem no seu glorioso trabalho de caridade e abnegação evangélica.

Sim, meus amigos, muitas vezes haveis de sentir a luta e o sofrimento; nem sempre a nossa batalha será menos áspera. Entretanto, recordemos que o artista não fere o mármore por motivos de ódio, mas por razões celestes de amor à obra divina, que lhe deve nascer das mãos perfeitas. Nosso coração é o mármore nas mãos de Jesus Cristo. Busquemos interpretar fielmente a grandeza do seu divino ideal de perfeição e luz. E, sobretudo, não vos torneis em pedra quebradiça. Tende a segurança e a firmeza da fé, revestida, embora, da maleabilidade necessária. Semelhante atitude não é paradoxal, nem difícil.

Basta que façamos dos desígnios de Senhor nossa própria vontade. Sintamos cada dia como sagrado período de realizações. Nem sempre recolherá flores; e nem sempre se verá o firmamento azul. Entretanto, compreendamos a grandeza do trabalho do bem, qualquer que seja, em suas sublimes características. Poderemos atender a Jesus em todos os lugares. Não seria possível guardar o tesouro da fé, se apenas o defendêssemos nos instantes da eucaristia da prece. Não podemos proceder à feição dos crentes antigos, que talhavam um Jesus para o templo e outro para o mecanismo das relações comuns. O mundo espera pelos discípulos fiéis. Seria inútil assumirmos a atitude de quem lhe espera o aplauso inconsciente, quando não ignora que é justamente a Terra que aguarda a nosso esforço. O homem, de modo geral, sempre meditou as vantagens, olvidando os tesouros de cooperação. Por toda parte, respiram os que permanecem insaciáveis na crítica, os que apenas analisam, os que requerem o concurso da comunidade com fortes exigências. Mas o cristão fiel sabe que Jesus não aguardou a apologia de seu tempo, que não pediu as palmas da sociedade humana, nem temeu suas perseguições inerentes.

Jesus deu e imolou-se. Sua grandeza sublime é tão resplandecente na luz do Tabor como nas lágrimas do Calvário. É preciso, meus filhos, que façamos a negação do capricho pessoal e que lhe sigamos os passos divinos. A lição do Mestre ainda e sempre é a eterna mensagem para o Espírito humano.

Em nossas oficinas de esforço, amemos o mais possível. Que ninguém tenha queixa quando o Senhor tem sido tão magnânimo. Atravessemos os nossos caminhos com a luz dos sentimentos fraternos. Quando surgir a nuvem da mágoa, procurai o perdão e o esquecimento. Para nós, cada luta deve ser um motivo de glorificação espiritual. Dai-vos as mãos uns aos outros e segui. Jesus nos pede tão pouco! Recordemos ao máximo para que a Sua bondade opere, todos os dias, em nosso favor; e, então, compreendereis os pequeninos nadas da passagem pela Terra, a fim de considerar tão somente a vida em seus valores eternos. Em síntese, meus irmãos e meus amigos, lembremos o antigo programa — União, Humildade e Caridade. Que o Pai Celeste nos abençoe!



Mensagem de Bezerra de Menezes

Psicografada por Francisco Cândido Xavier, no Centro Espírita. “Dias da Cruz”, na noite de 19 de maio de 1942.


Irmãos muito amados, que a glória das alturas se derrame sobre todos os Homens de Boa Vontade, onde quer que se encontrem, nas atividades do labor divino. Fala-vos o amigo de todos os instantes, o apagado servo de nosso Senhor Jesus Cristo, que vem rejubilar-se convosco pelas alegrias da solidariedade fraternal.

Sigamos para frente, apesar das sombras que invadem os caminhos.

O Espiritismo é a vigorosa esperança dos tempos novos. Entretanto, não poderá atingir finalidades gloriosas do seu trabalho sem o esforço dos seus obreiros fiéis.

Vejamos, meus amigos, o precioso quadro de realizações desde o Codificador até hoje. As aspirações da imortalidade, os anseios santos da fé, encontraram na doutrina consoladora dos Espíritos o seu divino sustentáculo.

Enquanto os filósofos negativistas preparavam um século XX cheio de máquinas e de teorias esterilizadoras, Jesus movimentava os seus operários abnegados e puros para que as florações sublimes da crença não se perdessem ao longo das teses de negação. A Doutrina surge como poderoso foco de revelações para a humanidade moderna. Em toda parte, observavam-se corações em êxtase maravilhados com a nova luz. As fantasias dogmáticas foram relegadas ao lugar que lhes competia, ao passo que nova esperança se instalava nos corações. Temos quase um século de esforço incessante de projetos expressivos de votos renovados. O velho mundo preferiu a estação do exame meticuloso, rigorista, pautando as suas normas pelo critério científico, como se a crise do mundo obedecesse a um problema de pesos e medidas materiais. Numerosas coletividades repousaram nas exigências descabidas desprezando a fé e o sentimento como postulados desnecessários à irradiação das verdades novas. Sabeis que a espiritualidade se movimentou célere, trazendo aos povos da América o sagrado depósito religioso. Entre nós, o Espiritismo, antes de tudo, representa luz no coração, bússola do sentimento, elevação moral do Homem. Graças à Providência Divina, os nossos núcleos não se resumem a círculos de pura observação pretensiosa, mas, às casas de Cristo, onde o seu amor deve correr como água viva. Não podeis, por enquanto, imaginar a grandeza da nossa luta, de nossos ideais.

A Terra tem os seus véus, que obscurecem a visão sagrada do espírito. Entretanto, apesar de semelhantes condições, permanecei convictos de que a nossa tarefa é a maior de todas; é o esforço de restaurar o Cristianismo, oferecendo-lhe os nossos corações. Amigos, é nesse círculo espiritual que as nossas responsabilidades são profundas. Se não temos disciplinas ferrenhas e dogmáticas, se não possuímos sacerdócio organizado ao feitio de outras confissões religiosas, temos a identidade da tarefa, o serviço em comum.

Quantas vezes encontramos a afirmativa de que o Espiritismo, pela liberdade conferida aos seus operários, é um rebanho sem pastor? Diante dessa declaração de irmãos nossos, é preciso recordar que o nosso pastor é Jesus, que o nosso Mestre é sempre Ele mesmo. Pela sua condição de intangibilidade para as nossas mãos materiais, não poderíamos significar sua ausência. Cristo está ao lado de seus discípulos fiéis, onde quer que permaneçam. Por isso mesmo, ao momento que passa, os irmãos, pela tarefa, não podem olvidar o dever de solidariedade, trabalho e tolerância, aliás, anunciado por Allan Kardec, desde os dias primeiros da Codificação. Não confundamos liberdade com desobediência. A liberdade digna com Deus é aquela que lhe respeita os desígnios sem esquecer as obrigações de cada dia. Sejamos livres, sendo, ao mesmo tempo, escravos uns dos outros em Jesus Cristo. Não haverá obra útil em que faleçam os princípios sagrados da cooperação. É preciso auxiliar a fim de se colher resultados úteis. Não esqueçamos que nosso coração é como um templo luminoso em que o Mestre virá ao nosso encontro. De modo geral, temos observado fenômenos há quase um século; nossas atividades muito hão perdido na esfera das puras discussões sem finalidades essenciais. Recolhamo-nos, agora, a nós mesmos. Examinemos as possibilidades infinitas, latentes em nossa organização espiritual.

Somos também como a terra; necessitamos de tratamento, de irrigação e de adubo, antes da semeadura. Cada coração é qual continente ignorado, portador de reservas de grandeza infinita. Não procedamos como os trabalhadores ociosos, que discutem ao lado das ferramentas nas oficinas. Movimentemos as mãos na estrutura de nossa personalidade espiritual. Quando digo “nós”, procedo obedecendo os princípios de justiça; porque desencarnação não significa redenção. Nosso esforço na Esfera invisível aos vossos olhos é profundo, de maneira a atingirmos a “nova terra” das luzes imortais. Unamo-nos, pois, no serviço bendito da iluminação própria. Lembremos que a luta é o meio, ao passo que a perfeição é o fim. Não temamos as quedas. Cairemos ainda muitas vezes; entretanto, devemos colocar, acima de tudo, o nosso propósito decidido de alcançar a dolorosa exemplificação do que ocorre no mundo europeu. Mais de cinquenta anos de Espiritismo científico não conseguiram dissimular a crueldade dos preconceitos na coletividade. A destruição, a morte, o arrasamento, a miséria são hoje dilacerados espinhos na coroa de sofrimentos de um continente inteiro. Guardemos o Espiritismo-sentimento como tesouro que nos foi confiado pela Magnanimidade Divina. A ciência raciocina; mas o amor edifica. (1co 8:1) O cérebro procede à verificação; mas somente o coração pode e sabe criar.

Comprometamo-nos, pois, meus amigos, a retificar a aliança divina da fraternidade em Jesus. Sejamos irmãos uns dos outros, certos de que já encontramos numerosos críticos na estrada vasta do mundo.

Amemo-nos muito, não só de palavras, mas empenhando o coração inteiro nesse sublime compromisso. Não vos poderia, a meu ver, trazer outra mensagem.

Que Jesus nos auxilie a guardar e a defender as suas verdades santas, dentro da iluminação de nós mesmos e da iluminação do mundo, são os votos do amigo e irmão de sempre.





Essa mensagem de Eugênia Braga foi publicada no livro , cap. 58.