Chico Xavier - Mandato de Amor

Capítulo IX

União Espírita Mineira pergunta, Francisco Cândido Xavier responde



A Casa Mater de Minas Gerais tem a honra de publicar, em seu órgão oficial, a entrevista que supomos seja a primeira concedida pelo médium Francisco Cândido Xavier depois que transferiu suas atividades para o Grupo Espírita da Prece, da cidade de Uberaba, Minas Gerais.

Formulamos dez perguntas, por nós consideradas oportunas, tendo o querido amigo atendido com a compreensão, o carinho e a simplicidade a que estamos habituados, neste longo convívio com o cidadão e o médium.

Oferecemos, pois, com imensa alegria, aos nossos leitores, espíritas e não-espíritas, as respostas que Chico Xavier deu às perguntas elaboradas pela Diretoria da União Espírita Mineira, através das quais identificamos o companheiro de sempre: equilibrado, honesto consigo mesmo e com os outros, consciente de suas responsabilidades pessoais e doutrinárias, generoso e simples.

Acompanhar, pela leitura, o pensamento de Francisco Cândido Xavier, nas respostas dadas, significa, a nosso ver, excursionar, à luz meridiana do amor e da verdade, pelas trilhas amorosas, fraternas e sábias do seu coração e da sua inteligência.


— Querido amigo Chico Xavier: em nossa edição anterior, noticiamos sua transferência para Uberaba, em 1959. Ao chegar nessa cidade, iniciou, imediatamente, suas tarefas na Comunhão Espírita Cristã, da qual vem se desligar agora?

— Sim. Tendo chegado a Uberaba a 5 de janeiro de 1959, nessa mesma data iniciamos as nossas atividades mediúnicas, em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã.


— Sua produção mediúnica envolve o trabalho do livro, mensagens esparsas (em encontros mais íntimos e no final das reuniões públicas), entrevistas em jornais e apresentações na televisão e no rádio. Nossa pergunta prende-se, especificamente, aos livros psicografados: quantos foram produzidos em Pedro Leopoldo (até 1
958) e em Uberaba (de janeiro de 1959, até agora)?

— Até agora, temos 135 livros psicografados, dos já publicados, a saber: 60 em Pedro Leopoldo, de 1931 a 1958, e 75 em Uberaba, de 1959 até agora.


— Seu trabalho, em Uberaba, consistiu sempre na divulgação doutrinária e em tarefas assistenciais, aliadas ao evangélico serviço do esclarecimento e reconforto pessoais aos que o procuram. Quais as atividades que serão desenvolvidas pelo querido amigo, em particular e em geral, no Grupo Espírita da Prece?

— No Grupo Espírita da Prece, recém-fundado, as nossas tarefas habituais, permitindo Jesus, serão as mesmas de sempre, embora com ligeiras modificações no trabalho assistencial.


— Quais os dias e horários de funcionamento do Grupo Espírita da Prece, seu novo campo de trabalho espírita-cristão?

— Do ponto de vista das tarefas públicas, teremos duas reuniões semanais de evangelização, estudos doutrinários e assistência espiritual, às sextas-feiras, começando às dezenove horas e, aos sábados, as nossas tarefas estarão divididas entre um Culto do Evangelho, com atividades de assistência, na zona rural, iniciando-se às dezesseis horas e uma reunião pública de evangelização e estudos da Doutrina Espírita, às vinte horas. Além dessas duas reuniões públicas semanais, a entidade terá serviços outros de ordem privativa, em outros dias da semana.


— O Grupo Espírita da Prece terá personalidade jurídica, com estatuto e Diretoria, ou existirá e funcionará em moldes diferentes?

— O Grupo Espírita da Prece terá personalidade jurídica, com estatuto e Diretoria, nos moldes habituais de nossas instituições, o que será providenciado em momento oportuno.


— O Brasil inteiro sabe que o caro irmão nada usufrui do produto das vendas dos livros psicografados, isto porque os direitos autorais são cedidos. As cessões desses direitos foram feitas sempre para as editoras, ou também para quaisquer outras entidades?

— Os direitos autorais dos livros trazidos até nós por nossos benfeitores espirituais, por meu intermédio, foram sempre cedidos gratuitamente, seja às editoras espíritas, ou a quaisquer outras entidades, sendo que frequentemente as instituições a que nos referimos funcionam ligadas aos respectivos institutos editoriais.


— Há muito tempo não transmitem os espíritos, por seu intermédio, obras romanceadas. Este ciclo já foi terminado ou pretendem os amigos espirituais, oportunamente, dar continuidade à série “Paulo e Estêvão”, “Há Dois Mil Anos”, “50 Anos Depois”, “Renúncia” e “Ave, Cristo”, autênticas pérolas da literatura histórico-mediúnica? Nossa pergunta tem por objetivo atender a indagações que nos são formuladas com bastante frequência.

— O nosso trabalho tem sido sempre subordinado aos critérios específicos de Emmanuel, o benfeitor espiritual que me vem caridosamente amparando desde 1931. No trabalho mediúnico em que me encontro, creio que ele faz sempre o melhor no aproveitamento dos escassos e estreitos recursos que, de minha parte, posso oferecer, dentro das limitações e deficiências em que me vejo.


— Os benfeitores espirituais não têm produzido, ultimamente, obras de cunho científico, como “Mecanismos da Mediunidade”, “Evolução em Dois Mundos”, “Pensamento e Vida”, etc. Entendemos nós que Emmanuel supervisiona, no momento, a reformulação de suas atividades. Perguntamos-lhe: estarão em pauta, na planificação do nosso querido instrutor Emmanuel, livros científicos, para publicação oportuna, que atenderiam a ponderável faixa de leitores, ou o pensamento da Espiritualidade converge, atualmente, para a missão evangelizadora do Brasil, segundo sua destinação de “Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”?

— A pergunta mostra sadio e belo otimismo dos nossos queridos companheiros da União Espírita Mineira e agradeço muito porque isso demonstra confiança e bondade dos caros companheiros para com este pequeno servidor. Estou igualmente certo de que os nossos benfeitores espirituais estarão traçando planos de trabalho os mais construtivos e enobrecedores possíveis. No entanto, em meu caso pessoal, não posso iludir-me quanto às minhas possibilidades sempre mais estreitas. Imaginemos um trabalhador usando uma engrenagem com sessenta e cinco janeiros de formação e quarenta e oito de funcionamento regular. Os programas da oficina em que essa máquina esteja podem ser os melhores, entretanto, essa máquina, em si, não poderá ter fugido à lei do desgaste no campo material da vida. Naturalmente que outras máquinas serão trazidas, em momento oportuno, aos serviços que não devem e nem podem parar.

Estamos convencidos de que numerosos companheiros estarão em desenvolvimento na mediunidade, nas áreas de nossa renovadora Doutrina e atenderão, de maneira imprevisível a nós, os companheiros encarnados, aos planos elevados de serviço que forem traçados no Mais Alto, para o desdobramento das tarefas renovadoras de nossos princípios com Allan Kardec, interpretando Jesus. Quanto a mim mesmo, estarei onde sempre estive, isto é, atualmente na condição de um antigo feixe de imperfeições, nas mãos caridosas dos bons espíritos, rogando a eles que me auxiliem a fazer de mim o melhor que puderem, para que eu seja o melhor que possa.


— E a série, extraordinária, de André Luiz? Será que, nesta nova fase, o querido ex-médico terrestre que de “Nosso Lar” a “Libertação” descortinou fascinantes panoramas do mundo espiritual, dará sequência àquela maravilhosa série revelacionista, em que os problemas doutrinários foram amplamente desenvolvidos? Que nos diz de suas condições atuais para esses novos e luminosos empreendimentos?

— Nesse sentido, sem qualquer propósito de fazer humor, lembro-me de um apólogo que me foi contado por nossa querida Meimei. Uma lâmpada possante, que iluminava certa estrada, entrou em complicações, apagando-se de repente, e foi enviada a conserto. Servidores do trânsito, então, trouxeram ao lugar dela um pirilampo doente para que ele clareasse o caminho. O pirilampo, assustado com as responsabilidades que lhe conferiam, compreendeu que nunca seria a lâmpada, mas, consciente das necessidades e situações complexas do momento, respondeu receoso: “Bem, eu farei o que puder…” Lembro-me disso e pergunto aos queridos amigos da União: que será de mim, que nem mesmo um vaga-lume doente chego a ser?


— Querido Chico Xavier: todos nós que o amamos e compreendemos a transcendência da obra de renovação que os Espíritos superiores realizam por seu intermédio, embora sem condições reais, sob o ponto de vista do entendimento, para penetrarmos-lhe o sentido profundo, desejaríamos, com toda a força de nosso coração, fazer algo em favor da sua felicidade, da sua paz, do seu trabalho. Se lhe fosse dado, na oportunidade desta entrevista, pedir uma ou várias coisas aos espíritas brasileiros, o que pediria através das colunas de “O Espírita Mineiro”, jornal que o querido amigo pode considerar seu, hoje, amanhã e sempre? Consideraremos sua resposta por mensagem de seu coração ao coração da coletividade espírita nacional.

— Queridos amigos, se algo posso dizer em resposta, devo afirmar que de todos os companheiros espíritas, sem nenhuma exceção, tenho recebido, constantemente, os mais elevados testemunhos de carinho e de auxílio, solidariedade e proteção. Nada poderia, de minha parte, pedir à nossa querida família espírita-cristã do Brasil, que tudo me proporciona em benefícios incessantes para que eu trabalhe e seja feliz. Assim sendo, se algo posso rogar aos nossos irmãos, peço a todos o apoio da prece, em meu favor, para que eu seja reconhecido a eles todos e grato aos amigos espirituais que tanto me ampararam, esperando que eu venha a errar menos e a acertar mais no desempenho de meus deveres.

E à querida União Espírita Mineira o meu “muito obrigado”, com o respeito e gratidão de sempre.




(Entrevista concedida em Uberaba. MG, no dia 2 de Julho de 1975. Fonte. “O Espírita Mineiro”, número 164, julho/agosto de 1975.)