Chico Xavier - O Primeiro Livro

Capítulo XX

Capítulo XX



I


Antes a nossa vida terminasse

No turbilhão de pó da sepultura;

Antes a morte fosse a noite escura

Onde o ser nunca mais se despertasse.


Ah! se a nossa existência se acabasse

Cessaria decerto a desventura!

Contudo a vida é o bem, que se procura,

Morrer é ver a vida face a face.


Todavia se sofro, ó Deus clemente,

É que sou o criminoso, o delinquente

E o enfermo sem paz e sem saúde.


Perdoai à minh’alma se blasfemo,

Ponde em meu coração o dom supremo

Da humildade que é a auréola da virtude.


II


Um dia eu me senti como se fora

O infeliz legendário

E andei no mundo, triste e solitário,

Sentindo frio n’alma sofredora,


Sonhei na morte a estrada salvadora,

Ao meu grande martírio imaginário

E sem notar meu trágico desvario

Afundei-me na treva aterradora.


Tanta vez a minh’alma enferma e aflita,

Sonhou a paz nirvânica, infinita,

E apenas tenho a dor que me devora!


Ó Senhor, abrandai as minhas penas,

Inda sou entre as lágrimas terrenas,

Uma lama imortal que sofre e chora!




Na sessão do dia 28-02-1934.