INa vida transitória da matéria Julgava os homens corpos putrefatos, Produtos de elementos correlatos, Agregação de humor e de misérias. E a alma? Função da carne deletéria Cheia de instintos lúbricos, inatos, Conduzia-me a análise dos fatos Em sua enganadora periferia. O cérebro era o centro aonde eu cria Gerar-se a força plásmica do “plexus” A candeia onde a luz se asfixia. Resolvia os problemas mais complexos E a própria luz da vida eu resumia Na confusão erótica dos sexos. IIDepois eu vi meus membros carcomidos Transformarem-se em húmus fecundantes, Em fibromas e larvas repugnantes Na mansão soturnal dos esquecidos. E vi desagregarem-se os tecidos Transubstanciados e nauseantes, Tendões e nervos, ossos perfurantes, Tegumentos de terra apodrecidos. Conhecendo-me pútrido, esquelético, Levantei-me — figura de apoplético — Congestionado em túrbida agonia. Apalpei os meus órgãos assombrado, E vendo a mim e ao corpo dessorado Constatei que a minh’alma inda vivia!… IIIReconheci que a vida que eu vivera De misantropo cego pela ciência, Em que neguei do Espírito a existência Era a treva do mal que eu concebera. Reneguei as lições que eu aprendera Com o raciocínio em degenerescência, Refundindo o clarão da inteligência Na bondade do Pai de Quem descrera. E desprezando o bisturi da ideia, Exalto agora a rútila epopeia Da excelsa luz que empolga os dias meus; Vindo clamar a toda a humanidade: — “Esquecei-vos da torva iniquidade! Atrás da sombra existe a luz de Deus!” |
Sessão de 07-03-1934.