Chico Xavier Pede Licença

Capítulo XII

Na senda diária




Pensa, pelo menos de quando em quando, nos irmãos que se congelaram em pessimismo e nas grandes tarefas interrompidas, à míngua de amparo, lembrando terras fecundas largadas à esterilidade e ao abandono, por falta de amor.

Ao redor de ti, enxameiam corações sequiosos de entendimento e colaboração, a esperarem quase que unicamente pelo toque mágico de uma palavra boa, a fim de se inflamarem nos dons do serviço.

Não admitas a presença do desânimo à tua mesa de fraternidade e harmonia.

Oferece a quantos te busquem alento e convívio o pão substancioso do entusiasmo que te alimenta as realizações.

Semeia esperança e coragem no solo do espírito. Recorda a chuva criadora e o orvalho nutriente com que a natureza levanta as energias da Terra e oferece aos outros o melhor de ti mesmo.

O próximo é a nossa ponte para o mundo. Mostra-te agindo e servindo para a vitória do bem e a tua mensagem será irradiada por todos aqueles que te assinalem o trabalho ou te escutam a voz.

Em toda parte, sentimo-nos à frente da comunidade, à maneira de quem se vê defrontado pela própria família expectante.

Fornece simpatia e admiração, bondade e otimismo.

Beneficência não é tão só o dispensário de solução aos problemas de ordem material; é também, e muito mais, o pronto socorro à penúria de espírito.

Detém-te a refletir nos companheiros cansados, tristes, desiludidos, desencorajados, [abatidos] ou exaustos que te cruzam a estrada e distribui com eles a paz e a renovação.

Qual acontece com os outros, tens igualmente a tua obra a realizar e a porta do auxílio abre-se de dentro para fora.

Se alguém precisa de ti, também precisas de alguém. Dar será sempre o melhor processo de receber.


Ponte para o mundo



O homem fechado em si mesmo é um animal egoísta. Não enxerga um palmo além do nariz, como ensina ó ditado popular. Só pensa nele mesmo, só cuida dos seus interesses. Não vive como gente, vegeta como um rato no seu buraco. É contra esse perigo de ensimesmamento, essa terrível saturação do egoísmo, que Emmanuel nos adverte em sua mensagem. E, indicando o remédio, nos diz: O próximo é a nossa ponte para o mundo.

Quando Descartes pôs em dúvida todo o conhecimento do seu tempo, descobriu a ideia de Deus no mais profundo de si mesmo. Essa ideia lhe serviu como ponte para religá-lo ao mundo de que ele se havia isolado. Emmanuel nos mostra que a ponte é o nosso próprio semelhante. E isso concorda com o ensino evangélico de que amar ao próximo é o mesmo que amar a Deus. A ponte para o mundo se constitui, portanto, do mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. (Mt 22:36)

Os egoístas consideram tudo isso como simples lorota. Mas a vida social se incumbe, por si mesma, de provar-lhes a realidade desses ensinos. Porque ninguém pode viver sozinho, isolado, fechado na sua casca. Todos precisam de todos. Há duas formas de transcendência, ensina o psicólogo Karl Jaspers: a transcendência horizontal e a transcendência vertical. O homem só pode elevar-se, transcender os limites estreitos do seu ego e da sua animalidade, ligando-se aos outros no plano das relações sociais (horizontal) ou elevando-se a Deus através do sentimento religioso (vertical) . Quem se eleva através da transcendência horizontal acaba também se elevando através da vertical e vice-versa.

É fácil e cômodo considerar os outros como outros, como estranhos a nós. O comum dos homens procede assim. Mas os homens que superam o comum, que possuem mente mais arejada que o vulgo, sabem que os outros são o nosso próximo e que as dores dos outros são nossas também. Daí o ensino de Emmanuel: Se alguém precisa de ti, também precisas de alguém. A sociabilidade perfeita consiste na compreensão desse princípio.



Esta mensagem foi publicada originalmente em 1971 pela FEB e é a 50ª lição do livro “”