Chico Xavier Pede Licença

Capítulo XXIII

Mediunidade e experiência




Se as fábricas de automóveis contassem exclusivamente com as autoridades que lhes desenham as máquinas, calculando resistência ou imaginando primores de forma, decerto que não passariam de berçários para a conservação de modelos.

Se os laboratórios dispusessem unicamente das inteligências que lhes compõem as fórmulas de que resultam exatas conjugações de agentes químicos, o medicamento jamais chegaria aos enfermos.

Se a música possuísse tão somente compositores eméritos a lhe gravarem a beleza, em pauta adequada, nunca se retiraria do silêncio para o campo do som, em auxílio aos seres humanos.


Assim também na mediunidade.

Se as ocorrências mediúnicas devessem apenas contar com a presença dos estudiosos e analistas que lhes investigam as manifestações e lhes colocam as afirmativas à prova, o intercâmbio espiritual feneceria por inexistente.

Sem dúvida precisamos de especialistas e técnicos em todos os campos da teoria, mas não podemos desprezar a prática dos ensinamentos que se refiram a progresso e aperfeiçoamento e nem desprestigiar aqueles que a ela se dedicam empregando o máximo de si próprios em favor dos semelhantes.

Sem mecânicos e motoristas, que muitas vezes arriscam a vida em louvor do próximo, ó mundo não disporia do automóvel ganhando tempo.

Sem operários e distribuidores a despenderem grande esforço, o remédio não alcançaria os doentes.

Sem executores que lhe ofereçam atenção integral, a música não sairia das notas escritas.

E sem instrumentos que se disponham a suportar obstáculos e problemas, dificuldades e provações em benefício da causa do Amor e da Verdade, entre as criaturas, efetivamente a mediunidade não serviria para ninguém.


Forma e linguagem



A mensagem mediúnica, na forma de “Mediunidade e Experiência”, de Emmanuel; é geralmente considerada inócua por certos estudiosos do Espiritismo. E isso por duas razões principais: 1ª) pela construção figurada, em linguagem redundante com aparente desperdício de tempo e espaço; 2ª) pela falta de elementos que provem a sua procedência espiritual e não apenas anímica. Mas o próprio texto dessa mensagem traz a sua justificativa. A comunicação mediúnica é antes de tudo um processo de comunicação, ou seja, não deve destinar-se exclusivamente a estudos e pesquisas no campo teórico. Sua finalidade prática é a sua própria razão de ser.

A forma da mensagem acima citada não agrada aos intelectuais, mas corresponde às exigências da comunicação popular numa grande área demográfica. Sua estrutura é didática e sua linguagem formalizada atende a um tipo médio de sensibilidade popular, facilitando a comunicação. Não importa o problema de identificação espirítica. O que importa é levar ao povo um ensinamento de maneira ao mesmo tempo racional e emocional. Os que reclamam contra o formalismo das comunicações mediúnicas de Emmanuel não compreendem a importância prática do diálogo que ele estabeleceu e mantém há quatro décadas com vastas áreas da nossa população, preparando-as pacientemente para uma visão mais elevada da vida.

Alega-se que esse método afugenta as pessoas intelectualmente mais aptas. Mas a vasta produção mediúnica de Chico Xavier abrange numerosos livros que, por sua vez, são acessíveis apenas aos intelectuais. Esses volumes dirigem-se especialmente aos teóricos, aos pesquisadores. E seria absurdo que se restringissem — o médium e os Espíritos comunicantes — a essa área de elite. A mensagem espírita deve atingir todas as faixas da população, levando a cada qual a forma e a linguagem apropriadas. Mas os próprios intelectuais, quando são capazes de colocar-se ao nível do povo, deixando de lado as suas pretensões e os seus preconceitos, têm muito a aprender com essas mensagens populares.