SOMOS AUTÔMATOS OU LIVRES? — Reunião de estudos em Uberaba. Grupos de visitantes de diversas cidades participavam do trabalho e a preocupação geral era a ideia de Deus. Muitas indagações, inclusive esta: “O homem é livre ou é um autômato perante Deus?” Aberto “” caiu a pergunta 558, onde se afirma que os Espíritos são os ministros de Deus.
Chico Xavier escreve-nos a respeito:
“Parecia-nos estar num clima de resposta às indagações de ordem geral e os comentários de nossos irmãos presentes foram muito valiosos. Na fase terminal o nosso caro Emmanuel escreveu, por nosso intermédio a página que ele próprio intitulou Deus e nós”, que envio ao estimado amigo na suposição de que ela possa servir às nossas reflexões, com apoio de sua palavra.”
Deus nos garante a vida.
Cabe a nós outros aperfeiçoá-la e engrandecê-la.
Deus nos provê de inteligência.
Respondemos pela formação da cultura.
Deus nos ilumina com a razão.
O discernimento corre por nossa conta.
Deus nos alimenta através do amor.
Obteremos sempre do amor o que fizermos com ele.
Deus suscita as circunstâncias.
De nós depende a escolha da ação para utilizá-las.
Deus cria a possibilidade.
O trabalho é obra nossa.
Deus concede o dom de falar.
A palavra nos diz respeito.
Deus espalha recursos.
Somos chamados a valorizá-los e desenvolvê-los.
Deus sugere o bem.
Está em nós o senso de concordância.
Deus cria a semente.
Temos o privilégio da plantação no cultivo do solo.
Deus nos envia o melhor que somos capazes de receber.
Aceitação ou rebeldia vertem de nós com os resultados atribuíveis a cada uma.
Deus estabelece o pensamento livre.
Detemos o poder de manejá-lo na pauta dos princípios de causa e efeito.
Em todos os lugares encontraremos a criatura associada ao Criador nas ocorrências da Criação.
A Divina Providência e a Humana Cooperação surgem sempre juntas em todas as realizações da vida, isso porque de Deus vem a dádiva e do Homem dimana a aplicação. E já que a Justiça Perfeita nos acompanha e observa em todos os passos da jornada evolutiva, a lei da responsabilidade funciona em todos os climas, determinando méritos ou necessidades de toda pessoa em particular e reduzindo todas as teorias de recompensa e punição ao sábio preceito evangélico: “A cada um segundo as suas obras”. (Sl
O princípio inteligente é a matéria-prima de que somos feitos. Esse princípio está presente e faz parte de todas as coisas e de todos os seres. Agindo no íntimo da matéria ele a transforma nos reinos sucessivos da Natureza. É o poder criador de Deus em ação incessante. No espírito esse poder se atualiza — passa de potência a ato — e no reino hominal (no homem) frutifica em razão e discernimento. Antes do reino hominal o espírito se desenvolve nos reinos inferiores, mas só no homem recebe a luz da razão.
No ventre materno e na primeira infância a criança não tem liberdade. É presa das leis naturais, dominada pelos instintos, controla,da pelos adultos. Mas, quando acorda para a realidade de si mesma e do mundo, revela vontade própria e começa a investir-se da sua liberdade individual. Assim é o homem. Deus o cria do barro da terra, segundo a bela expressão bíblica, arranca-o das entranhas da matéria. Até que ele adquira a luz da razão, o seu crescimento é determinado pelas leis naturais. Mas, ao adquirir a individualidade, ele é o Adão que come o fruto da árvore da sabedoria. Nesse momento se desliga de Deus e passa a agir por si mesmo. Sua volta a Deus será agora um religar que depende dele mesmo, uma volta consciente através das suas obras.
Deus não cria autômatos, não cria robôs. Cria espíritos para a liberdade e a responsabilidade. Mas essas duas coisas devem ser conquistas do próprio Espírito. É na vida de relação, no processo social, no mundo material e no mundo espiritual, que as obras do homem determinam a sua evolução, o seu crescimento. O plano imediatamente superior ao humano é o da angelitude, o dos espíritos superiores que as religiões chamam de santos e anjos. Ao atingir esse plano os espíritos se fazem ministros de Deus, inteligências livres e ativas, responsáveis, colaborando na obra divina. Mas o homem, antes de atingir esse plano, emprega a sua liberdade nas obras que realiza — pensando e agindo, criando e produzindo — “na pauta dos princípios de causa e efeito”, como esclarece Emmanuel.