Leitores nossos escreveram diretamente a Francisco Cândido Xavier, solicitando a opinião dos Espíritos sobre os temas: Amor, casamento e divórcio. O médium esperava receber uma resposta de Emmanuel, mas a mesma foi dada, para sua surpresa, através das quadras abaixo. Chico nos escreve: “Com surpresa para nós, as respostas vieram de trovadores desencarnados, cada uma contendo um ponto de vista”. Chico Xavier lembra, porém, que, nas Esferas espirituais mais próximas da crosta terrestre, os Espíritos conservam seus pontos de vista pessoais em face dos problemas humanos.
O amor a tudo resiste: Treva, espinho, pedra e lama. O divórcio não existe No coração de quem ama. Felicidade no amor? Não me perguntes qual é. Quando fiel a si mesmo Todo amor merece fé. Casamento é um céu a dois Por entre sombras contrárias. Laços, que venham depois, São provações voluntárias. Bendita a mão que escreveu Essa sentença que dou: “Quem amou nunca esqueceu, Quem esqueceu nunca amou”. O amor aos outros, no fundo, É a luz que encontro por fim, Com que me livre no mundo Da sombra que trago em mim. Divórcio não tem censura, Mas se o fazes… Desde agora, Atrasas conta madura Pagando juros de mora. Casamento, muitas vezes, É um rol de penas sofridas Em que os cônjuges se pagam Por débitos de outras vidas. O divórcio nunca erra No par em distância inglória, Certas dívidas na Terra Precisam de moratória. Amor que vive no lar Nunca lida ou sofre em vão. Todo amor de sacrifício É luz de sublimação. Caridade lembra um mar, Imenso, renovador, Que acolhe sem transbordar Todas as fontes do amor. |
Cada qual com sua trova, a pontear as violas celestes, os trovadores do Além respondem às perguntas ansiosas da Terra. A 23 de janeiro de 1972 tivemos a oportunidade de publicar dez trovas definindo os problemas do amor. Agora voltam os poetas, em número idêntico, para atender os pedidos dos homens. Cinco deles realmente voltaram, mas acompanhados de outros cinco que não figuravam na rodada anterior. Os que voltaram são estes: José Albano, Lívio Barreto, Ulysses Bezerra, Auta de Souza e Antônio de Castro.
Por que responderam em trovas? Certamente por tratar-se de temas líricos e porque a trova permite uma resposta sintética. Cada uma dessas trovas coloca o problema do amor, do casamento e do divórcio em termos claros e precisos. E isso em poucas palavras, valorizando a expressão gráfica e oral do pensamento. Um verso resume um discurso e os argumentos se transformam em projéteis, em pequenos dardos ou balas que atingem prontamente o alvo. Têm mão firme e certeira esses trovadores do Além.
Lívio Barreto inicia o ponteio mostrando que o verdadeiro amor não se abala com nada. Deraldo Neville não condena o divórcio, mas lembra que ele prorroga uma dívida “pagando juros de mora”. Ulysses Bezerra adverte que a dívida é mútua, o que exige ponderação. José Albano compreende que o casal já separado não tem outra solução, precisa de moratória. Antônio de Castro louva os que se suportam no lar sublimando-se. E os outros trovadores acentuam, aspectos geralmente descuidados da vida conjugal, enquanto Auta de Souza, a poetisa da caridade, lembra que também no lar essa palavra mágica pode e deve produzir milagres.
O balanço das opiniões nos mostra um saldo positivo e favorável: o amor é a lei que une e conserva unidos os corações; a separação é sempre uma prova de falta de amor; o divórcio é um remédio social, como Kardec o definiu, mas sempre remédio, de que os sãos não precisam. Em meio a essas opiniões, a trova de Irene Pinto é um chamado à responsabilidade. O céu a dois, na Terra, não exclui as sombras contrárias, e os laços que vierem depois do casamento sempre serão “provações voluntárias”.