Chico Xavier Pede Licença

Capítulo VIII

Uniões




Ligeira ponderação acerca de sucesso em casamento, ligação, companheirismo e sociedade nos induz a reconhecer que as criaturas, para serem felizes, em se aproximando umas das outras, não buscam apenas o contato de agentes físicos, mas acima de tudo os recursos da alma.

Quando na Terra, estamos sempre à caça de valores espirituais intangíveis, através de objetos visíveis, como sejam:

paga-se o automóvel, não para nos apossarmos de um monte de peças inteligentemente encadeadas, e sim para desfrutarmos a alegria de ganhar tempo;

adquire-se o livro, não para retermos um tijolo de papel e tinta e sim, para colhermos nele, a informação ou a cultura de que se faça mensageiro;

obtém-se a lâmpada, não para que venhamos a guardá-la por mimo técnico, à feição de relíquia, e sim para que ela nos transmita a luz de que carecemos;

consegue-se um par de óculos, não para nos enfeitarmos com as lentes que o compõem e sim para assegurarmos o necessário auxílio aos olhos, no setor da visão;

compra-se o cobertor, não para adornarmos o leito com os primores da indústria e sim para que tenhamos, por ele, o calor suficiente que nos resguarde contra os golpes do frio.


Assim também nas uniões afetivas para a consagração dos interesses mútuos de qualquer natureza.

Procura-se na esposa ou no esposo, no parceiro ou na parceira, no amigo ou no sócio, não a pessoa física em si, mas a criatura que nos forneça compreensão e tranquilidade, estímulo e bênção, a fim de que tenhamos paz na execução das tarefas a que fomos chamados no currículo de lições da existência.

Compreendamos que para nos prevenirmos contra divórcio e separação, desajuste ou distância, convém doar aos corações que nos compartilham a experiência, em sentido direto, todo o amor de que sejamos capazes, porquanto só o amor garante as uniões serenas e duradouras e somente aqueles que amam — mas só aqueles que amam realmente — encontram em si próprios a energia precisa para se renovarem, acima de quaisquer circunstâncias adversas, e a força necessária para contar com Deus no desempenho do trabalho que a Lei de Deus lhe traçou para a vida.


Questão de valores



Os problemas da vida terrena podem ser resumidos numa questão de valores. Quando Emmanuel nos explica, através da psicografia de Chico Xavier, que estamos na Terra “sempre à caça de valores espirituais”, não está apenas jogando com palavras nem simplesmente advertindo-nos quanto a problemas morais. As mensagens de Emmanuel, em geral, colocam-nos em face de questões filosóficas. Em “Uniões” temos uma colocação prática — e por isso mesmo didática — do problema dos valores, que à semelhança do problema do Ser, vem provocando debates e controvérsias desde os gregos até os nossos dias.

Emmanuel não pergunta pela natureza do valor. Mas nos leva naturalmente a compreender a sua essência, e isso através de exemplos corriqueiros da vida cotidiana. Todas as coisas “valem”, para nós, na medida da sua capacidade de transcendência. Basta isso para nos provar, melhor do que longos discursos, que toda a nossa vida na Terra é um esforço contínuo de transcendência. Esse esforço é inconsciente na maioria das vezes, e só se torna consciente na proporção em que despertamos para a compreensão de nós mesmos, como o Oráculo de Delfos ensinou a Sócrates.

“Através de objetos visíveis”, levados pelo fascínio exterior das coisas, buscamos os valores intangíveis do espírito. Mas quando o nosso apego à ilusão sensorial ainda nos prende, nos amarra ao tangível, a posse do objeto desejado nos causa conflito. Namoramos a jovem encantadora ou o jovem elegante e inteligente, noivamos e casamos. Depois, no convívio do matrimônio, percebemos que o encanto espiritual se desfaz na rudeza dos atritos sensoriais. Procurávamos no companheiro ou na companheira “não a pessoa física em si”, mas não entendíamos isso, e o que temos na vida comum é aquilo que não procurávamos. As desilusões que então enfrentamos nascem da nossa falta de compreensão dos problemas do espírito.

O amor dos sentidos, que nos impeliu à criatura escolhida, deve amadurecer no processo da união, transformando-se em amor verdadeiro, amadurecendo em amor espiritual. Sem esse amadurecimento os atritos contínuos nos levarão ao rompimento e à frustração. O encanto do ser amado desapareceu com a proximidade e a convivência, porque não soubemos transcender as ilusões sensoriais. É por isso que muitos casais separados voltam a se procurar mais tarde, quando a vida os obrigou a enxergar além dos sentidos. O amadurecimento, através da experiência da vida, produz o desgaste das sensações ilusórias. O Espírito redescobre então, na criatura rejeitada, os encantos espirituais que produziram a fascinação inicial. Mas quantas vezes, nesse momento, as amarguras e os ressentimentos já tornaram impossível o reencontro nesta existência, obrigando então as criaturas a novas tentativas através da reencarnação. Porque as almas se buscam no plano do espírito e não no plano da carne, onde só falam e imperam os instintos animais do corpo.


Mudanças de sexo

Muitas pessoas rejeitam o princípio espírita da mudança de sexo na reencarnação. Essa mudança, segundo explicam os Espíritos, decorre das próprias necessidades evolutivas da criatura. Homem e mulher, na essência, são a mesma coisa — Espíritos encarnados. Mas as posições de ambos, na Terra, são bastante diversas, proporcionando experiências diferentes. Daí o engano do feminismo extremado que pretende igualar totalmente os dois sexos. Os direitos são iguais, mas as funções são diversas. Homem e mulher se completam na parceria humana, um é complemento do outro.

No livro de Ian Stevenson, “20 Casos Sugestivos de Reencarnação”, os leitores encontram casos de mudança de sexo de uma para outra encarnação. Um deles foi verificado aqui mesmo no Brasil. E note-se que o Dr. Stevenson não é espírita. Seu interesse pelo assunto é puramente científico.