Quando o Grande Processado Ouviu a condenação, O povo esperava, aflito, Os gestos de reação. Não se dizia emissário Da majestade de Deus? Por que dobrar-se humilhado À tricas de fariseus? Não se afirmava o Senhor? Não era o Divino Mestre? Por que curvar-se à injustiça No campo da dor terrestre? Fala-se que Jesus Era o Caminho, a Verdade, A Vida Vitoriosa No seio da Divindade… Entretanto, pobre e humilde, Em face da multidão, Era Ele tido à conta De feiticeiro e ladrão. Vencido e dilacerado, O sangue a empapar-lhe a fronte, Contemplava, angustiado, A fímbria azul do horizonte. O povo, porém, não via Nem milagres, nem sinais… Onde o socorro divino Das hostes celestiais? Martírios e bofetadas. E o Mestre não reagia, Suportando a cruz pesada Na túnica da ironia. Que fazia o Condenado? Por que não pedir dos céus Incêndios, misérias, pragas, Flagelações, escarcéus? Onde os carros poderosos De Jesus de Nazaré? Onde as armas e soldados Pela paz da nova fé? O Justo, porém, na cruz, Ouvindo perguntas mil, Viu que a turba inda era frágil Ignorante e infantil. E o Mestre, fitando os Céus, Deu a divina lição Do amor que redime a vida No silêncio e no perdão. |