27/04/1949
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita saúde, alegria e paz.
Nossos pensamentos recebem a comovedora lembrança dos nossos amigos que regressaram a 21 e pedimos ao Alto, endereçando nossas solicitações aos nossos benfeitores, para que o General Aurélio e a irmã Júlia recebam igualmente de nós as melhores vibrações de nossa gratidão e alegria.
O nosso companheiro em tratamento, em verdade, revelou a sua fibra de jequitibá em todos os dias de sua permanência na montanha. Aprendam vocês, meus filhos, a guardar semelhante fortaleza, porque não basta relacionar muitas flores nas frondes de nossa vida. É indispensável que nos façamos resistentes perante a tempestade. O General é realmente um herói, mais destacado nestes últimos tempos em que a ventania das circunstâncias lhe abalaram os preciosos fundamentos da saúde. Grande é a mensagem dele para nós todos que lhe observamos o comportamento em plena luta.
e comemoro com vocês as alegrias do novo ano de felicidade conjugal, além das Bodas de Prata. Permita o Senhor possamos vê-los na mesma comunhão espiritual de todos os dias. Os laços imperecíveis que lhes unem os corações nos mesmos pontos de vista, no mesmo esforço e nas mesmas alegrias chegam de muito longe. Digne-se o nosso Mestre e Senhor abençoar-lhes hoje e sempre as esperanças de felicidade maior, sempre mais sublime e mais vasta.
Já que a noite nos sugere pensamentos com um conteúdo de emoção assim tão intenso, permito-me partilhar-lhes os entendimentos com relação à propriedade que desejam adquirir no Rio. Perdoem-me tanger essas cordas de nossa instrumentalidade na tradução do hino da vida no presente, mas é que não desejo vê-los demasiadamente preocupados com o problema. Se optarem pela iniciativa agora, busquem-na unidos, dois a dois, em qualquer frente.
A sintonia é tudo numa união como a de vocês, cuja beleza todos nós admiramos incessantemente. A existência na Terra, sob qualquer aspecto, é uma batalha cuja vitória não permanece no mundo.
Assim sendo, em qualquer cometimento, relacionem, como é justo, o caráter de “combate” que reveste a experiência humana em todos os setores. Em todas as posições e situações humanas, prevalecem as probabilidades a favor ou contra nós. Quem retém patrimônios de saúde física pode perdê-los quando menos espera. Aquele que amealha recursos num banco pode experimentar a decepção com a desvalorização do dinheiro. Quem adquire uma casa está naturalmente sujeito a muitas perdas e danos. Pensem no caso sempre assim, com esse espírito de quem se utiliza de qualquer benefício do mundo, como quem desfruta de valioso empréstimo. Até agora vocês acreditaram no valor do trabalho e isso representa suficiente lastro de êxito em qualquer medida que adotem, porquanto, de qualquer maneira, a primeira posição de vocês é no “espírito de serviço”. Em razão disso, não temam nem sofram preocupações excessivas. Traçado esse preâmbulo sobre a transitoriedade das experiências humanas, tomo a liberdade de penetrar diretamente no assunto, não como um advogado hábil que desejasse salientar os pontos de vista de uma parte com esquecimento da outra. Não. O que vocês fizerem hoje é também trabalho que me pertence, porque vocês participam de tudo que estou fazendo.
A infalibilidade é uma condição da qual todos nós nos achamos infinitamente distantes. E, por isso, podemos experimentar sempre e toda vez que o “erro da boa intenção” estiver de nosso lado, o erro se converterá no benefício de preciosa lição. Considero, desse modo, que o assunto da compra é oportuno, dependendo do imediatismo do acordo de vocês dois. Naturalmente, a Bondade Infinita nunca nos cessará as portas e haverá sempre um recurso para as nossas necessidades. Em virtude disso, podem julgar mais oportuno o adiamento da aquisição, mas é importante que continuem pensando nela. Em meu paternal coração, procuro vê-los, cada vez mais dilatadamente, nesse campo harmonioso, de alegrias fartas e de céu azul, cheios de paz, de felicidade e de alegrias… No íntimo, o que eu mais idealizo é que o Roberto aqui pudesse amparar a obra admirável a que o Rômulo e você, minha querida Maria, consagraram tão belos anos da vida e tudo faremos para que este parque de serviço e de paz seja honrado por todos os que se desvelam no bem coletivo, entretanto, achamo-nos com verdadeiras multidões de espíritos que pensam em rumo oposto e em verdade é preciso prever, antes de remediar, qualquer problema inquietante. Um ninho para vocês no Rio, onde possam respirar no clima de vida coletiva a que se habituaram pelos ideais superiores que esposaram na vida, é algo de necessário em que nos cabe pensar.
Não posso, em sã consciência, fazer indicações diretas, como no caso presente, em que a questão comparece solicitando decisão de caráter apressado, mesmo porque nunca é agradável recebermos uma obra incompleta, ainda mesmo quando respeitáveis sejam as promessas de acabamento, mas nesse particular admito que o propósito de uma propriedade no Rio de Janeiro, a que nos reportamos, com o espírito de progresso em torno do lar e com o mar à frente, é uma realização ponderável, com todos os característicos de oportunidade com vistas ao futuro. Tratemos, pois, do caso, com serenidade.
Há enigmas naturais que não se decidem com alegria, mas que a providência manda resolver atendendo à nossa própria felicidade. Vocês merecem essa bênção de um lar próprio no Rio para qualquer eventualidade e muito têm trabalhado para consegui-la. O destino simbolizando o determinismo de ordem superior há de facilitar-nos a execução desse plano. Em razão do exposto, só peço a vocês harmonia de vista, integral, no caso.
Com os corações entrelaçados, não há sombra no caminho que o Senhor nos concedeu a trilhar. Agora que a Providência lhes renova o domicílio no campo, há de auxiliá-los igualmente a conseguir o da cidade. Resolvamos com calma, com paz e muita alegria. Vale mais a vitória da perfeita união espiritual, ainda mesmo que as lutas humanas aumentem ao redor de nossos passos, que muito êxito na experiência terrestre sem esse tesouro de harmonia que vocês souberam acumular pelo trabalho, pela compreensão e pelos anos bem vividos.
Estaremos juntos nas decisões e Maria será a nossa representante legal, analisando as probabilidades, ajustando-as, adiando-as ou coordenando-as, na qualidade de pensamento orientador do nosso “reino doméstico”. Não lhe faltam tirocínio e nem luz, porque, para isso, tem sabido lutar, trabalhar, perseverar e vencer, com a ordem e com o bem.
Meu caro Rômulo, acompanharei vocês nas viagens e espero não se esqueçam dos elementos homeopáticos. Você vai bem melhor dos rins e o nosso receitista é de parecer que persista com o Cantharis, evitando, naturalmente, na viagem os processos muito violentos de transição da mesa, como sejam os pratos de carnes excessivamente condimentadas. Quanto ao mais, o “copo d’água pura” é o nosso melhor veículo de tratamento, depois das sutilezas maravilhosas do passe magnético.
Tudo vai bem com o auxílio divino. A vocês todos, o grande abraço muito enternecido e saudoso do papai que não os esquece,
Nota da organizadora: Dia do mês em que se comemoravam as bodas nupciais de Rômulo e Maria Joviano, ocorridas em 1923.