20/12/1950
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-lhes muita saúde, paz e alegrias.
Rejubilando-me ante as homenagens afetivas de nossos corações ao Roberto, na semana finda, rendo graças pelo apoio e solidariedade que nos prestaram, na direção dele, à frente das lutas comuns ao campo juvenil.
Agora é o “mar largo”. Habituemo-nos com a ideia de que ele deve encaminhar-se para o futuro usando as próprias armas. É razoável pensar assim para que o nosso amor seja sempre para o neto um motivo de libertação e engrandecimento. Natural que nunca nos afastemos definitivamente das bases respeitáveis. A planta guarda as raízes no solo em que nasceu e produz no espaço imenso. Compreendo a luta íntima a estabelecer-se nas praças anteriores de nossa alma nos momentos de “separação espiritual”.
Aí na Terra, graças a Deus, pela experiência de muitos séculos trazida dentro de meu campo interior, em forma de tendências, não senti muita dificuldade para fazer essas operações. Muitas vezes, o meu raio visual atingia uma zona menos devassada do horizonte, mas se houve alguma coisa em meu paternal roteiro de que me possa alegrar é a de que, no fundo, nunca retirei dos filhos e filhas o impulso de experimentar. Deixemos o neto, não à revelia de nosso carinho ou vigilância, mas no continuísmo do aprendizado. O colégio agora, para ele, alargou-se. É a universidade do mundo em que vocês e eu também estamos matriculados, agindo e criando para a nossa felicidade no presente e no futuro.
Não me refiro a semelhantes cuidados porque veja em vocês qualquer nota de apego pessoal, justo no santuário doméstico. Vocês sempre souberam trabalhar mentalmente para ajudar aos filhinhos a se exercitarem para a livre escolha do trabalho e da experiência no mundo. Reporto-me, sim, à medicina preventiva do sentimento, que devemos sempre fazer pairar em campos invariavelmente mais altos de luta, de vez que o filho crescido é mais o companheiro de caminhada que a luz afetiva dos nossos olhos. Vejamos os quadros da vida e conservemos o nosso coração cheio de amor e boa vontade. A nossa confiança em Roberto deve ser justa e grande, e só podemos esperar das resoluções dele o maior bem.
Trago a vocês, meu caro Rômulo, os meus “parabéns” pelo aniversário. Comemoramo-lo com valioso serviço de sementeira junto dos nossos. A sua visita ao lar foi muito feliz. Ainda aí, meu filho, vemos a imagem do filho transformado em companheiro. Você, na conversação com sua mãe e com as irmãs, foi muito mais o amigo humano que o parente pelos laços da experiência física. Felizmente, estivemos ambos tão identificados que me senti, não como pai ou chefe invisível da casa, mas na condição de um associado saudoso que volta de longe, interessado no bem geral. Você teve a serenidade precisa para fixar os meus humildes pensamentos e projetá-los aos ouvidos que nos escutavam. Observou o seu coração junto do meu que em muitas ocasiões é necessário nos transformemos em “crianças espirituais” para atingir a cidadela dos preconceitos cristalizados. O assunto me impele a imaginar um forte guardado por soldados bem munidos que, naturalmente, não abririam passagem a contendor visivelmente armado também, mas experimentaria contentamento e reconforto em abrindo a porta ao menino sem bagagens. Assim, na maioria dos casos, é o coração humano, mormente quando a cabeça empolga o sentimento em quase todos os ângulos da personalidade. Não convém nos dirijamos aos outros revelando os nossos preciosos instrumentos de verdade infalível… Mais vale penetrar a visão dos que nos buscam ou nos recebem na posição juvenil da mente que em todas as coisas e circunstâncias vem procurando aprender ou semear algo de útil ou de belo.
Creia que a alegria conquistada por você é vitória espiritual do melhor quilate. Pouco a pouco, acentuaremos os nossos triunfos. O tempo reclama da parte dos nossos um esforço mais intensivo e mais eficiente na aquisição de valores realmente substanciais. Não conseguiremos nossos fins tentando aprimorar ou acelerar os nossos processos de dar ou transmitir a eles aquilo de que carecem, e sim descobrir um recurso de auxiliá-los a receber e guardar os bens do espírito que lhes destinamos.
Quanto ao mais, felicito a você pela nova colheita de bênçãos no dezenove de ontem. A vida é uma romagem de luz para quem segue assim, quanto você, de mente, coração e braços abertos às criações do trabalho, da elevação e do bem. Não esmoreça em sua preciosa edificação. Aqueles que ajustam os tijolos da experiência de cada dia, buscando o Alto, esbarram mais tarde com as portas do Céu. Esse pensamento sempre me confortou na caminhada para a frente.
Jesus conceda a você e à Maria vastos anos de abençoado serviço na Terra, estabelecendo novas linhas nos destinos que nos são comuns. Um coração que se eleva amealha recursos em favor de todos. Não nos falte, pois, a coragem de seguir valorosamente para adiante, na sementeira e na colheita constantes do serviço do amor, da fé viva e da alegria.
Que o Céu esteja diariamente com vocês na Terra, embelezando-lhes o caminho e os corações, é o voto do papai que os reúne dentro da própria alma num grande e carinhoso abraço.
Nota da organizadora: Rômulo aniversariava no dia 19 de dezembro.