24/01/1951
Meu caro Roberto, Deus nos abençoe a todos.
Hoje é para você, individualmente, que o vovô Arthur se volta com a expectativa confiante de sempre. E venho para dizer-lhe da continuidade da nossa assistência e do nosso carinho.
Eu sei que você deu quanto era possível na luta estudantil. Disciplinas, vigílias, regulamentos e programas eram alguma coisa a misturar-se com a própria respiração. E observo também a ansiedade natural do seu espírito juvenil à frente das dificuldades que surgem ante os seus propósitos de habilitar-se em posição digna, de imediato, no trabalho que corresponda à nobreza de suas aspirações.
Você se sente, no fundo, como alguém que houvesse corrido, exaustivamente, por vários anos a fio, encontrando em seguida a passagem cerrada, constrangido à inércia ou à expectação inoperante. Além da porta há o ruído agradável de quem trabalha, luta e vence, enquanto que você, ensaiando a tristeza imanifesta, é compelido à espera indeterminada. Creia, porém, que não é bem assim.
Você está apenas no término da luta com os livros didáticos e teóricos para empunhar os livros iluminados e práticos da experiência direta. Antes de tudo, cada dia, erga seu pensamento para o Alto e peça a Deus forças e recursos para a romagem nova. O presente é sempre uma série de estradas que, de alguma sorte, se confinam com o passado, estradas essas que necessitaremos trilhar com calma, serenidade, esforço e paciência.
Prosseguindo nessa operação silenciosa de reabastecimento espiritual, continue batendo, com senso de oportunidade e prudência, às portas da administração humana, transformando-se em oficial de ligação entre elas e o lar, a fim de que você mesmo saiba apreciar as situações, circunstâncias e casos, com as suas tendências e ideais. Não tema. Ninguém vive ou está sozinho na articulação do bem. Entre o período de formação cultural e a luta profissional, propriamente considerada, há um tempo singular, em que as energias dos pais e dos filhos devem estar conjugadas. Este é o momento que você atravessa para chegar vitorioso ao campo de trabalho, em que seu espírito se manifestará com a devida independência. Compreendo que você não pode, de pronto, resolver todos os enigmas, entretanto, guarde a certeza de que seguiremos ao seu lado. Ajuste-se por dentro com as leis que nos governam e nós equilibraremos as situações por fora. Não alimente, contudo, qualquer gênero de aflição. O assunto referente às suas ocupações definitivas demanda ainda algum tempo e discernimento. Indispensável pesar, confrontar e analisar situações, a fim de não precipitar-se.
No Rio, estude com serenidade ativa o problema. Considero também que, se possível, a decisão deve ser observada agora, enquanto outro período governamental não se abre à maneira de uma caixa de surpresas. De qualquer modo, porém, não se perturbe. Em qualquer clima político quem sabe fazer amigos encontra possibilidades de concretizar as melhores esperanças e as mais caras aspirações. O que não desejamos é ver você acabrunhado e inquieto, como se o trabalho realmente estivesse faltando ao seu orçamento espiritual. Coloque a sua mente e o seu sentimento no ideal que lhe orientará mais seguramente os passos no futuro. E pratique nas obras de cada dia, afeiçoando-se, cada vez mais, aos verbos “fazer” e “servir”, dois elementos preciosos para a nossa vitória real. Não digo a você “esteja descansado” mas sim “estejamos calmos”.
A situação será amparada e pedimos ao Senhor conceda a você uma saúde perfeita, com energias robustas e aspirações sempre mais altas no rumo das edificações que o seu ânimo de trabalhador se propõe concretizar. Sigamos à frente. Seus pais e eu permaneceremos ao seu lado, fortalecendo-lhe as fibras mais íntimas para a romagem feliz na Terra. Não se esqueça de unir os seus pensamentos aos nossos. A união é fator importante em quaisquer fins. E não ignoramos que a finalidade de nossa luta é manifestamente edificante, de vez que temos por objetivo o seu coração tranquilo e forte no porvir recompensado com a realização dos seus sonhos de rapaz. Entusiasmo e confiança, bom-ânimo e boa vontade, e não se esqueça de que nunca agimos a sós.
Minha visita afetuosa aos nossos bons amigos General Aurélio e irmã Júlia, para os quais continuo formulando os meus sinceros votos de permanência no campo. E reunindo-os a todos no meu devotamento habitual sou o vovô muito amigo de sempre,