06/06/1951
Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-nos a todos muita paz e bom-ânimo, dentro da luta purificadora de sempre.
Meu caro Rômulo, estou acompanhando o caso do nosso Roberto com o carinho habitual e junto de vocês observo os entraves que a nova administração central do país oferece a qualquer iniciativa de renovação. Creia você que no firmamento e, sinceramente, com mágoa registro a tormenta que se alastra em nossos céus, em nos referindo às atividades públicas.
O afastamento do nosso amigo do órgão central do serviço a que você empenha as melhores forças de sua saúde, pensamento, alma e coração foi providência extremamente ruinosa aos interesses fundamentais do nosso setor de trabalho comum. Reportamo-nos, claramente, ao nosso amigo Blanc de Freitas, de vez que estamos num lar cheio de tradições respeitáveis, de portas abertas a invasores de atribuições e serviços, que constituem verdadeira onda de insinuações e perturbações. Ele não pode ser culpado de deserção. É um companheiro excelente, que nos merece consideração, estima e respeito incessantes. Suportou o “fogo” da vanguarda até que os poderes direcionais lhe impuseram não a rendição, mas a desistência. O incêndio das paixões partidárias é devorador. Queima o que encontra e o nosso amigo de ideal e serviço não conseguiria opor-lhe resistência. Preferiu afastar-se antes que transigir. Não se conformando com o espírito de aventura, julgou mais acertado retrair-se. Essa indicação é importante para as nossas meditações dos dias que passam.
Felizmente, vamos cultivando o trigo legítimo da compreensão elevada e salutar. Não são os aspectos exteriores da luta que nos impressionam a esfera em que nos encontramos e sim os ângulos interiores da nossa responsabilidade, ação, conhecimento e entendimento. Dói-nos reparar tantos quadros lastimáveis nos trabalhos administrativos, pincelados pela leviandade, pelas ambições subalternas ou pela inconsciência manifesta a título de melhoria. É um mundo de alterações prejudiciais que só o tempo conseguirá inventariar. Nesse desdobramento de conflitos individuais e partidários, permaneçamos com a bênção da fé. Achamo-nos nos braços do Senhor, que nos sustenta acima do despenhadeiro. Que ele nos ampare e ilumine em nosso roteiro, que desejamos invariavelmente aberto na direção da frente.
Não tenho qualquer intenção segunda em grafando para você as notícias desta carta. Analiso a situação no posto do amigo vigilante. Certamente, o nosso Roberto não poderá identificar a rede ampla da luta, contudo, não podemos perdê-la de vista, na convicção de que o “orar e velar” representa mensagem permanente do Evangelho em favor do nosso bem-estar. Aguardemos.
A palavra do culto cristão de ontem é bastante expressiva para nós todos. Muito pedimos ao Alto, muito expomos ao Senhor no capítulo de nossas necessidades e problemas, entretanto, o Céu apenas solicita de nós outros o aperfeiçoamento. Aproveitemos os obstáculos e embates da senda por instrumentação redentora. A enxada fere a terra e o chão produz. O ferro perfura a rocha e a pedra revela a fonte cristalina. O martelo atormenta o mármore e a pedra fornece a obra-prima. Assim, os embates do mundo — a experiência — gera grandeza como a tempestade desenvolve o fortalecimento. Sem dor e sem trabalho, a alma do homem guardaria a secura do deserto. O sofrimento é a garantia do progresso — essa é a grande e divina verdade. Tomemos a nossa luta e avancemos para diante. Só a preguiça mental consegue enganar, aparentemente, as horas. E digo “aparentemente” porque as horas, mais tarde, lhe compelem ao movimento. Que Deus nos abençoe.
Consideramos interessantes as páginas trazidas de Belo Horizonte, em que o nome de nossa estimada Ottília é recordado. Wanda deve estar, naturalmente, satisfeita! Só um serviço modelo é capaz de sugerir novos serviços na mesma base. E de nosso lado aproveitamos qualquer elemento de boa vontade para tentar o empreendimento do intercâmbio. Nem todo o solo apresenta as mesmas características e daí a diferença do poder germinativo das sementes nas glebas variadas em que a superfície da Terra se subdivide. Quando o chão sabe aceitar o adubo necessário, o problema da produção não oferece óbice algum, mas se o solo é refratário ao auxílio, as planas iniciantes estiolam-se e morrem muito cedo. Esperemos que o tempo fale por nós. De nosso lado tudo se faz pelo bem de todos tanto quanto é possível em nosso círculo de ação, mas aí os nossos companheiros nem sempre aceitam tudo o que lhes diz respeito às necessidades e obrigações. Sentem-se menos felizes com o trabalho, menos aquinhoados pela fortuna das oportunidades terrestres e, sobretudo, mais feridos pelos golpes do caminho a ser percorrido com segurança e heroísmo e com alguns poucos meses de presença ao serviço comum entregam-se ao desânimo ou ao recuo. Graças a Deus, porém, não desejamos retroceder e sabendo que o futuro nos espera guardemos hoje tão somente um propósito: aprender, servir e avançar. Nessa trilogia temos, com segura fundamentação, o nosso programa ideal.
Tratem-se com os antigripais. A estação segue muito fria e é imperiosa a autodefesa. A saúde do corpo é um patrimônio sagrado. Formulo votos para que vocês todos estejam desfrutando muito equilíbrio orgânico, muito bom-ânimo, paz e alegria. E prosseguindo em companhia de vocês na mesma viagem de cada dia, em nosso esforço redentor e evolutivo, despede-se por hoje o papai e amigo de sempre, num grande, afetuoso e apertado abraço,