Colheita do Bem

Capítulo LX

Não se preocupem demasiado



04/10/1950


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, conferindo-lhes muita saúde, paz e alegria.

Estamos todos na companhia de vocês, que pugnaram pelo progresso, e acompanhamos a serenidade que, em substância, deve ser a nossa orientadora de cada dia.

, (Fp 4:6) embora a vigilância nos constitua sempre agradável dever. Nosso povo é muito jovem por enquanto e em reparando as surpresas de ordem política em nossa terra recordo a afirmativa bem inspirada do nosso grande e bom amigo João Pinheiro ao filho inquieto, declarando que o Brasil ainda é uma casa grande, povoada por imensa família, em cujas fileiras predominam por agora os jovens e as crianças. Realmente, assim é. Nesta hora significativa, observamos os “jovens” divididos, embora representem maioria digna, e as “crianças” do outro lado da situação adiando problemas de natureza comum, quais meninos caprichosos à procura de guloseimas e de realizações levianas e descabidas.

Não lastimamos a experiência. Lamentamos a ameaça de desordem sistematizada nas instituições públicas. Aqui, nesta “outra faixa do véu”, consideramos a revolução por índice de indisciplina através de dois tipos distintos — o da violência, que se manifesta pelas armas, e o da rebelião mental, que alcança milhares e milhões de pessoas, entravando-lhes o raciocínio e criando perigosas ilusões contra o trabalho proveitoso e contra o equilíbrio comum. Nesse segundo tipo se enquadram todos os movimentos que contrariam as leis naturais que nos regem, sendo imperioso salientar que nessa figuração se revela a rebelião mais ruinosa à vida de um povo, porque é de feição imanifesta e despistadora por difundir sombras mentais em todas as direções.

De qualquer modo, porém, é necessário conservar a calma pessoal nos melhores padrões de superioridade. As águas de alto nível beneficiam sempre, derramando-se por dosagem adequada, sem alterações, mantendo-se no mesmo plano de respeitabilidade e elevação, sempre que sustentadas na posição que a vida lhes assinala, mas quando essas águas esquecem as vantagens do dique e se precipitam para baixo, sempre absorvem de alguma sorte as correntes escuras e amargas do pântano. Saibamos contemplar essa movimentação pública de cima. Nisso não vai qualquer pretensão de superioridade, mas aviso amigo para que não percamos com os espinhos da estrada as energias que nos cabe reservar para as grandes tarefas.

Nossa luta sentimental é muito lógica. Por mais estejamos integrados com o espírito do nosso tempo, não enxergamos o Brasil com os olhos diferentes dos europeus, por mais que possa doer essa afirmativa ao brio de nossa época e de nosso berço novo. O que para nós é deplorável restrição à liberdade, indiferença aos interesses do povo, ausência de responsabilidade e menosprezo aos mais altos dons da vida, para milhões significa bem-estar, acomodação, vaidade satisfeita, desejo atendido.

Um índio e um homem moderno não guardam a mesma visão diante do mundo. Se há problema de distância que a ciência propriamente terrestre jamais poderá resolver a recursos de energia atômica ou etéricas, é o enigma da educação, através do qual cada alma e cada núcleo de almas se distanciam uns dos outros por milhões de anos-experiência ou de dias-esforço, sem os quais não há forças da Criação que possam burilar o espírito ou santificar-lhe os pensamentos e manifestações. Tenhamos muita serenidade e andemos arrimados ao bastão da paz.

Quando voltamos à Esfera espiritual, um século adquire a feição do dia rápido. Creiam que não falo para consolar. Expresso apenas uma grande verdade. À medida que crescemos no poder de execução, crescem as tarefas e com o crescimento do serviço o tempo esvai-se. Quatro séculos de jornada para a construção de uma pátria como a nossa constituem fração reduzida de horas. E em observando isso cabe-nos meditar na grandeza do esforço educativo das massas. É preciso que a instrução e o aprimoramento caminhem com intensidade e persistência, se quisermos, em menor tempo, colher os frutos da liberdade construtiva, através da sementeira do progresso bem adubada e convenientemente preparada nas urnas. Até lá a nossa posição é quase a dos desajustados, porque no fundo de nós mesmos supomos que os companheiros de luta humana já estejam de posse dos sentimentos e ideais que nos povoam o espírito, individualizados em mais longas experiências. Esperemos todas as renovações ou mudanças, alegrias ou dificuldades com o ânimo robusto do bom trabalhador.

Relativamente aos nossos problemas internos, felicito a vocês pela vitória que vão alcançando gradativamente. Não revelando muito aproveitamento de nosso intercâmbio e a situação, esclarecida como está, apresenta mais tranquilidade. Quando as posições estão bem expressas e definidas, o acordo é sempre fácil, porque o acordo, assim considerado, é equilíbrio e segurança.

Agradeço ao Rômulo o esforço despendido. Não é que estejam minhas palavras louvando qualquer atitude de máscara ou convencionalismo barato. É que devemos dar a cada pessoa o que lhe devemos, sempre que possível, de conformidade com as predileções da pessoa e não segundo os nossos princípios. Nesse sentido, o nosso trabalho é muito mais profícuo e muito menos comprometedor.

O tempo se encarrega sempre da verdade. De nossa parte, façamos o possível para ajudar com a harmonia. O tesouro da boa consciência não se empobrece de paz e já que a possuímos por felicidade é graça divina essa fortuna! Pratiquemos a prece, usemos os remédios para os outros seguindo as necessidades e avancemos para o mais além, com alegria e confiança. Mais tem a seara do Senhor para nos dar, em qualquer dia, que a necessidade do mundo para subtrair-nos, em qualquer ocasião. Guardemos esse conforto, certos de que o Céu possui leis orgânicas funcionando em todos os departamentos da Terra.

A Wanda poderá recolher-se logo depois dos trabalhos, porque vamos ajudá-la com antigripais magnéticos através de passes. Está um tanto resfriada e requer essa medida.

Deus conceda a todos vocês muita segurança de fé e ardente bom-ânimo. A escola é o que é e a lição é sempre aquela de que mais precisamos em nosso próprio benefício.

Reunindo-os no meu grande e carinhoso abraço de sempre, sou o papai muito saudoso e reconhecido,