O Batista estava no cárcere à mercê de Herodes, o tetrarca. Rumores confusos pairavam em torno do prometido Messias que já se achava na Terra. Alguns diziam: É ele em verdade o Cristo das profecias; outros, porém, afirmavam o contrário.
O Profeta dos desertos que o havia batizado nas águas do Jordão, e, nesse momento, ouvia a voz do Céu testificar sua origem divina, sabia perfeitamente que Jesus era o Cristo.
Prevendo, como profeta, o fim que lhe estava reservado, tratou de encaminhar seus discípulos para Aquele de quem não se julgava digno de atar as correias das sandálias.
Partiram os emissários em demanda do Filho de Deus; e, encontrando-o, disseramlhe tal como lhes fora recomendado.
E assim se deu a conhecer o enviado do Céu. Se tal característico distingue o Cristo, tal característico deve distinguir a sua Igreja. O Cristianismo, portanto, é a religião do amor objetivada na solidariedade humana.
É notório haver Jesus encartado no número das maravilhas da sua religião o anunciar-se o Evangelho aos pobres. Por tal devemos compreender, não as prédicas, as teorias anunciadas com mais ou menos habilidade dos púlpitos e das tribunas, mas o conceder-se aos humildes e bem-estar, as regalias e o conforto a que eles têm direito, abolindo-se os privilégios odiosos que vêm, através de todos os tempos, cavando abismos de separação entre as classes sociais.
Anunciar, pois, o Evangelho aos pobres significa assisti-los em suas necessidades morais e materiais, atendê-los em suas justas aspirações, contribuindo para melhorar a situação angustiosa em que eles, por vezes, se encontram: significa amá-los como a nós próprios, fazendo por eles o que queremos para nós mesmos, testemunhando assim a nossa solidariedade em atos de justiça e de misericórdia, conforme o exemplo de JesusCristo.
A religião do Filho de Deus é aquela que se levanta sobre as bases desta tríade bendita: Amor, Igualdade, Liberdade. Para ela o mundo caminha, embora assim não pareça: e bem-aventurados aqueles que nessa fé não encontram motivo de escândalo.
Julgamento macabro Assim se deve denominar o júri a que se reporta a seguinte notícia:
"Jerônimo Nailor, processado por crime de estelionato, está preso na Casa de Detenção, do Rio; e, achando-se gravemente doente, impossibilitado de se locomover pediu ao juiz, Dr. Vaz Pinto Coelho, que procedesse ao julgamento na própria detenção, no que foi atendido. “Anteontem, às 13 horas, na sombria enfermaria daquele presídio, deram entrada o juiz, Dr. Vaz Pinto Coelho, o procurador da República, Dr. Buarque Pinto Guimarães, o advogado Dr. Pinto Lima, e o escrivão Cunha Pinto.
$000 que pertencia ao Padre Giacomo Cocole.
"O procurador da República leu o libelo, fêz a acusação; o advogado da defesa, Dr.
Pinto Lima, defendeu o acusado, e pediu ao juiz a sua absolvição.
"Os espectadores dessa cena eram presidiários e doentes, que, de faces encovadas e de olhos fundos, mal se erguiam do leito, curiosos.
Eis como se demonstra a indefectibilidade da justiça humana. Julga-se um moribundo que estertora no catre de um calabouço, e abrem-se de par em par as portas palacianas para os biltres de toda a espécie, responsáveis pela ruína da sociedade.
$000 que deram lugar à prisão do culpado? Naturalmente é o produto de missas pelas almas do purgatório. Ora, como se ousa punir Jerônimo Nailor por crime de estelionato, quando o padre, queixoso, praticou também o estelionato, iludindo a boa fé de dezenas de incautos capazes de suporem que com dinheiro se obtêm passaportes para o Céu?