— Que palácio é aquele que se ergue na cidade das sete colinas e para onde se dirigem os altos dignitários de todo o mundo?
— É a sede do pontificado cristão.
— Quem é aquela personagem, que lá vejo assentado num trono, tendo na mão um cetro de ouro, cingindo uma tríplice coroa onde refulgem pedrarias custosas?
— É o vigário de Cristo, chama-se papa.
— Que simbolizam a coroa e o cetro?
— Poder, realeza, soberania.
— Não compreendo. Jesus disse a seus apóstolos: "Entre os gentios existem príncipes que os dominam, porém, entre vós não será assim. Aquele dentre vós que quiser ser o maior seja o menor; o que quiser fazer-se grande seja vosso servente;
assim como o Filho do homem, que não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. "O papa permanece constantemente em Roma?
— Sim, não se afasta da capital italiana e jamais ultrapassa o limiar do seu faustoso paço. Chamam-lhe, por isso, o prisioneiro do Vaticano.
Que fazem aqueles soldados equipados que vejo disseminados por entre todas as dependências do Vaticano?
— Eles constituem o que se chama: a guarda do papa. Têm por missão defender o sumo pontífice e as riquezas do Vaticano.
Donde provêm as riquezas do Vaticano? E como consegue o papa conservá-las, tendo ao mesmo tempo de atender às enormes despesas que deve fatalmente acarretar a vida luxuosa que ostenta?
— Vêm das várias fontes de renda, que a Santa Sé possui, cujo produto sobe a somas avultadíssimas. Esses rendimentos são fiscalizados pelos prepostos do papa, os quais, depois de retirarem a parte que lhes toca, canalizam o restante para Roma.
Denomina-se isso — óbolo de S. Pedro.
— Não compreendo. Jesus disse: “Dai de graça o que de graça recebestes.
Que significam aquelas chaves que o papa traz nas mãos?
— São as chaves do reino dos Céus, que Cristo prometera a S. Pedro.
— Não compreendo. As chaves a que Jesus aludira são um símbolo; representam a sua doutrina, o seu Evangelho, o qual ele mandou espalhar e difundir para a salvação de todos. Não só Pedro como os demais apóstolos receberam igual mandato.
E que relação tem o papa com Pedro?
— O papa diz que S. Pedro foi instituído chefe da igreja cristã, e que o papa é seu legítimo sucessor.
Porque se ajoelham os peregrinos diante do sólio pontifício e osculam os pés do papa?
— É uma reverência que rendem ao Santo Padre.
— Não compreendo. O Santo Padre diz-se sucessor de Pedro; e este confessou-se pecador. O papa diz-se vigário de Cristo, e este lavou os pés a seus discípulos. Não laborará o papa em erro com tal proceder?
— Não; ele é infalível, e quem é infalível nunca erra.
— Não compreendo. O papa é sucessor de Pedro, e Pedro, apesar da íntima convivência com seu Mestre, a quem amava e procurava obedecer, errou por várias vezes, chorou amargamente suas fraquezas, e arrependeu-se .
Dar-se-á então que o papa esteja em comunhão constante com o Espírito Santo, graças a cuja assistência permanente sua natureza humana se modifique, tornando-se isenta de falhas e paixões?
— Perfeitamente; é isso precisamente o que se dá.
— Não compreendo. Jesus quando disse a seus apóstolos: "recebei o Espírito Santo" e soprou sobre eles, desde logo os apóstolos se acharam sob poderes extranormais. Falavam línguas desconhecidas, saravam enfermidades, expeliam maus Espíritos, e até ressuscitavam mortos. Não me consta que tenha havido papa que efetuasse uma só daquelas maravilhas.
Que pretende o papa com toda essa organização que se denomina — Igreja?
— Manter e desenvolver o espírito cristão sobre a Terra.
— Não compreendo. Quer manter e desenvolver o espírito cristão, agindo em tudo e por tudo em completo antagonismo com os preceitos do Nazareno?
E com que fito procura o papa manter e desenvolver o espírito cristão entre os homens?
— Com o fim de prepará-los para a outra vida. Daí seus esforços e exemplificações, no sentido de os desviar das coisas mundanas, que fascinam as almas, impedindo-as de perceber as coisas espirituais.
— Não compreendo. O papa quer preparar os homens para o Céu, atraindo-as à Terra. Quer desviá-los das coisas mundanas, deslumbrando-os com os esplendores do seu trono; com a magnificência do seu docel; com o resplandecer da sua tiara; com o cintilar das suas sandálias; com o luzimento dos seus barretes de ouro; com sua capa pluvial recamada de pedras orientais; com seus mantos de asperges marchetados de rubis e safiras; com suas púrpuras, sedas, damascos, veludos escarlates e brocados.
Até quando se verá este contraste?
— Até a vinda do Anticristo.
— Não compreendo. O Anticristo está em ação, opondo-se à moral evangélica, contrariando clara e ostensivamente a doutrina do Cristo, e espera-se ainda por sua vinda?!. . .