"No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. "
(Evangelho.)
Verbo é a palavra dútil, maleável, que se dobra e desdobra sobre si mesma, assumindo uma série de modalidades como nenhum outro vocábulo é capaz de comportar. O Verbo é por isso a palavra por excelência, a palavra que enuncia a ação.
Quando Deus disse: Faça-se a luz — já a luz existia no seu pensamento eterno. O complemento que se segue àquela ordem do Verbo divino — e a luz foi feita — marca apenas o início da criação para a consciência humana.
Do seu pensamento infinito Deus tirou o Universo. A obra da criação é uma obra eterna, que se ostenta através de formas e aspectos inumeráveis.
O que se admira nas obras de Deus é o mesmo que se admira nas obras do homem: é a inteligência. Quando vemos um edifício majestoso, não nos maravilhamos da pedra, da caliça, da madeira, do ferro, ou de qualquer outro elemento que haja entrado na sua feitura. O que nos empolga é o arranjo, a combinação, o aproveitamento na harmonia do conjunto, na obediência aos preceitos e requisitos que regem a arte de edificar, produzindo estética, solidez, higiene e utilidade.
Quem tudo isso concebe é a inteligência. A inteligência é a faculdade mercê da qual o pensamento é orientado, dirigido e aproveitado.
O pensamento, inteligentemente acionado, põe e dispõe os materiais nas edificações.
De um edifício que se abate, dizemos: é um montão de ruínas. Porquê? Não está ali tudo de que o mesmo se compunha? Falta-lhe a magia da inteligência, o fruto do pensamento.
Outro tanto podemos dizer da música. O encanto da música, que extasia e arrebata, fazendo vibrar as cordas dos nossos mais íntimos sentimentos, não está nas sete notas; está na inteligência do artista que as coordena e harmoniza, nesta ou naquela gama, criando melodias, tonalidades e modulações que podem variar ao infinito.
'Ele vivem, e para Ele gravitam na eternidade do tempo e no ilimitado do espaço.
O pensamento é força. Não se concebe força sem substância, visto como é agindo sobre a substância, que a força se manifesta. Logo, o pensamento é alguma coisa no homem, é o tudo em Deus.
Antes que nossas obras se revelassem como tal, elas estavam em nossos pensamentos, faziam parte de nós mesmos.
Deus, antes de nos revelar como obra sua, tinha-nos com Ele, éramos seu pensamento, seu Verbo. Esse pensamento e esse Verbo tornou-se criação sua, feita à sua mesma imagem e semelhança.
João Evangelista, descrevendo a origem de Jesus Cristo, delineou a história da criação. Tomou naturalmente por modelo a Jesus, porque, de fato, Jesus é a única obra de Deus inteiramente acabada que o mundo conhece: é o Unigênito.
Jesus é o arquétipo da perfeição: é o plano divino já consumado. É o Verbo que serve de paradigma para a conjugação de todos os verbos.
Tal é o selo que o Eterno imprimiu em suas obras.
Não se compreende a criação sem um objetivo. Sede perfeitos é a lei inexorável da evolução, a que o Universo em peso está submetido. Da sua poderosa influência nada escapará: é o programa divino que se cumpre.