"Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha". . . "Seja o teu falar: sim, sim, não, não. "
(Evangelho.)
Entre a justiça e a iniquidade, o bem e o mal, a verdade e a impostura, não há meio termo, não há neutralidade possivel, tal é a lição que tiramos daquelas palavras do Mestre por excelência.
Infelizmente, poucos são aqueles que compreendem este ensinamento, e menor ainda é o número dos que o põem em prática.
O que se vê, na generalidade dos homens, é a atitude ambígua, indefinida e, por conseguinte, hipócrita.
Sempre que se trata de externar opinião sobre doutrinas e fatos que afetam a sociedade, o homem vacila em dizer o que pensa e o que sente a tal respeito, uma vez que ele diverge da doutrina predominante no seu meio, uma vez que tal fato se prenda a pessoa de destaque, de influência ou prestígio.
É esse o motivo por que o erro e a maldade deitam profundas raízes no ambiente em que vivemos. Ninguém os combate de viseira erguida, ninguém os alveja com certeiros e profícuos golpes. Faz-se crítica à surdina, em família, atendendo com cuidado ao rifão que diz: As paredes têm ouvidos.
Ou, então, usa-se, o que aliás é comum, condenar com os lábios e apoiar com os atos. O indivíduo profliga, condena, anatematiza, mas, no momento propício de desfechar o golpe, secundando a palavra com a ação, fraqueja, agindo em completo desacordo com as teorias que tão enfaticamente enunciara.
Semelhante modo de proceder acarreta enorme responsabilidade, cujas consequências desastrosas o homem, em sua cegueira espiritual, não mede nem avalia.
Aquele que tolera a iniquidade e a impostura sem protesto peremptório, seguido da respectiva reação, é, por isso mesmo, iníquo e impostor. O homem honesto tem obrigação de reagir contra todos os males que o afetam, a ele próprio e a seus semelhantes.
Para isso não se faz mister, como alguns erroneamente supõem, recorrer a processos violentos: basta que o homem tenha a coragem moral precisa para sustentar, em qualquer emergência, sua reprovação, sua repulsa manifesta pela palavra e principalmente pelo exemplo.
Não é no quartel nem nos pátios de ginástica, onde nos preparamos para exercer a honrosa atitude varonil: é no culto da religião verdadeira e pura; é no amanho da fé inteligente que ilumina; é, enfim, no Evangelho de Jesus Cristo onde encontraremos tudo que necessitamos para nossa educação moral, para a conquista da liberdade, para a aprendizagem do aperfeiçoamento, disciplinas essas que conjugam o único ideal compatível com as aspirações do homem racional, no bom e rigoroso sentido desse vocábulo.
Não há que tergiversar: ou somos por Jesus, sendo pela verdade e pela justiça, sem medir pseudo-prejuízos nem atender a bastardos interesses, ou somos contra ele, sendo pela iniquidade e peta mentira, na satisfação de nosso egoísmo.
Ou com Jesus, colaborando na sagrada obra da edificação do caráter; ou contra ele, na ignominiosa tarefa da dissolução dos costumes. Não há neutralidade admissível entre estes dois partidos.