Nas Pegadas do Mestre

CAPÍTULO 126

A vida verdadeira



"Em verdade, em verdade vos digo que o que ouve a minha palavra e acredita naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entra em juízo; pelo contrário, já passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. "


(Evangelho.)

Viver, tudo vive, na infinita criação. Vive o animal, vive a planta. A própria pedra vive. Os cristais refazem-se, atestando sua vitalidade. Mas nem toda a vida é a mesma.

A vida do minério é inferior à do vegetal; e a vida deste está aquém da do animal.

Dentro mesmo do reino animal, verifica-se uma série enorme de gradações, começando na monera, e culminando no homem, o mais complexo, elevado e perfeito dos animais.

No entanto, se o homem fecha o ciclo da evolução animal no cenário terreno, a vida prossegue seu curso em manifestações mais belas, mais imponentes: ela se ostenta em sua plenitude de força, de energia, de graça e de encanto, no espírito. 0 espírito tem vida em si próprio. É a vida mesma que, após haver-se constituído em individualidade inteligente, racional e consciente, liberta da libre da carne, ressurge da animalidade, por onde perpassou ensaiando seu voo.

Uma vez ressurgido, o espírito entra na posse e gozo da vida verdadeira que de si mesmo se irradia na plenitude de sua expansão.

O homem que desconhece por completo o que seja aquela espécie de vida, que ainda não anteviu seus vislumbres, embora longínquos, é um morto na expressão eloquente do Divino Mestre. Sua palavra e sua doutrina, em síntese, representam o meio mediante o qual se conquista a vida verdadeira. Pôr em prática a moral cristã, importa em passar gradativamente da morte para a vida.

Considerado como animal, o homem é perfeito, ocupa o vértice da escala; não obstante, é o menos feliz dentre todos. Basta considerar que ele é o único animal que pensa na morte, e dela tem prévia consciência. Mas ainda não é tudo. O homem alimenta aspirações que não podem ser satisfeitas dentro da esfera puramente material, enquanto que os animais têm tudo aquilo de que carecem, nos restritos limites da órbita que lhes é própria. O homem permanecerá, como animal, sempre insaciável, sempre sequioso, ao passo que os animais inferiores podem realizar plenamente todas as suas necessidades.

Isto sucede com o homem precisamente, porque nele se verifica o ponto de transição do animal para o espiritual.

As duas naturezas — inferior ou animal, e superior ou espiritual — entrechocam-se.

Aquilo que o homem não logra realizar no mundo da animalidade representa as aspirações da alma, as volições do espírito que se debate no ergástulo da carne como a crisálida que emprega seus primeiros esforços para romper o casulo que lhe embarga o voo.