Nas Pegadas do Mestre

CAPÍTULO 13

Pai! perdoa-lhes. . .



Quando o sangue do Redentor, exigido pelo interesse das classes parasitárias, borrifou a face de algozes postados ao pé da cruz, a alma do Eterno vibrou flamejante de cólera no seio do Infinito.

Então o Deus que expulsou Adão e Eva do Paraíso, privando-os das delícias do Éden por motivo de uma desobediência; o Deus que amaldiçoou o fratricida Caim, condenando-o à erraticidade; o Deus que mergulhou o mundo nas águas do dilúvio, exterminando a geração corrompida dos primeiros tempos; o Deus que mandou fogo abrasador sobre Sodoma e Gomorra, para punir a licenciosidade dos seus habitantes; o Deus que sepultou na voragem o exército do Faraó, quando perseguia Israel foragido; o Deus que arrasou os campos do Egito, enviando sete terríveis pragas para dobrar a cerviz daquela orgulhosa nação; o Deus que aniquilou as hordas dos filisteus, quando em luta com os filhos do povo eleito; o Deus que imprimiu direção à funda de David, abatendo o gigante Golias; o Deus que milagrosamente injetou novos vigores nos músculos flácidos de Sansão, para abater o templo gentio sobre os idolatras ali reunidos;

o Deus forte e zeloso, cognominado Senhor dos Exércitos, que punia os pecadores até à quinta geração com desusada severidade; o Deus cuja voz remedava o soturno ribombo do trovão, e cuja presença era precedida de relâmpagos e coriscos que incendiaram as sarças do Sinai; o Deus onipotente, terrível em suas vinditas, ao ver o sangue do seu Unigênito, alçou a destra, e ia ordenar ao anjo do extermínio que extinguisse para sempre a Humanidade perversa e má, assassina de seu filho, quando o olhar sereno de Jesus a Ele se alçou, partindo ao mesmo tempo dos seus augustos lábios já lívidos e trêmulos pela aproximação da morte, a seguinte súplica: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. "
O Pai quedou-se. A destra, então alçada, pendeu inerte; e, desde esse momento, a onipotência de Deus, que até ali se ostentara pela força, começou a manifestar-se pelo amor. [1]