Hilário Ribeiro, num dos seus admiráveis livrinhos didáticos, inseriu uma página eloquente cujo título é precisamente aquele que ora nos serve de epígrafe.
Trata-se duma gravura representando um menino, que, de cima duma mesa, diz à sua mãe: Veja como sou grande. A mãe então retruca: Meu filho, tu não és, mas apenas pareces grande, graças à altura desse móvel onde te achas: procura ser, e não parecer.
Esta lição, que o emérito educador destina às crianças, é de toda a atualidade, mesmo para os adultos.
Se observarmos atentamente o que se passa na sociedade, verificaremos que tudo se faz, não no sentido de ser, mas no de parecer.
Realmente, quando se trata de qualidades e virtudes, é muito mais fácil simulá-las que adquiri-las. O resultado, porém, é que não é o mesmo.
Daí o transformarem a Religião em acervos de dogmas abstrusos e numa série de determinadas cerimônias que se executam maquinalmente; a Eugenia, em arte dos arrebiques; o Civismo, em toques de caixa e de cometas, executados por indivíduos trajando uniformes; o Patriotismo, em discursos ocos e plataformas pejadas de falazes promessas, formuladas já com o propósito de se não cumprirem; a Política, finalmente, em processo de explorar o povo.
A Moral, considerada outrora por Sócrates como a ciência por excelência, consiste hoje em acompanhar passivamente a opinião da maioria dominante, com menosprezo, embora, dos mais comezinhos princípios do decoro e da decência.
E, sob tal critério, tudo se agita e se move no afã de aparentar, de simular e de parecer aquilo que devia ser, mas, em realidade, não é.