Nas Pegadas do Mestre

CAPÍTULO 24

Imperialismo e Cristianismo



Quem pretende conquistar o mundo, mostra com isso não se ter conquistado a si mesmo.

Quando Jesus disse — "Eu venci o mundo" — exprimiu este pensamento: O mundo não me fascina, não exerce sobre mim nenhuma influência, estou acima de suas tentações.

O ideal de domínio do mundo é a antítese do ideal cristão. O reino do Cristo não é deste mundo.

O imperialismo alemão, último vestígio dos imperialismos pagãos de outrora, ruiu com grande fragor, arrastando outros tantos povos que, igualmente, pretendiam possuir o mundo.

O sonho de poderio e de mando tem desvirtuado os sublimes ideais cristãos, toda a vez que o homem pretende empregá-los na expansão de suas desmedidas ambições.


Dizem os credos religiosos imbuídos de imperialismo: Ganhemos o mundo para Cristo. No entretanto, o Cristo não quer o mundo: quer a regeneração do pecador, quer os nossos corações escoimados de egoísmo, de orgulho e de cobiça. "As aves têm seus ninhos, as raposas têm seus covis, mas o Filho de Deus não tem onde reclinar a cabeça. "

Os que pretendem, pois, ganhar o mundo, querem-no para si, e não para o Cristo.

A Igreja tem sido o foco do imperialismo mundial. Ela tem fome e sede de domínio.

Semelhante veneno tem empeçonhado povos e nações, que a ela se encostam visando ao mesmo objeto.

O delírio da posse e do domínio incompatibiliza o homem com Deus e com a sua justiça. Todos os meios lhe parecem lícitos para atingir o alvo.

Jesus faz da renúncia o essencial para a admissão em seu apostolado.

Quem alimenta aspirações mundanas de qualquer natureza não pode ser seu discípulo.

O cristão aspira ao bem geral independentemente de estreitas simpatias.

O seu objetivo é servir, e não governar os homens. O império a que ele visa, é o império de si mesmo, submetendo-se à lei viva de Deus consoante os ditames de sua consciência. O domínio a que ele, igualmente, aspira é o domínio do seu espírito sobre sua matéria, de sua inteligência e vontade sobre os desejos e arrastamentos de sua natureza inferior. Não quer, em suma, conquistar senão a si próprio.