Bem diversa é a natureza do Amor comparada com a da Paixão.
A Paixão é violenta, apresentando comumente arroubos prodigiosos que a exaltam aos olhos do mundo: O Amor não tem desses arrebatamentos; é calmo, é sereno, é refletido.
A Paixão é fogo: lança labaredas, projetando clarões rubros, de duração mais ou menos efêmera. O Amor é luz: ilumina docemente.
A Paixão queima e destrói. O Amor aquece e vivifica.
A Paixão é cega, insensata, irracional. O Amor é inteligente, criterioso e lógico.
A Paixão é caprichosa: quando quer, insiste, obstina-se, visando aos fins sem curar dos meios. O Amor é benévolo, paciente, tímido: quando quer, pede, suplica, implora.
Tudo alcança pela doçura, pela persuasão, pela verdade.
A Paixão é altiva e arrogante. Exibe-se, ora por cálculo, ora desavisadamente. O Amor é modesto e humilde. Não alardeia, busca a obscuridade.
A Paixão é do momento, o Amor é de sempre. Aquela passa, este permanece.
A Paixão é egoísta: nem com o todo se satisfaz. O Amor é generoso: contenta-se com o pouco.
A Paixão irrita-se e desespera quando contrariada. O Amor, como disse Paulo, tudo suporta, tudo espera, tudo crê, tudo sofre.
A Paixão desconfia e gera o ciúme. O Amor confia, dele nasce a fé.
A Paixão é mesquinha: seu círculo de ação é limitado. O Amor é grandioso: sua esfera é um mar sem praias, é um céu sem horizontes.
A Paixão é sujeita a cansaços: gasta-se, envelhece e morre. O Amor não se consome nem se desgasta: é sempre jovem, vivo, imutável.
A Paixão, às vezes, degrada e avilta. O Amor eleva e enobrece em todos os casos.
A Paixão insinua. O Amor atrai. Aquela domina, este convence.
A Paixão pode conduzir o homem à loucura e ao crime. O Amor equilibra as faculdades, consolida o caráter, apura os sentimentos e torna o homem capaz dos mais belos sacrifícios.
Finalmente: a Paixão representa os vestígios de um passado obscuro donde provimos. O Amor reflete a influência de um futuro radiante para onde caminhamos. A Paixão é o crepúsculo de um ciclo que vai findar. O Amor é a aurora do dia da eternidade.