Aquilo que vemos não começou a ser tal como se nos apresenta na atualidade. Esta asserção é verdadeira, já considerada no plano da vida, já considerada no plano inanimado.
A imprensa moderna, com suas "Marinones" rotativas, em nada se parece com a de Gutenberg. Esta, ao lado daquela, é uma péssima caricatura. Outro tanto podemos dizer dos barcos a vapor, das locomotivas, dos veículos, das máquinas destinadas às indústrias e à lavoura e de todo o maquinismo em geral.
Esses maquinismos engenhosos, cuja perfeição acertadamente admiramos, representam o resultado de milhares de alterações e aperfeiçoamentos que se lhes foram introduzindo à medida que suas falhas e senões eram descobertos. E da primitiva imprensa não existe mais que a ideia. Assim sucede com o barco a vapor, de Fulton, que, comparado com os barcos modernos, não passa de uma jangada perigosa e disforme.
A ideia irrompe no cérebro de um: a obra perfeita é a resultante do concurso e da cooperação de muitos, através de gerações.
As ciências; as artes, em suas varias modalidades; a política; a religião e todas as demais manifestações da atividade e do pensamento humano, têm sofrido através de todos os tempos a influência benfazeja e incoercível da evolução.
Passando para o plano da vida, verificamos precisamente o mesmo fenômeno. A analogia é perfeita. Os animais da mesma família dissemelham-se no decorrer dos séculos. Há certas espécies consideradas como desaparecidas, tal a transformação nas mesmas operada. A Humanidade de hoje difere da Humanidade de outrora.
Todos os seres, da monera ao homem, representam estados de evolução. São obras inacabadas que vêm sofrendo modificações, que se vêm aperfeiçoando sob essas diferentes e múltiplas formas assumidas no incomensurável cenário da vida.
No princípio, isto é, antes da enunciação, tudo era o Verbo, e o Verbo está sempre com Deus. Só depois do maravilhoso fiat, a vida se manifesta através da forma. Uma vez iniciada na infinita escala dos seres, ela segue seu curso, evolvendo sempre, do infinitamente pequeno para o infinitamente grande. É assim que entre o verme e o homem, como entre o grão de pó e a estrela, existem afinidades.
A assência é tudo, a forma é nada. A morte desorganiza esta, mas é inócua àquela.
Transmigrando de forma em forma, a "essência" avança intimorata e impoponente, transpondo barreiras e vingando abismos.
A imprensa de Gutenberg, em sua forma primitiva, passou como passam as sombras; mas a ideia que deu aso, àquela obra rude e tosca, vive hoje nas "Marinones" e viverá amanhã sob outros moldes ainda mais aperfeiçoados.
Da mesma sorte, o homem de outrora vive no homem de hoje; e viverá eternamente nos tabernáculos eternos como anjo e como deus.
Deste asserto, consagrado já pela ciência oficial, decorrem dois postulados, que quais astros de primeira grandeza, refulgem na constelação da fé espírita: evolução e reencarnação.
A doutrina das existências sucessivas é um fato que se impõe. Sem ela, como explicar os fenômenos da evolução? Que é que evolve? A matéria? O barco de Fulton, abandonado a si mesmo, transformar-se-ia, acaso, nos transatlânticos hodiernos?
Assim como as ideias de Fulton e de Gutenberg transmigraram, levando consigo, de geração em geração, o resultado de melhoramentos acumulados, assim também o princípio imortal, que anima a matéria, transmigra, a seu turno, levando consigo, numa ascensão contínua pela senda da eternidade, os aperfeiçoamentos e progressos conquistados.
A reencarnação, postulado espírita, é a palingenesia de Pitágoras, é a ressurreição dos judeus expurgada de certos erros: negá-la é negar a evolução, é negar o senso da vida.