"O homem bom tira coisas boas do bom tesouro de seu coração; e o homem mau tira coisas más do mau tesouro de seu coração. "
(Evangelho.)
Coração, no caso vertente, não é o órgão que exerce as funções de uma bomba impelindo o sangue na irrigação geral do nosso corpo.
Trata-se da natureza dos pensamentos e dos sentimentos que nosso espírito irradia, isto é: do estado de nossa mente; das visões, das imagens que cria e desenvolve; do modo e da maneira com que ela discerne e ajuíza de tudo que vemos, de tudo que cai sob o domínio da nossa percepção.
Da boa ou má função da mente depende a boa ou má direção que tomamos no caminho da vida; o bom ou mau juízo que emitimos a propósito de todas as coisas; os bons ou os maus atos que praticamos.
Os nossos destinos estão na dependência direta da nossa mente: serão fatalmente o que ela determinar que sejam. O primeiro passo, portanto, a dar, na obra de nossa salvação, deve constar do estudo meticuloso da nossa mente. Que espécie de pensamentos engendramos? Que gênero de visões e de imagens nossa mente se compraz em acalentar? Como costumamos julgar os atos dos nossos semelhantes? Que juízo fazemos de Deus e de sua justiça, do amor e do dever? Que é que de preferência nos afeta mais profundamente? Em suma, qual o nosso ideal?
Tal é, em resumo, o problema da vida. Nada conseguiremos no sentido de nossa melhoria e de nosso progresso, sob qualquer aspecto, enquanto não prestarmos acurada atenção às condições de nossa mente. Não há verá reforma possivel em nosso caráter, sem que pre viamente se tenha verificado uma mudança em nossa mente.
A doutrina de Paulo é, portanto, a reprodução da de Jesus. Paulo empregou a palavra mente, e Jesus usou o termo coração.
A fonte de todo o bem é por sua vez a fonte de todo o mal. É do coração ou da mente que procedem os pensamentos pecaminosos, o orgulho, o ódio, a inveja, o ciúme, as contendas, o dolo, a corrupção, a avareza. Da mesma sorte, é do coração, é da mente que afloram os ideais puros e elevados, a palavra convincente e sincera, a virtude enfim sob os vários aspectos em que ela se desdobra.
A obra de nossa redenção depende, em síntese, da reforma de nossos corações, ou, na palavra de Paulo, da renovação da nossa mente. Devemos, pois, cultivá-la, extirpando dela todas as formas de egoísmo, para dar lugar à frutificação das múltiplas modalidades do amor. Tudo o mais que se pretenda fazer, fora desse trabalho de autoeducação da mente, não passa de um erro religioso, e de uma superstição.