"Não vos deixarei órfãos: eu voltarei a vós. "
(Evangelho.)
A orfandade caracteriza-se pela privação de assistência, pela ausência de todo o interesse, em suma, pelo abandono em que a criança se encontre, e não propriamente pela perda dos pais. Existem órfãos cujos pais vivem ainda, e há crianças que jamais passaram pelo duro transe da orfandade, a despeito de não haverem conhecido seus pais.
A promessa de Jesus, acima transcrita, tem-se cumprido fielmente. Ele jamais deixou de assistir seus discípulos através de todos os tempos. O evento do Espiritismo é uma prova eloquente da assistência do Senhor junto dos que procuram seguir-lhe as pegadas.
Só a ausência do amor determina a orfandade; e, ao mesmo tempo, só a presença do amor a pode extinguir. A orfandade está para o amor como as trevas estão para a luz: um elemento é incompatível com o outro, não podem subsistir ambos ao mesmo tempo.
Ser mãe não é gerar filhos. Ser mãe é amar a infância. Mãe é uma expressão que significa carinho, dedicação, desvelo, sacrifício. Para que a criança não se encontre órfã não basta que ela tenha ao seu lado a mulher que a gerou: é preciso que essa mulher seja sua mãe.
Pai, a seu turno, quer dizer previdência e providência. Além de longâmine e misericordioso, ele prevê e prove o bem da mocidade.
Na Terra existe a orfandade, no que respeita às crianças abandonadas, porque os homens vivem divorciados da moral evangélica, completamente alheios aos ensinos e às exemplificações do Mestre Divino. A orfandade atesta a ausência de Cristianismo nos corações e nos lares. Só os lares cristianizados resolverão o problema orfanológico.
Os asilos e orfanatos jamais extinguirão a orfandade, antes contribuirão para perpetuá-la. A criança asilada, continua órfã. O estabelecimento que a acolhe, sua peculiar organização e disposição, os regulamentos, o meio, o modus vivendi, tudo ali contribuirá para que a criança tenha sempre em mente sua condição de órfã. O reverso se dará se ela for adotada por um lar cristão. A vida familiar, o convívio íntimo com seus pais adotivos, e, sobretudo, a posição de filha que lhe é outorgada, depressa varrerá de sua imaginação a ideia de orfandade, porque, de fato, esse estigma terá desaparecido ao doce e suave bafejo do amor.
Asilos, como cárceres, são males necessários; atendem a uma necessidade transitória, se bem que indispensável no momento, atestando, não a caridade como erroneamente se imagina, mas a dureza de coração dos filhos deste século.
Nunca se viu pássaro sem ninho, nem fera sem covil. Só na sociedade dos homens se vêem seus próprios filhos desabrigados, expostos aos rigores das intempéries, e a toda a sorte de influências malsãs.
Voltemos nossas vistas para nossos lares. O lar é tudo: é a verdadeira escola, é o verdadeiro templo. Cristianizemos os lares: de tal depende o problema da orfandade, da miséria, da enfermidade, do vício, do crime e de todos os flagelos da Humanidade.