Assim termina Jesus o Sermão Profético: "Quando vier o Filho do homem em glória e poder, acompanhado dos santos anjos, julgará todas as nações. Separará os justos dos iníquos como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À direita ficarão os escolhidos; à esquerda os rejeitados. Aos primeiros, direi: Vinde a mim, benditos de meu Pai, possuí como herança o reino que vos está destinado desde a fundação do mundo. Pois me achei faminto, sedento, nu, peregrino, enfermo e encarcerado, e vós me assististes. Mas quando te vimos em tais condições e te prestámos apoio? objetarão eles. Retrucarei, então: Em verdade vos digo que todas as vezes que assististes os pequeninos da Terra, foi a mim mesmo que o fizestes.
"Voltando-me à sinistra, prosseguirei: Apartai-vos de mim, réprobos para o fogo eterno, aparelhado para o diabo e seus anjos, porque me vi faminto, sedento, nu, peregrino, enfermo e encarcerado e jamais me valestes. Nunca, Senhor, te vimos sob tais necessidades, e te abandonámos, dirão eles.
O planeta que habitamos, como o corpo onde se acha enclausurado nosso espírito, terá um fim. Os elementos de que se compõe se desagregarão um dia, como sói acontecer à nossa matéria após a morte. Eis, então, o momento da separação. Os que se acharem aptos, acudirão ao "vinde a mim" —, seguindo com o Mestre para novas Terras onde habita a justiça segundo o dizer de São Pedro. Os reprovados apartar-se-ão do Cristo, buscando mundos inferiores, compatíveis com suas tendências e paixões, onde os espera o fogo eterno das provações, aparelhado para vencer caracteres rebeldes e obstinados no mal, até que se habilitem, como filhos de Deus, à herança paterna que para todos está destinada desde o início dos tempos.
Como se vê, a grande dificuldade está em vencermos o nosso egoísmo. Ele é a causa da nossa perdição. Para o vencer, precisamos de cultivar o amor. O amor, que é a caridade compreendida em sua íntima essência, representa a escada de Jacob que nos há-de conduzir aos páramos celestiais.
Jesus nada pede para si; não quer catedrais suntuosas, nem hosanas, nem homenagens, nem vanilóquios. Ele tem em si mesmo a glória e o poder. De nós, da Terra, nada precisa, nada deseja. Quer, apenas, que nos amemos uns aos outros, vivendo como irmãos, sendo solidários com aqueles que ao nosso lado lutam e sofrem.
Tão-pouco lhe importarão as minudências de nossa fé, as particularidades de nosso credo; um quesito unicamente ele formulará, dependendo de sua resposta, negativa ou afirmativa, nossa ventura ou nossa desdita. Esse quesito é o quesito do amor. Como vivemos? sob o império do egoísmo, ou sob o influxo do amor? Se o egoísmo nos domina, nossas obras serão fatalmente más, porque ele é a origem de todos os males.
Se reina o amor em nossos corações, nossas obras serão naturalmente boas, porque o amor é a fonte de todo o bem. Não há, pois, necessidade de referências particulares e minúcias. Não nos iludamos: "Fora da caridade não há salvação" — tal é o lema do Consolador, encarregado de rememorar o que outrora ensinou o Filho de Deus.