Nas Pegadas do Mestre

CAPÍTULO 91

Não temais



"A Igreja espera que compreendamos as horríveis cenas da paixão e que então, rompendo os laços do pecado, nos consagremos a expiá-los na santa quaresma. Ela sabe que duros são os corações e que só o medo os pode transformar. Revivendo a paixão do Salvador, compreendemos que terrível coisa é cair entre as mãos do Deus vivo. "


(De O Jornal, do Rio) — (Secção religiosa, do Catolicismo Romano.) A frase que nos serve de epígrafe é constantemente repetida nas Escrituras, quer no Velho, quer no Novo Testamento.


Quando os profetas (médiuns) viam algum espírito ou se sentiam impressionados pela sua influência, mostravam-se, quase sempre, profundamente emocionados. As primeiras palavras que do Além lhe dirigiam, invariavelmente, eram estas: "Não temais. "

Jesus, o incomparável Mestre, foi pródigo dessa expressão. Inúmeras vezes seus discípulos receberam dele aquela alentadora admoestação. Seu alvo, como exímio educador, era levantar o moral dos seus discípulos, preparando-os para as lutas da vida, quer se tratasse das lutas íntimas, quer se tratasse das lutas travadas com elementos externos.

"No mundo tereis tribulações", predizia ele; "mas, tende bom ânimo, eu venci o mundo", acrescentava com ênfase.


Quando, na barca, os discípulos, apavorados com o temporal que ameaçava aquela frágil embarcação, foram acordá-lo, pedindo socorro, ele retruca de pronto: "Por que temeis, homens de pouca fé?"

Temer é duvidar, dúvida é não ter fé.

Ide, disse ele aos seus escolhidos: "Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos.

Contudo, não temais; os cabelos de vossa cabeça estão contados. " Jesus não procurava atemorizar. Os processos terroristas não faziam parte de seu programa. Vinha salvar pelo amor.

Pelo terror nenhuma alma se salvará. Salvar é educar. Educar é desenvolver os poderes do espírito aplicando-os na conquista de estados cada vez mais elevados. Salvar é subir, é gravitar de um céu para outro céu, numa ascensão contínua e intérmina. Tal obra não se realiza por efeito do medo. Ela requer coragem, valor, abnegação.

Os falsos educadores agem pelo terror. Carecem dos meios e dos recursos peculiares à boa pedagogia; não convencem, por isso amedrontam. Querem conduzir os homens tangendo-os como fazem os pastores com suas manadas. Esquecem-se de que os seres livres não marcham para a conquista de seus destinos, tangidos, mas sim atraídos. A atração é exercida pela frente. Os educadores precisam ser maiores e melhores que seus educandos, visto como hão-de atraí-los, e não empurrá-los.

O educador (salvador) deve ser admirado pelos seus discípulos: nunca temido.

Jesus era amado e venerado pelos apóstolos. Todos eles se sacrificaram, com prazer, pela causa encarnada em seu mestre querido. Se eles fossem doutrinados pelos processos terroristas, baqueariam diante das primeiras perseguições. Seriam covardes como todos os que agem pela influência do medo.

Só vemos Jesus usar expressões veementes quando se dirigiu aos hipócritas, aos sacerdotes, aos escribas e às autoridades venais que escorchavam o povo. Nunca, porém, vemos o sublime Mestre abatendo o ânimo dos pecadores. Jamais o encontramos, em todos os episódios que com ele se deram, em atitude de quem ameaça visando a entibiar a coragem das massas populares.

Antes de Jesus passar pela Terra, Deus era a Força; depois de sua passagem, João, o discípulo amado, interpretando a doutrina de seu Mestre, dizia: Deus é Amor.


A Igreja ignora tudo isto. Ela continua pregando o terror, disseminando ameaças em linguagem apocalíptica, a fim de deprimir os ânimos. A Nova Revelação, opondo embargos às suas arremetidas, repete com as Escrituras e com o Redentor do mundo: —

NAO TEMAIS!