É do teor seguinte um telegrama de Londres inserto nos jornais, na época da confragração:
"Noticias procedentes de Colônia, via Holanda, dizem que, em virtude de um pedido do papa, transmitido por intermédio do cardeal von Hartmann, o Kaiser ordenou quenão fossem mais retirados os sinos das Igrejas da Bélgica. "
Ora aí está para que serve a grande e tão apregoada autoridade moral do Santo Padre: conseguir de S. M. Guilherme II que os sinos das igrejas belgas não sejam retirados de suas respectivas torres. Já é ter prestígio, não há dúvida!
Enquanto o sangue de milhares de vítimas ensopa o solo há quatro longos e penosos anos, numa campanha sem precedentes na história da Humanidade; enquanto a chacina campeia infrene, multiplicando assombrosamente o número de mortos, órfãos, viúvas e mutilados; enquanto o mundo inteiro se convulsiona no paroxismo da dor, e se contorce nos estertores de todas as agonias, o Santo Padre, que tudo pode, graças à sua infalibilidade e onipotência, consegue que os sinos das igrejas belgas permaneçam em suas respectivas torres! Que atitude máscula, que ato heroico, que medida estupenda, tão profícua, e sobretudo tão adequada à proporção dos males que infelicitam a Humanidade, nesta hora trágica que o mundo atravessa!
Que outro passo poderia dar aquele a cujos pés as nações se curvam submissa?
Impedir o bombardeio de cidades abertas e indefesas, onde as vítimas são em sua maior parte mulheres e crianças? Sustar as hostilidades? Nada disso representaria o valor nem teria a importância do que ele acaba de conseguir com o Kaiser: a segurança e a estabilidade dos sinos!
Isto é o que se chama – na linguagem eloquente do Evangelho – coar o mosquito e engolir o camelo.