Você quer saber de nós, Meu prezado João Messina, Como se anota no Além A questão da disciplina. Tema difícil — meu caro — Pois disciplina é dever, Mas isso, enquanto entre os homens, Não é fácil de saber. Veja conosco: na Terra, Sem que a verdade se torça, O corpo já lembra em si Uma camisa de força. O mundo é um quadro formoso: Mar e céu, fonte e verdura, Pomares, roças, jardins, No tempo em rota segura… Mas, por dentro, em cada canto, Se o trabalho nos consola, Embora a luz que nos cerca, O mundo parece escola. Se vivermos descuidados, Deixando as horas em vão, Surgem testes retardados E lutas de revisão. A prova que se recusa É caminho a desamparo, Ensinamento esquecido, Mais à frente custa caro. As casas lembram colégios De planos renovadores, Os habitantes recordam Alunos e professores. Todo aquele que se esquece Do que lhe cabe fazer, Descamba no prejuízo, Tem sempre muito a perder. Lembre Antonico do Prado Na Fazenda Couro d’Anta: Morreu sem necessidade Com dois bifes na garganta. Comia sem disciplina, Nosso bravo Altamirão, Desencarnou num jantar, Com pesada congestão. Renegando o tratamento Depois de uma cirurgia, Finou-se Joana, comendo Meio pote de ambrosia. Almoçando esfomeada, Lá se foi Nhá Castorinha, Depois de engolir sem pausa Nove latas de sardinha. Abusando de chá quente, Calinério de Alcobaça, De xaropes contra a gripe, Mudou-se para a cachaça. João bebeu pinga com mel Quando enfermo na Restinga, Já melhor, largou do mel Mas nunca largou da pinga. Você recorda a penúria Do Silorico Machado, Vivendo sem disciplina, Faleceu desempregado. Para tratar de enxaquecas Medicava-se Enfrozina, Desrespeitando os remédios, Arrasou-se em cocaína. Gastava como ninguém, Nosso rico Adão Mazola, Desprezando a disciplina, Faleceu pedindo esmola. Por bagatela de rua Irritava-se Elesbão; De tanto se enraivecer, Morreu de uma obsessão. Lembre, nos quadros da Terra Que recordamos a dois: Onde surge a indisciplina, Tribulação vem depois… Não creia que a morte mude Esse caminho ilusório, No Além quem não se respeita É gente de purgatório. Discipline, caro amigo, Seu tempo, corpo e função… Quanto mais ordem na vida, Mais vida de elevação. |