Escuta, alma querida, Se a provação te alcança E te amarfanha a vida, Não te dês à revolta Nem percas a esperança. Embora tolerando luta permanente, Seja ela qual for, Segue o dever que se desdobre à frente, Sem maldizer a própria dor. Deus modifica o sofrimento aceito, Em grandeza, progresso, alegria, proveito… Na Terra, em tudo aquilo que admiras, Do chão que cria a erva ao céu que infunde a paz, A qualquer tempo, em tudo encontrarás, Semelhante lição na estrada em que respiras… No solo retalhado a golpes de tratores, O campo se converte em toucado de flores. A semente largada à cova estranha e escura Renasce do abandono, em beleza e verdura. A árvore na poda, humilhada e desfeita, Acrescenta a abastança e a força da colheita. Da rocha perfurada a fonte se descerra, Espalhando conforto e enriquecendo a terra. Posto ao calor gigante, em supremo embaraço, O minério dá forma às estruturas de aço. Madeira que o serrote alinha, morde e apara Faz-se na construção a peça nobre e rara. Pérola de alto preço em brilho evanescente É riqueza a surgir de uma ostra doente. O pão que, em todo o mundo, é divino legado É um presente do Céu no trigo massacrado. Água que se sujeita aos preceitos da usina Gera auxílio e poder, revigora e ilumina. Assim também, alma querida e boa, Ante a luz do trabalho, dia a dia, Na lei da evolução para crentes e ateus, A presença da dor que nos fere e avalia É socorro da vida e proteção de Deus. |